Inferno particular

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Wendy narrando

Henry me pegou no colo, como um príncipe pega uma princesa e entrou em casa comigo. Ele me levou até a sala e me colocou em uma poltrona reclinável .

- De onde surgiu essa poltrona? - Eu olhava a poltrona e pude ver alguns botões, tinha também um controle remoto, que  estava sobre a mesinha de centro.

- Você vai amar essa poltrona, Wendy. - Henry estava animado. - Esses botões são as funções que ela tem, dá pra controlar a velocidade das vibrações e onde você quer que seja massageado. O pai de Peter foi quem deu a dica, ele médico e entende. Deve ser muito incômodo ficar só deitada ou só sentada sem uma massagem. Como vai ter dias que eu não vou estar aqui o tempo todo... A cadeira me substitui.

- Mas você comprou antes de eu sair do coma? Como você sabia que eu ia voltar?

- Eu não sabia, mas tinha fé. Quando o Dr. Levi falou que se você acordasse talvez não andaria mais, eu tentei achar um meio de fazer você ter pelo menos momentos de prazer e relaxamento. - Ele olhou para baixo como se lembrasse de uma cena triste. - Ele falou que o nosso cérebro nos sabota, tinha que esperar você acordar para ver em qual área ele ia te prejudicar.

- Você não existe, Henry! - Puxei ele para lhe dar um beijo demorado.

- Tem mais uma coisa... - Ele Sussurrou ainda com os lábios nos meus. - Amanhã chega sua nova cama. Ele falou e riu, voltando a me beijar.

Dá pra acreditar em tudo que ele está fazendo? E eu não posso sequer negar, sei que ele fará assim mesmo. O que me resta é deixar ser bem cuidada por ele.

- O almoço já está pronto. - Minha mãe chegou da cozinha pra nos informar. Ela voltou cantarolando pelo corredor e eu fiquei da sala rindo. É tão  bom vê-la feliz.

- Vamos? - Henry parou em minha frente e estendeu os braços em minha direção.

- Olha, você esqueceu que comprou cadeiras de rodas pra mim? - Falei rindo pra ele.

- Claro que não esqueci, mas Deus me livre perder a oportunidade de ter você em meus braços. - Ele riu. - Acostume-se ! Os objetos para te trazer prazer e conforto, são pra ser usados enquanto eu não estiver aqui. Enquanto eu estiver aqui, essa função é minha.

Ele me pegou no colo e me deu um beijo apaixonado, enquanto andava comigo pelo corredor.

Os dias foram se passando e eu já tinha feito duas semanas de fisioterapia. Era engraçado ver a cara de Henry para o doutor Levi, que sempre jogava uma piadinha tentando testar a paciência de dele. Eu era a única que fazia fisioterapia de macaquinho. Henry pensou na hipotese do macacão, mas como tinha umas sessões de choque nas minhas pernas seria complicado se elas estivessem cobertas.

Eu já conseguia mexer melhor meus pés e já conseguia me levantar. Enquanto o fisioterapeuta me colocava pra boiar na piscina, Henry quase deu um troço ao vê-lo com uma mão nas minhas costas e a outra na minha barriga. Ele massageava minha coluna por baixo da água. Por diversas vezes olhava em direção a Henry e o via olhar em nossa direção e passar a mãos nos cabelos. Era uma cena engraçada de se ver.

Henry narrando 

Tenho acompanhada Wendy nas fisioterapias, eu não sou louco de deixá-la com esses dois tarados. Desmarquei todos os meus compromissos e já faz quinze dias que eu estou enfiado na casa de Wendy. Só vou para casa pra dormir, muito contra minha vontade, e volto logo cedo pra tomar café com ela. Tenho uma pessoa de confiança trabalhando em meu lugar, meu pai aceitou de boa, pois ele sabe o quanto Wendy significa pra mim. O lema dele é: A família em primeiro lugar.

Hoje eu estou lutando contra mim mesmo, pra não afogar esse fisioterapeuta folgado nessa piscina. Por que não tem mais mulheres trabalhando nesse hospital? Tentei até trocá-lo, mas me disseram que ele era o melhor que tinha nesse hospital. E pelo jeito é mesmo, pois Wendy tem mostrado uma recuperação incrível, e é só por isso que eu estou me segurando. Ele a olha com um olhar de desejo. Enquanto ela boia, ele fica olhando seus lábios. Vez ou outra Wendy olha na minha direção e me dá um sorriso, como quem dissesse: - Está acabando, se controla e não faça nenhuma besteira.

Enquanto um está na água com ela, o outro fica do lado de fora anotando coisas no prontuário dela. Eu acho que esses dois combinaram de infernizar a minha vida. Estou quase mandando uma mensagem pro Conselho Regional de Medicina. Só assim acabo com esse inferno particular.

Vi que a seção de Wendy acabou e fui em direção a piscina pra ajudar tira-la de lá.

- Semana que vem você já vai poder ficar de pé na água, acredito que com ajuda das barras você vai conseguir se firmar. Mas todavia, eu vou estar atrás de você pra segura-lá.

Dei uma fuzilada nele com os olhos, já imaginei ele segurando Wendy... Ele atrás dela com as mãos em sua cintura... Fechei a cara e o encarei, levantando uma sobrancelha.

- Semana que vem eu vou trazer minha roupa de banho e vou entrar com Wendy na piscina, o senhor me dá os comandos que eu executo. - Falei sério enquanto secava Wendy, que já estava sentada na cadeira de rodas.

Eu não sei porque motivos Deus quis testar minha paciência com esses dois médicos metidos a besta. Eu sei que eu estava tentando ao máximo ser compreensível, mas tinha horas que não dava.

- Como o senhor quiser! - Ele riu e balançou a cabeça negativamente.

Ele foi fazer algumas anotações, enquanto isso eu me direcionei com Wendy para o banheiro, para ela trocar de roupa. Como se não bastasse um , o outro veio tirar a minha paz...

- Quer que eu te ajude a se trocar, Wendy? - Dr. Levi colocou a mão no ombro dela e a olhou nos olhos, levantou um pouco os lábios dando um sorriso de lado.

Mas que filho da mãe desgraçado!

- Você não tem outros pacientes pra cuidar não? - Perguntei com a voz áspera e os olhos semi fechados. Vi Wendy colocar a mão na boca pra prender o riso.

- Só estou tentando ajudar minha paciente favorita. - Ele abriu um sorriso em minha direção, sua voz era serena.

- AH,PRONTO! - Cocei a cabeça e bufei. - Antes de eu falar mais alguma coisa, veio uma enfermeira entrando na sala em que estávamos parados.

- Ei! Psiu! - Fiz um sinal com a mão a chamando. Ela veio em nossa direção.

- Tem como você ajudar a minha namorada a se trocar, por favor?  - Ela olhou em direção ao médico, como se pedisse aprovação dele. Ele consentiu com a cabeça e ela foi empurrando a cadeira em direção ao banheiro.

- Eu não tiro sua razão, eu no seu lugar faria o mesmo. - Esse cara de pau ainda teve coragem de falar isso pra mim? - Até mais Henry, tenho pacientes para atender.

Ele foi andando e eu fiquei pensando, como deixaram um cara desses ser médico...?

Das outras vezes que Wendy fez fisioterapia na água, tinha sempre uma enfermeira pra ajudá-la a se trocar. Daí hoje ele me vem com essa.

Feito para mimOnde histórias criam vida. Descubra agora