Afirmo com veemência e com todas as letras existentes no alfabeto que o pós primeiro turno foi o momento mais decisivo vivido por mim em todos esses anos dentro da política. Decisivo, tenso e arriscado, essas eram as palavras que facilmente melhor poderiam descrever esse momento. Me posicionar da forma como me posicionei poderia custar muito caro à minha reputação e à minha carreira, que diga-se de passagem foi construída com muito afinco e dedicação. Mas eu tinha plena convicção dos meus ideais e da necessidade de estar do lado correto, de estar ao lado da democracia.
Para além de percepções políticas, após a minha declaração em apoio ao ex-futuro-presidente Lula, o mergulho de cabeça na campanha me proporcionou contatos inimagináveis. Conheci pessoais incríveis, pessoas dispostas a refazerem o país, com ideais, esperanças e propósitos encantadores para o futuro de uma nação, algo que eu, particularmente, por muito tempo, não esperava encontrar na esquerda brasileira.
Apesar de toda a tensão que o momento proporcionava, estava feliz com o rumo que eu havia decidido para minha carreira. Havia somente um pequeno problema. Para falar bem a verdade, o problema não era nem de longe de pequeno. Era um problema com nome e sobrenome, alguns quilos a mais e uma queda de cabelo esquisita, chamado Eduardo Rocha, conhecido também como meu marido.
Talvez o problema não fosse somente o Eduardo, talvez eu tivesse colaborado pelo menos um pouco com a minha ausência e falta de demonstração de afeto para com meu marido. O que é de fato importante relatar aqui é que meu casamento estava cada dia mais falido, e o pós primeiro turno colaborou para que eu aceitasse esse fato. Muito tempo fora de casa, imersa na campanha, todos os dias em um estado diferente, em hotéis diferentes, longe de casa e longe de todo o sentimento de saudade que eu achei que sentiria do meu marido. Bom, não senti. Pelo contrário, percebi que aquela instituição falida que era meu casamento com o Eduardo precisava acabar o quanto antes, pelo bem da minha sanidade.
Um fatídico dia, em terras cariocas, pude perceber mais ainda a falência desse casamento, assim que coloquei meus olhos em um certo deputado, que assim como meu marido, se tornou um problema. Também um problema com nome e sobrenome, mas sem quilos a mais e muito menos uma falta de cabelo esquisita, pelo contrário, com cabelos grisalhos bem preenchidos, braços fortes e um sorriso de dentes perfeitos: Alessandro Molon, deputado federal do Rio de Janeiro, acabava de se tornar o meu mais novo problema.
A minha estadia no Rio se deu para o cumprimento de uma agenda em busca de votos. Eu, o meu mais novo problema e alguns outros políticos sairíamos em uma carreata por Niterói, buscando ampliar nosso eleitorado. E o meu primeiro contato com Molon se deu em um hotel em Niterói, não seria o hotel em que eu ficaria hospedada, mas o PT e o PSB reservaram um salão para o nosso encontro e para uma prévia organização da carreata. Cheguei exausta, direto de Brasília para Niterói, onde alguns membros da assessoria do partido de Molon, organizador e nome principal da carretada, estavam me esperando.
Encontrando a assessoria, fomos direto para o hotel reservado. O trajeto não demorou mais do que 20 minutos, e sinto que poderia ter durado muito menos se não fosse pelo trânsito caótico da cidade. Foi um trajeto silencioso, onde aproveitei para ter um descanso mental, sem ver mensagens, e-mails e sem fazer ligações. Somente aproveitando a vista, que era composta por carros e mais carros, pela janela do carro. Sinceramente, se eu soubesse o que me aguardava no tal hotel e naquela carretada, torceria para que o trânsito fosse maior só para prolongar meus minutos de descanso. A inquietude de pensamentos após aquele evento seria, pelo menos um pouco, suprida.
Chegando no hotel, desci do carro e, na companhia da assessoria do PSB e de alguns membros da imprensa que tentavam alguma entrevista comigo. Ignorei todos, não era o momento para isso e, ao entrar no salão reservado, a imprensa ficou para trás. Prontamente fui recebida pelos braços abertos de Molon e um sorriso contagiante:
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Como 2 e 2
RomanceNunca passou pela cabeça de Simone Tebet passar por um turbilhão de emoções durante o segundo turno das eleições presidenciais, muito menos descobrir que ainda era capaz de sentir desejo e paixão por alguém. Ainda mais quando o tal alguém se trata d...