Linhas Paralelas

Phoenix

A morte não é nada.
Eu somente passei
para o outro lado do Caminho.
Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era para vocês,
eu continuarei sendo.
Me dêem o nome
que vocês sempre me deram,
falem comigo
como vocês sempre fizeram.
Vocês continuam vivendo
no mundo das criaturas,
eu estou vivendo
no mundo do Criador.
Não utilizem um tom solene
ou triste, continuem a rir
daquilo que nos fazia rir juntos.
Rezem, sorriam, pensem em mim.
Que meu nome seja pronunciado
como sempre foi,
sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra
ou tristeza.
A vida significa tudo
o que ela sempre significou,
o fio não foi cortado.
Porque eu estaria fora
de seus pensamentos,
agora que estou apenas fora
de suas vistas?
Eu não estou longe,
apenas estou
do outro lado do Caminho...
Você que aí ficou, siga em frente,
a vida continua, linda e bela
como sempre foi.

(Santo Agostinho)

Kylo Ren ainda tinha os olhos em Rey quando sua visão periférica pôde detectar Rose Tico e o Mestre Decodificador correndo em alarme rumo a sala, prestes a avisar sobre algo que apenas mais tarde o Cavaleiro de Ren saberia. Mas aquele momentâneo momento de distração, no qual se deixou olhar para trás, para todos os mortos e depois os segundos que em que voltou atenção para os aliados fora suficiente para que tudo chegasse ao fim.

Porque Kylo Ren não pôde ver ou sentir, mas Klaus ainda estava vivo e com um movimento de seus dedos - utilizando toda a força que ainda possuía - foi capaz de tirar as lanças da parede e as fazerem voar em um só instante contra o corpo de Rey que se colocava na frente das mesmas. O Cavaleiro ainda segurava os ombros de Rey quando em um forte impacto as quatro lanças foram cravadas nas costas da garota de Jakku. Em um instante ela pertencia a aquele mundo, já no instante seguinte havia partido.

-Rey - Kylo sussurrou o nome da mulher que amava enquanto usava a força para arrancar as lanças do corpo dela.

Ele havia testemunhado a vida deixar o corpo de Rey, o modo pelo qual ela estava cheia de vida e prestes a dizer algo importante, para que no instante seguinte a vida escapasse de seus olhos e o sangue escorresse sutilmente por seus lábios. Kylo Ren estava imóvel, a dor e a incapacidade de conceber aquele fato o assolaram por tanto tempo que as lágrimas que caíam de seu rosto cansado e cheio de dor eram silenciosas, ele era incapaz de solta-la ainda que desejasse deixa-la cair para que então a garota se sustentasse sozinha. Mas isso jamais aconteceria, Rey e as crianças haviam partido. A morte é inevitável, certeira e chega sempre em uma condenação perpétua sem ser dita, surge perante nenhum aviso e seus danos são permanentes. Não há como reverter a morte, não há começo quando se chega ao fim e ainda assim no fim em si mesmo apenas há a esperança de um recomeço.

Rose Tico cobriu a boca perplexa com os olhos cheios de lágrimas e o Mestre Decodificador a abraçou levemente.

-A nave irá ser destruída, temos de sair daqui antes que os explosivos sejam acionados - Disse o Mestre Decodificador para a figura estática e ainda de costas de Kylo Ren

O Cavaleiro colocou as mãos no rosto da garota de Jakku a segurando, os olhos dela ainda abertos esperando pelo momento em que ele estaria pronto para fecha-los. Dizem que quando alguém deixa esse mundo toda a vida passa diante de seus olhos, como se pudesse finamente encarar sob nova perspectiva e com absoluta clareza todos os pontos perdidos, vividos, amados e odiados de sua existência. Tudo que precisa ser compreendido passa ao pleno entendimento. Ren se perguntava como o universo permitira que Rey não tivesse nem mesmo essa chance, já que ela morrera em um segundo de distração com lanças jogadas contra seu corpo do modo mais violento e traiçoeiro possível. Rey não sabia que morreria, assim como todos os outros seres vivos da galáxia ela morria agora na ignorância, na incompreensão do valor daquele último instante, daquela última batida de coração e do suspiro final. Rey nunca poderia ter percebido que morreria ou que estava próxima disso, ela apenas partira sem nenhuma pista. A morte era triste e poderosa para todos. Invencível e imperdoável.