Andrômeda

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"A maior distancia no mundo é entre aquilo que é e aquilo que achava que podia ser"

(The only living boy in New York)

Todos nós morremos sozinhos e Rey, mais do que qualquer outro, sabia que não só morremos mas também nascemos sozinhos.

O problema era viver.

Naquela noite a garota usava roupas cinzas, segurava o sabre de luz duplo e vestia uma pesada capa que ocultava seu rosto. Em todas as suas missões de libertação utilizava aquelas vestimentas cinzas, talvez em uma tentativa de representar aquilo que ela defendia: um novo caminho. Ainda assim, agora com seis meses de gravidez e já há dois meses realizando as missões de libertação era capaz de olhar para os próprios atos com alguma autocrítica percebendo a natureza suicida, solitária e súbita de cada uma de suas megalomaníacas empreitadas noturnas.

A gravidez não era motivo de impedimento ou de fraqueza para a garota, pelo contrário, na medida em que a criança crescia dentro dela, ela sentia-se também mais forte. A força física aumentava, o controle da força também e a escuridão crescia em suas entranhas como raiva, indignação e ódio. Rey havia aprendido a canalizar esses sentimentos gerados pela criança, havia aprendido que em suas missões ela era tomada pelo lado sombrio e seu poder era praticamente implacável.

A lenda da jovem mulher chamada Rey a libertadora dos oprimidos, dos fracos, dos esquecidos se espalhava pela galáxia graças a essas missões diárias.

A garota sabia que era arriscado e que caso falhasse morreria exatamente como todos os outros: sozinha.

A noite estava iluminada pelas estrelas quando ela pousou a nave em um campo de trabalho infantil de retirada de minérios, a Primeira Ordem tinha vários locais assim para produção de alguns armamentos, mas também de instrumentos científicos. Todo o planeta estava condenado a mineração, porém a crueldade com as crianças era grande demais para ser suportável. Ela já havia invadido a base, matado mais homens do que podia se lembrar, libertado as crianças e agora os jovens corriam atrás dela prontos para partirem na nave que utilizariam. Rey sabia que em uma invasão ocorrida durante a noite haviam grandes dificuldades para ela, porém os inimigos também estavam em geral desatentos. Rey foi até a sala de controle do local e ativou a autodestruição. Os painéis de autodestruição eram padrão na Primeira Ordem, ainda que Rey soubesse muito bem que usava os dados e as mãos de um homem morto para autorizar a transação. Foi então que cerca de trinta stormtroopers se colocaram na saída da sala de comando.

-Protejam-se crianças - Disse Rey duramente fazendo os jovens se afastaram escondendo-se atrás da bancada de metal.

Os stormtroopers atiraram com seus blasters o que fez Rey erguer uma das mãos parando todos os lasers no ar e então a garota imediatamente se desviou dos tiros quando os liberou. Todos pareciam chocados demais com o que acabaram de ver para reagir e então Rey fez um sinal com a mão indicando que deveriam se aproximar e começou a ataca-los com absoluta segurança. Naquele estado ela era implacável, o poder que tomava conta de suas ações era algo nunca antes testemunhado e agora seu nome era proferido na galáxia como símbolo de uma força indestrutível que significava liberdade, mas que também era sinônimo de medo. Rey no geral não era esperada porque escolhia seus alvos aleatoriamente, horas antes de investigar a melhor estratégia de ataque, ou seja, nada era premeditado e a Primeira Ordem não encontrava uma lógica ou modo apropriado de esperar por ela. A garota de Jakku matava seus oponentes rapidamente, sem delongas e sem misericórdia, não porque achava certo, mas porque aprendera que se não pudesse extravasar toda a escuridão que crescia dentro dela acabaria sendo consumida. Haviam muitos a serem libertados na galáxia e todos os dias ela era responsável por dar uma nova vida a dezenas de pessoas.  Finalmente ela havia derrotado todos os oponentes com seu sabre de luz e agora faltavam apenas cinco minutos para a  contagem regressiva terminar e a base se autodestruir. A garota estava com alguns arranhões mas nenhum ferimento grave. Stormtroopers não eram oponentes dignos para Rey.

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