Seria tolo não reconhecer que isso poderia causar algum problema em nossas vidas.
— "Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor."(1)
Mas, mais tolo da minha parte pensar que meus pais poderiam me repreender por isso.
— "Nós amamos porque ele nos amou primeiro. Se alguém afirmar: "Eu amo a Deus", mas odiar seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê."(2)
Não foi tão difícil quanto imaginei. Na verdade, o que complica tudo é o medo. Você teme tanto que acaba esquecendo de ser racional e só vê o lado ruim das coisas. Se meus pais não desconfiassem de nada, não tinham agido do jeito que agiram, assim como André falou.
Mas, quem eu mais temia mesmo era minha mãe. Dona Maria é uma figura ativa da nossa paróquia. Todo domingo de manhã temos que ir à missa com ela, sem contar que ela dedica boa parte do seu tempo livre nos cuidados da igreja. Além disso, ainda organiza a leitura da Bíblia às quartas-feiras.
Hoje ela fez questão que a leitura fosse em casa, e ainda pediu para que, se eu pudesse vir mais cedo, ela agradeceria.
"Pai, mãe, eu tenho uma coisa pra dizer pra vocês." A feição deles é como se já soubessem o que queria falar no dia.
"Estou gostando de alguém." Meu pai ficou ao meu lado, já minha mãe pegou um copo d'água e se sentou.
"E quem é essa pessoa, minha filha?". Ele segurou minha mão, ainda com seu sorriso acolhedor. Foi nessa hora que tremi.
"Da minha amiga."
Minha mãe não teve expressão, já meu pai só consentiu com a cabeça.
"Você gosta de meninas, então?"
"Sim."
Ele só deu um sorriso de canto e voltou a concordar. Minha mãe tomou sua água e respirou fundo. André ficou encostado na parede de braços cruzados.
O silêncio dela me incomodava. Já meu pai parecia digerir o que foi dito, mas não como um choque, e sim como se pensasse no que dizer. Os minutos que se passaram me torturavam de dentro pra fora. Queria que falassem qualquer coisa, mas ninguém falava nada.
Até que meu pai segurou meu ombro, concordando com a cabeça.
"Tudo bem, eu já imaginava."
E me abraçou. Ele parecia saber exatamente o que fazer, e não era com palavras, e sim com ações. Só com esse gesto dele sabia que estava tudo bem.
Mas minha mãe saiu para o quarto sem dizer nada. André falou para que eu não me preocupasse, que ela ia ficar bem. Só me confortei mesmo quando meu pai falou o mesmo.
Na segunda, ela continuava sem falar nada. Não parecia estar com raiva, mas seu semblante era confuso. Não falei mais nada também. A situação ainda parecia irreal demais para mim.
Fui para a entrevista e ficaram de me dar uma resposta em breve. Não tinha caído a ficha que tinha dito isso para eles, mas também não comentei nada com Hǎi yún. Ela perguntou como estava, e só disse que estava bem.
Não estava mal, só estava tão confusa quanto antes. Falar te exime daquele peso, mas no lado de fora as coisas continuam iguais.
Ontem quando cheguei mais tarde em casa por causa da chuva, meu prato estava separado em cima da mesa. Quando destampei, era macarronada. É meu prato preferido, e dei um sorriso comigo mesmo.
Tinha fatia de bolo de chocolate na geladeira. Isso era alguma coisa. Quando Hǎi yún perguntou se estava bem, disse que sim, mas agora com mais certeza que antes.
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Retas paralelas se encontram no infinito?
RomanceEm um cursinho pré-vestibular, o acaso faz com que duas garotas se encontrem. Amanda é gentil, dedicada e otimista. Hǎi yún é antissocial, desinteressada e pessimista. Amanda é quente como um raio de sol. Hǎi yún é fria como um dia de chuva. O que p...