Telescopium

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"Houve um tempo
em que prados, bosques, riachos
a terra, e cada visão comum
aparentava a mim
vestir a luz celestial
a glória e frescura de um sonho.
Não é de agora mais do que outrora.
Devo ir a outro lugar
de noite ou de dia.
As coisas que eu já vi, agora não vejo mais."
(William Wordsworth)

A luz, a escuridão e algo a mais. Nunca mais estariam sozinhos.

Uma velha frase ecoando através do tempo, algo que vinte anos antes Snoke sussurrara e que agora se concretizava para todos aqueles no aposento: "Através de meu fim, o começo".

Kylo Ren tinha a garota de Jakku em seus braços dormindo serenamente, como se houvesse paz no mundo e não medo ou amor. O cavaleiro de Ren entendeu que além dos lados opostos da força haviam outros dois sentimentos movimentando e tensionando veementemente a galáxia como em uma velha promessa: havia o amor e havia o medo. O medo no geral conduzia ao ódio e o ódio de tão tolo nada podia trazer de verdadeiramente significativo, porém o amor ainda que fosse tormenta e impossibilidade tinha em seu cerne uma sabedoria quase impossível. Por isso, ambos, dividiam aquela cama não apenas porque tudo começara em um lugar como aquele para eles, mas também porque já não fazia mais sentido temer o que estaria a frente.

O homem percorreu gentilmente os dedos pelos ombros de Rey enquanto a garota se aconchegava mais perto, ela tinha cheiro de terra, fogo e de algo doce ou indecifrável. Talvez fosse a paz que ela emanava acalmando seus impulsos e detendo o ódio crescente, talvez fosse a capacidade indiscutível daquela jovem mulher de transforma-lo em algo que ele jamais pensou que poderia ser. Porém, Kylo Ren desconfiou que era o silencio estarrecedor e ainda assim a certeza que Rey permanecia em seus braços quente e confortável. Ele colocou os lábios na cabeça dela depositando um leve beijo e a trouxe ainda mais para perto como se soltá-la fosse inconcebível.

O que haviam feito afinal? Quão longe haviam chegado? Era impossível dizer com precisão mas estava certo e decretado em pedra, névoa, cinza e chuva que não se afastariam se pudessem lutar contra a fatalidade do destino. Horas antes haviam percebido que começariam ou terminariam o que fizeram juntos. Kylo se lembrava de segurar o sabre de luz e ativa-lo para então simbolicamente joga-lo no chão desativado, ele se rendeu para Rey, entregou a alcunha de cavaleiro em nome de iniciar uma outra jornada em meio ao novo caminho que já estavam traçando. Rey tirou tudo dele ainda que não tenha pedido uma única renúncia, ela o quebrou, o consertou, o fez entender o arrependimento, pedir por perdão e se entregar a dor e ao amor; no momento mais escuro conhecera o amor e no momento de maior luz conheceu os próprios pecados.Os eventos de horas antes ainda ecoavam pela memória do cavaleiro:

-O que está fazendo Kylo? - Questionara Rey ao ver o sabre de luz caído no chão.

-Eu quero renunciar a força, quero renunciar meu título de Cavaleiro de Ren, quero renunciar ao meu sobrenome Skywalker...nada disso importa - Rey estava chocada encarando a face do homem, a certeza na voz era grande demais para ser contestada - Nossas crianças importam, nossas vidas importam...temos o dever de fazer por elas o que não fizeram por nós.

-Precisamos terminar o que começamos - Assinalara Rey compreendendo que Kylo estava correto no que dissera - Sabe disso.

-Eu sei - Kylo Ren tinha a voz pesada e então seus olhos se dirigiram rapidamente para a janela - Esses jovens, os aprendizes...

-Eles acreditam em nós, acreditam no que lutamos e pelo caminho que defendemos - Garantiu Rey enfaticamente - Temos a obrigação de honrar a fé que eles possuem em nós.

-E honraremos, eles protegerão e manterão o equilíbrio da Federação - Kylo Ren tinha a voz segura e então olhou para baixo rapidamente - Luke Skywalker os guiará.

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