Sábado, oito em ponto

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Perguntei para Hǎi yún se iria ao simulado. Ela respondeu que sim, mesmo sem saber o que vai cair. Acaba chegando poucos minutos antes de começar a prova e é uma das primeiras a acabar. Já eu acabo demorando um pouco mais.

Quando saio, a vejo me esperando no refeitório. Cara fechada, de fones, toco seu ombro para que ela perceba que cheguei.

— E aí, como foi?

— Um completo desastre - ela diz deixando o ar sair pelos lábios, me olhando de relance - e você?

— Deu pra fazer alguma coisa - apoio minhas mãos na cadeira - já vai pra casa?

— Quero ir no centro atrás de uns CDs - Hǎi yún se levanta, pegando a mochila - tá a fim de ir?

Olho para o relógio. Ainda está cedo, então respondo que sim. Assim que chegamos na loja, ela vai direto na seção dos lançamentos. Já eu só me presto a olhar um e outro, prestando atenção nas mais diferentes. Depois que escolhe uns três CDs diferentes, ela pergunta se não quero passar um tempo com ela na praça ali próximo.

Escolhemos um banco no lugar com mais sombra, e assim que nos sentamos, ela pega o bloco de desenhos da mochila e a caneta, me olhando de relance.

— Fica parada assim, Amanda - ela começa a rabiscar no papel - vou te desenhar.

— O quê? - sinto minhas bochechas me denunciarem - Sério?

— Não se mexe - ela aponta com a caneta, rindo, e tento ficar o mais quieta possível - isso, assim mesmo.

Fico olhando para o lado, com os braços cruzados. Pelo menos a posição é confortável.

— Como está o lance lá da organização da festa? - ela diz tirar os olhos do papel.

— Está indo bem, vou mais tarde na paróquia pra entrar em contato com um pessoal que ficou de dar um material...

— A igreja católica já não tem dinheiro suficiente? - ela diz com sarcasmo, e me presto a encará-la de canto - Por que pedir pro pessoal? Não podem simplesmente dar pra vocês?

— Nós mal temos dinheiro pra manutenção do espaço e da escola dominical... – olho de relance, fazendo de tudo pra não me mexer – Já fazemos isso pra ajudar nas despesas.

— Por que você é tão... - escuto o barulho da ponta da caneta passando pelo papel – submissa pra uma instituição tão hipócrita?

— Seguimos os valores de Cristo e da Palavra, não ações de algumas pessoas que se dizem cristãs – é difícil ter essa conversa sem ter que olhar para ela – é muito além disso.

— O Vaticano é praticamente feito de ouro, padres são acusados de pedofilia – ela diz com desdém – sem contar o preconceito, e outra. Amanda, por que Deus é tão vingativo se nos ama?

— Jesus andava com os marginalizados, morreu por nós – encaro um casal aleatório que passa na rua – nos ensinou a amar o próximo como a nós mesmo. Como não vou acreditar nisso?

Ela faz uma careta, mordendo os lábios, e volta a olhar pra mim antes de desenhar.

— Hǎi yún, por que você não vai à festividade comigo?

O convite a pega de surpresa, tanto que ela para de desenhar e me encara.

— Talvez se você fosse, ia entender o que quero dizer.

— Não sei se isso seria bom – ela ri envergonhada – eu nunca fui pra essas coisas religiosas...

— Prometo que vai ser legal – acabo me virando, mas logo volto pra pose de antes – eu te busco e te deixo, quer dizer, eu e o André, se você não gostar a gente te deixa antes.

Retas paralelas se encontram no infinito?Onde histórias criam vida. Descubra agora