Crise

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Após chegar da casa da amiga Simone foi direto para o banheiro, sentia o tudo girar ao seu redor, as paredes do apartamento funcional que por anos fora seu refúgio pareciam sufoca-la, o ar parecia faltar e um choro copioso tomou conta do corpo da senadora, que sem raciocinar direito acabou entrando com roupa e tudo no chuveiro, não fez a menor questão de água quente, não pensava que merecia depois de tudo que acontecera nas últimas horas, além de ter traído seu marido e seu casamento havia quebrado a jura que fizera diante de Deus e dos pais tantos anos atras, e de quebra, ainda tinha acabado com a sanidade da pessoa mais pura de coração que já havia entrado em seu caminho, Alessandro havia colocado por terra toda a teoria que ela desenvolveu ao longo dos anos, a mesma afirmava que por quanto mais tempo um casal ficasse junto mais conectado ele seria.

-Que bobagem meu Deus. A senadora proferiu em um sussurro, era tão obvio que estava errada, a cada ano que comemorava com Eduardo o presente era o aumento do iceberg que resfriava a relação deles, em todos os sentidos, além do físico e sexual já não tinham mais aquela cumplicidade, a ansiedade para estarem juntos havia acabado e os objetivos já não eram mais os mesmos. -Onde foi que nos perdemos, Edu? Onde? Ela batia as mãos contra a parede fria e deixava todo sentimento esvaído pelas lagrimas ser carregado com a água fria.

Não sabia mensurar quanto tempo ficou ali, mas deveria ter sido muito levando em conta que ela mal tinha lagrimas para despejar mais, quando finalmente teve forças fechou o registro, retirou as roupas molhadas deixando no canto do box e colocando seu roupão azul marinho, andava pelo banheiro quase que de forma mecânica, ao passar pelo espelho não pode evitar se encarar por alguns segundos, os segundos viraram minutos e a cabeça da senadora voltou a fervilhar, ainda encarando seu reflexo ela levou as mãos ate o cinto que mantinha o roupão fechado e desfez seu nó deixando a peça se abrir. Ao redirecionar o olhar para o espelho ela não gostou do que viu, ali estavam visíveis todas as suas cicatrizes, aquelas que ela lutou tanto para esconder, as novas, as velhas, as que ela causou a si através de todos os sacrifícios que fez para seguir os sonhos que o pai sonhou para ela e se tornar quem é hoje, a tristeza disfarçada pelo seu semblante forte, a insegurança oculta na voz forte e na mensagem política confiante, a solidão escondida na mulher que parecia ter uma família perfeita. Simone havia construído uma redoma a sua volta, nela guardou todos os seus sonhos, seus desejos e vontades mais ocultas, desde a intenção de lecionar até a vontade de ser mãe em tempo integral sem preocupações políticas, nessa redoma ela nunca deixou ninguém entrar, não propositalmente, mas depois de tantas tentativas frustradas de expressar quem realmente era e o que estava apta a fazer sabia que se alguém entrasse, ela sairia machucada.

Engolindo a seco mais uma vez todos aqueles sentimentos ela secou a lagrima solitária que insistiu em cair de seus olhos e respirou fundo fechando novamente o roupão se dirigindo até a cama, despreocupada em colocar um pijama ou secar os cabelos a parlamentar alcançou o celular na bolsa que havia sido jogada no recamier antes de ir para o banho e respirou fundo diversas vezes antes de finalmente discar o número.

A espera parecia uma eternidade, ela inspirava profundamente tentando absorver os últimos resquícios de coragem que ainda tinha até que a espera acabou e uma resposta foi reverberada pelo aparelho.

-Alo? Uma voz sonolenta se apresentou na linha

-Eduardo?! Ela não sabia se era um tormento ou um alivio ouvir a voz do marido, ao mesmo tempo em que a culpa a consumia ela pensava que só precisava seguir com o plano de recuperar o casamento e tudo ficaria bem

-Simone? O que está fazendo acordada uma hora dessa? O homem resmungou se sentando e checando a hora antes de tomar a agua que estava no móvel ao lado da cama

Como 2 e 2Onde histórias criam vida. Descubra agora