Luto

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Wendy narrando

Após dois dias recebi alta do hospital, Henry e eu fomos para casa, após ter deixado nosso pequeno. Tudo parecia muito frio e triste, por um momento eu queria me isolar e não conversar com ninguém. Pensei que seria bem mais fácil a dor da perda, mas a dor te consome diariamente e você tem que trabalhar sua mente para não entrar em uma depressão profunda. Por mais que eu tenha me preparado todo esse tempo, agora eu vi que eu nunca estive pronta. Quando a dor vem, ela te sufoca, parece que você não vai conseguir viver mais um dia.

Eu sei que muitos podem dizer que eu nem cheguei a amamentar, ou que nem peguei no colo. Mas desde o momento que eu descobri a gravidez, eu já quis meu filho, eu já o amava e ele já fazia parte da minha família assim como da minha vida. Foram quatro meses com sentimento de ser mãe dele, já tínhamos um vínculo muito grande, eu já estava acostumada a conversar com ele todos os dias. Com ele ali eu sabia que não estava sozinha. Quando Henry precisava sair para trabalhar, ele sempre permanecia comigo me fazendo companhia com seus chutinhos.

Perder um filho é como sentir que uma parte de você morreu junto com ele, o que me dá forças para prosseguir é saber que eu tenho Henry cuidando de mim, é saber que eu preciso também dar forças a ele, porque ele tem sofrido assim como eu. Mas acima de tudo, é você saber que tem Deus cuidando de você e que os propósitos dEle são bem maiores, que por mais que não entendamos agora, um dia tudo irá se esclarecer. Tenho pedido muita força a Deus, por mais que eu não entenda seus propósitos... Eu aceito e eu confio.

Nossos amigos queriam nos visitar, mas eu pedi para Henry avisar que eu não queria receber visitas por um tempo, eu estava muito exausta por tudo que eu tinha passado, por tudo que nós vinhamos sofrendo esse tempo todo.

Eles prontamente entenderam respeitaram a nossa escolha. Não era possível fazer o enterro do bebê, pois ainda era muito pequeno. Porém Henry conseguiu convencer os médicos a nos deixar enterrar. Foi somente Henry e eu, o caixãozinho estava lacrado.

Quando nós deixamos ele lá, parece que uma parte nossa também ficou, eu preferi pensar que este mundo não estava pronto para ele, pois ele seria um ser muito evoluído e muito especial.

Chegamos em casa e Tânia nos recebeu com um abraço caloroso, fomos direto para o nosso lugar, tomamos banho e deitamos na nossa cama. Ficamos ali abraçados, sem dizer nada. Apenas com as lembranças e com as imaginações de como seria o nosso pequeno...

Imaginava ele correndo pela casa, jogando bola com o pai, pensava em qual seria a sua primeira palavra, qual sua cor favorita, sua comida favorita. Se ele gostaria de praia, assim como o pai . Se seria mais sério ou se seria mais risonho...

O imagino moreno, igual ao pai, com aquelas covinhas lindas ao sorrir com os olhos. 

As crises de choro não tem dado trégua... Combinamos de quando um estiver muito para baixo, o outro tenta ser mais forte.

Mas tem sido difícil pra nós dois, devido a dor da culpa. Tanto Henry quanto eu, nos sentimos culpados pela perda. 

- Meu amor... Eu vou buscar nosso almoço. Tá ok? - Ele segurou meu rosto pra olhar nos meus olhos, seu voz era tão serena que chegava me confortar. Estávamos deitando na cama, de frente um para o outro.

- Estou sem fome... - A voz quase não saía.

- Mas não é uma opção, você precisa se alimentar. Seu organismo ainda está muito fraco. Você passou por um procedimento invasivo e perdeu muito sangue, ainda está perdendo...

Deixa eu cuidar de você... Heim! - Ele deu um sorriso fino e levantou as sobrancelhas. Fazendo aquelas covinhas perfeitas nas bochechas.

- Fica difícil dizer não pra qualquer coisa, depois que vejo essas covinhas. - Olhei para ele com um olhar apaixonado. Como quem admira a oitava maravilha do mundo. 

- E pra esse sorriso aqui? - Ele deu aquele sorriso mais que perfeito, que ele sabia que eu amava, e apontou com o dedo indicador para o sorriso. Era como se fosse aplicado em mim uma dose de morfina, as dores sumiram na hora. Como Henry era perfeito, realmente esse homem foi feito pra mim. 

- Vem aqui ... - O puxei pelo pescoço e devorei aqueles lábios macios. Parecia que nós dois precisavamos urgentemente daquele beijo. Tanto ele quanto eu nos permitimos sentir um momento de paz. Sentimos o amor e o cuidado que tínhamos um com o outro.

- Você é a coisa mais importante que eu tenho na vida. Eu preciso que você lute. Não se entrega, por favor... Eu não sou forte como pareço. - Ele encostou a testa na minha e falou ainda nos meus lábios. 

- Eu estou lutando, mas está doendo muito. É estranho não senti-lo mexendo. As vezes da vontade de falar com ele, daí eu lembro que ele não está mais aqui. - Uma lágrima escorreu no meu rosto e ele limpou com o polegar. 

- Eu sei como é, as vezes tenho vontade de beijar sua barriga e falar com ele. Mas dai também lembro que ele não está mais aí. Nós vamos vencer juntos, você pode ter certeza disso!

- Eu sei que vamos! - Peguei a mão dele, entrelaçando os nossos dedos. - Obrigada por ser perfeito para mim. E você é mais forte do que pensa, você não sabe o quanto que você é meu porto seguro. - Sorri pra ele e dei um beijo em seu nariz. 

- Eu te amo!  Eu tenho que ser forte o máximo que eu posso, por você. Vou lá embaixo buscar o nosso almoço e você ficar aí deitadinha. 

- Quer que eu vá com você? 

- Negativo! Repouso... Lembra? Você ainda está perdendo muito sangue, até os remédios começarem a fazer efeito você não pode sair desta cama, só está liberada para ir ao banheiro. Mas se bem... - Ele colocou um dedo na têmpora, como quem pensa. - Que eu estou pensando em comprar umas fraldas geriátrica para você. - Ele falou e sorriu logo após. 

- Acho que eu vou ficar bem sexy com essas fraldas, você não acha? - Fiz um biquinho.

- Hum... Já até despertou uma curiosidade. Meu novo fetiche, pronto... - Eu gargalhei da cara de safado que ele fez. 

- Você é bobo, isso sim.

- Eu sou é apaixonado por você, isso sim. - Ele me deu um beijo e saiu do quarto, indo buscar a refeição.

Feito para mimOnde histórias criam vida. Descubra agora