Pensa em mim como penso em você?

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N.A: Sem spoilers, mas esse capítulo tem muito sentimento envolvido ❤



- O que te traz até aqui, minha filha? No que posso te ajudar?

- Ando com a cabeça cheia, padre - digo olhando pela fresta do confessionário.

- E o que angustia seu coração?

- Acho que... Tenho sentimentos por alguém próximo.

Sentimentos bem confusos, pra falar a verdade.

- Não sei bem o que fazer com isso.

- E por quê ter sentimentos seria um problema, Amanda?

- Eu tenho outras prioridades na minha vida- engulo em seco - Preciso focar nelas, mas...

É difícil quando se gosta de sua amiga e fica pensando no que ela disse.

"Também gosto de você."

- E o amor não se inclui nelas?

Fico em silêncio.

- Seus pais não são a favor, filha?

- Não sei, é... É a primeira vez que estou falando sobre isso - volto a olhar de relance para ele , apreensiva - mas, talvez não, provavelmente não.

- Você não se sente bem com isso?

Concordo que sim, e ele murmura consigo como se entendesse.

- Então, o que há de errado?

Muita coisa.

- "O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor..." - ouço a voz dele soar como um sussurro - O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.*

Tenho vontade de chorar. Abaixo a cabeça e suspiro baixo, e ele percebe.

- Diga o que passa no seu peito, filha. Esse é o seu lugar.

- Estou cansada, padre - respondo pressionando os lábios com força - desde que o papai adoeceu, a gente tem se desdobrado pra dar conta de tudo, e o trabalho, e estudo... Não sei se... Sinceramente, não sei.

- Mas não é o amor ao próximo que nos guia, nos mantém aqui?

- É... complicado, padre.

Mais do que gostaria de admitir.

- Às vezes somos nós que complicamos as coisas com nossos medos, sabia, filha? - assinto que sim - E não é esse momento que temos que nos voltar ao Senhor e conversar com ele? Ver a resposta que tem em nosso coração?

Ele tem razão.

- Está se sentindo melhor, filha?

Assinto que sim, mas só por concordar. Minha cabeça já está em outro lugar. Levanto e agradeço.

- Vá em paz, minha filha. Que Deus te abençoe.

Como é que se vive assim, com esse sentimento enclausurado no meu peito, sem ter a quem falar do que sinto, como me sinto? Por que continuo a me enganar, mentir para mim mesmo e fingir que não tem nada acontecendo enquanto me sufoco?

Preciso ser sincera comigo mesmo.

É fácil não ter namorado porque, quando não te interessa, não faz falta. É muito mais simples ignorar as cosias quando não te causam nada.

Retas paralelas se encontram no infinito?Onde histórias criam vida. Descubra agora