Linhas Paralelas

Cancer

"Olhai, vigiai e orai, porque não sabeis quando chegará o tempo."
(Evangelho de Marcos, 13:33)

Kylo Ren caminhava para o hotel, havia conseguido uma excelente nave em troca da imperial shuttle além de combustível e suprimentos. Havia sido um negócio promissor, ainda que Kylo não fosse um negociante como Han Solo e não desejava de modo algum ser comparado com o pai, o cavaleiro afastou aquela lembrança e se deteve no diálogo que havia tido com os desprezíveis homens que escravizaram Rey. A conversa ainda era latente em sua memória:

-Quero comprar a liberdade de Rey - Dissera Kylo seriamente se recusando a sentar frente a frente com as desprezíveis criaturas que possuíram Rey por tanto tempo.

-Agora vadias possuem nomes - Respondera o homem grosseiramente fazendo Kylo colocar as duas mãos sob a mesa em um estrondo audível por toda a sala de negociantes.

-Quero a liberdade dela agora - O Cavaleiro disse cada palavra pausadamente deixando muito claro com o olhar que se não fosse atendido haveria punição.

-Está certo disso? Temos escravas mais jovens e menos desgastadas, podemos aceitar a devolução dessa que chama de Rey e entregar alguém mais jovem e que poderá satisfaze-lo melhor - Dissera a criatura alienígena como quem tenta acalmar alguém claramente rico e ameaçadoramente poderoso.

-Faça o que eu mandei! - Kylo Ren já estava furioso com a incapacidade do negociante de obedecê-lo.

Apesar das dificuldades que enfrentara Rey agora era livre, ela também havia sido incluída na negociação da imperial shuttle. O Cavaleiro recebeu o cartão ao adentrar o hotel, subiu até a cobertura em um dos elevadores e abriu a porta cautelosamente percebendo uma pequena movimentação no cômodo, ao entrar no local encontrou Rey deitada na grande cama e terrivelmente agitada durante um pesadelo.

-Kylo não! Kylo não! - Dizia ela atormentada durante o sonho se debatendo com mais força.

Kylo Ren estava disposto a ignorar o sonho ruim de Rey, porém conceber que ela tinha pesadelos com ele era suficientemente ruim para que se sentisse na obrigação de desperta-la. O cavaleiro se aproximou e tentou não toca-la a princípio apenas estreitando os olhos e dizendo ˜Rey, Rey" porém isso não bastou e por um segundo ele apenas observou aquela jovem mulher diante dele, somente uma garota e ainda assim fora privada da liberdade muito cedo. Na última hora ouvira muitas vezes ela ser chamada de vadia e tratada como uma posse, como algo desprovido de sentimentos cujo uso único era servir seja como catadora, seja de qualquer outro modo aqueles que desejassem compra-la. Esse fato o fez se conectar ainda mais com Rey, ele sabia o que significava ser usado e privado da liberdade, ele conhecia outra forma de escravidão.

Rey! Rey! - Kylo segurou delicadamente os ombros dela se inclinando ainda incapaz de sentar na cama ao lado dela.

-Ben, Ben...Kylo...Kylo - Continuava dizendo ela atormentada.

No instante seguinte ela despertou capturando Kylo Ren naquele abraço longo demais, ou curto demais e ao se soltarem os olhos da garota ainda assustados pareciam revelar não apenas a dúvida como também o medo. Kylo voltou a assumir sua postura ereta prestes a se afastar de Rey com a cabeça levemente baixa.

-Ben... - Começou Rey compreendo que havia passado dos limites com o abraço.

-Meu nome é Kylo Ren - Rebateu ele interrompendo a jovem -Ben Solo é aquilo que fizeram comigo, mas eu criei Kylo Ren, eu fiz a mim mesmo.

Rey assentiu engolindo em seco e compreendendo o apelo de Ben Solo, decidiu que respeitaria o desejo dele. Desde que tudo começara estava entorpecida incapaz de assumir a liderança, parte dela não queria liderar.