Linhas Paralelas

Libra

"Vi a felicidade e a dor nos seus olhos, os reflexos do paraíso perdido e reencontrado, e perdido novamente."

(Song of Avignon)

Rey sentia-se melhor tendo o corpo envolvido pelos braços de Kylo, era reconfortante ser envolvida pelas roupas negras de alguém que já não podia mais ser um estranho, agora compartilhavam ainda mais coisas do que a garota imaginou que seria possível. Ela sabia que a necessidade daquele abraço e o significado do mesmo era ampliada pela experiencia que ambos partilharam agora: o momento em que Luke tentara mata-los. O sentimento de Rey a princípio fora muito controverso: raiva, medo, ódio. Agora tudo isso já não fazia mais parte dela.

-Sente que está melhor? - Questionou Kylo ainda mantendo os braços ao redor da jovem.

-Não me solte, não ainda - Pediu Rey afundando o rosto contra as roupas dele constrangida.

Kylo Ren moveu as mãos mantendo uma nas costas e outra nas pernas de Rey e então se colocou de pé a erguendo. Ela estava agora em seus braços, era tão leve e tinha tanta coragem, ainda que, estivesse momentaneamente abalada; Rey era para o cavaleiro uma visão única. Ele sabia desde o dia em que a vira pela primeira vez, que o poder dentro dela, era absolutamente irresistível.

-O que está fazendo? - Questionou a garota com as mãos ao redor do pescoço dele.

Kylo não respondeu, mas caminhou com a garota em seus braços até o que poderia ser chamado de "sala-de-estar" da nave e sentou-se assim, numa espaçosa poltrona - com absoluta facilidade mesmo segurando a jovem - e Rey pôde sentir que ambos tinham apoio agora e estavam ainda mais juntos. A garota sentiu-se aquecida, imediatamente percebeu que a sensação se devia a lareira futurista que compunha o ambiente. Ali estavam juntos, luz e trevas novamente, em um local em que a luz do fogo conflitava com o gélido da escuridão.

-Podemos destruir juntos Luke Skywalker - Assegurou Kylo encarando o fogo. - Ele não terá chances contra nós se fizermos isso juntos.

Rey suspirou com as palavras de Kylo, estava deitada em um dos ombros dele, as pernas muito unidas em cima das pernas dele que se sentava perfeitamente na poltrona. A garota não percebera antes o quanto era pequena quando comparada a ele, talvez fosse mais óbvio para todos os outros.

-Luke cometeu um erro, mais um erro entre muitos erros - Assegurou Rey com a voz ainda debilitada se movendo de modo que pudesse olhar para o rosto de Kylo.

Kylo permanecia com uma das mãos ao redor das costas da garota e outra pousada nos pés unidos de Rey, ele estava rígido como se aquela situação causasse muita tensão para ele, era quase como se ele se esforçasse desesperadamente para manter o equilíbrio em meio ao constrangimento de te-la em seus braços.

-Ele tentou me matar - Rebateu ele com o rosto cheio de indignação. - E cometeu hoje outra injustiça tentando tirar sua vida.

-Nunca pude me dar ao luxo de me indignar - Assegurou Rey agora tocando o pulso de Kylo em um gesto de pena - O universo é injusto, toda a minha vida foi injusta e o que o mestre Luke fez foi apenas a manifestação do medo.

-Medo? E o medo que ele inflige a outros? - Questionou Kylo ainda mantendo Rey em seus braços, estavam próximos o bastante para sentirem um ao outro.

-Ele carrega o fardo de proteger essa galáxia há décadas e ele tem muito medo que alguma versão de Darth Vader retorne. Ele não pode carregar a culpa pela morte de mais inocentes - A voz de Rey era cheia de confiança ainda que soasse estranha devido ao recente sufocamento. - A fraqueza atinge todos os seres...ele estava fazendo o que era certo e nobre sob a perspectiva dele.