Cicatrizes internas

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Estendo a mão para ela, mas recua no mesmo instante.

- Não foi nada demais.

- Tem certeza? - pergunto mais uma vez, tentando me aproximar, mas ela recua segurando o braço, dizendo que não é nada. Cerro os olhos, pouco convencida.

Escuto o grito do meu pai de fundo, comemorando ter ganho alguma coisa no bingo que não prestei atenção do que se tratava. A banda começa a tocar em seguida.

Olho para o relógio. Já são mais de dez horas.

- Você não quer dormir aqui hoje? Já tá meio tarde...

Esse é um motivo, mas o maior é que quero passar mais tempo com ela mesmo. Fazia dias que não nos víamos, e sinto que temos muito o que falar sobre qualquer coisa. Ou talvez eu só queira mais um pouco da sua companhia.

- É... - ela passa a mão devagar no pescoço - Dormir?

- Se não for problema pra você, claro.

- Não vou estar incomodando? - suas bochechas já estão vermelhas.

- Não, claro que não. Por que estaria?

Ela dá com os ombros, como se dissesse "sei lá."

- Você já quer ir? Tem que falar com seus pais, né? Pode ligar lá de casa.

- Não quer ficar pra ver o pessoal tocando? - ela aponta pra trás de nós. Balanço com a cabeça que não.

- Ah, já passei os últimos dias vendo o ensaio deles. Você quer?

- Não, se não for pedir muito... Podemos ir pra sua casa?

Gesticulo para que ela me siga. Destranco o portão e subimos as escadas até chegar na outra porta gradeada.

- Por favor, não repare a bagunça - digo assim que fecho a porta.

- Não está bagunçado - ela logo tira os tênis.

- O telefone fica ali, perto da televisão - aponto para o armário onde, mas ela fala que não precisa, puxando seu telefone do cós da sua calça, preso no suporte.

Tinha esquecido que ela tem um desses. Acho que ela só queria sair de perto da multidão um pouco.

Vou para o quarto tirar alguns lençóis limpos, e ouço ela falando com a mãe por um breve momento.Depois, ela vai até meu quarto, e olha surpresa ao redor, até parar os olhos no que tem próximo da cama.

- Não acredito que guardou esse desenho... - ela caminha até lá, e o toca com a ponta dos dedos.

- Por que não guardaria? - digo pegando um travesseiro - Eu gostei, de verdade.

- Ele nem ficou tão bom... - ela se senta na cama, puxando o desenho para analisar melhor - Posso fazer outro melhor.

- Eu gosto desse - sorrio e me volto pra ela. Suas bochechas ainda estão brevemente vermelhas.

- É...Amanda, eu durmo onde? No sofá?

- Ah, não - nego enquanto vou pra sala - você fica na minha cama, eu durmo aqui.

- Não, claro que não - Hǎi yún caminha até mim - não vou te tirar do teu quarto pra dormir pra cá.

- Não é um problema pra mim.

Volto para o meu quarto, e disponho de uma muda de roupa, colocando na cama.

- É minha convidada - digo sorrindo.

Por que ela está me olhando assim? De um jeito tão...

Balanço a cabeça, olhando para o lado.

- Ou você quer que eu durma contigo? - aponto pro quarto - Posso trazer o colchão aqui pra sala.

Retas paralelas se encontram no infinito?Onde histórias criam vida. Descubra agora