Affair

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O dia no senado federal seguiu de forma exaustiva, duas votações importantes no mesmo dia, quase sem intervalos. Simone mantinha sua cabeça ocupadíssima com o trabalho, ainda não havia tido tempo para pensar que um marido a esperava em casa.

Nos curtos intervalos aproveitava para articular com outros parlamentares, ela era, de fato, uma exímia política, era articulada, inteligente, honesta e corajosa. Essas quatro características eram consenso de forma quase unanime, sempre utilizadas por seus pares para descreve-la enquanto política. Quase unanime somente porque existiam ainda parlamentares que a odiavam, algo completamente normal nesse ambiente onde o poder era posto em jogo diariamente.

A tristeza ou incoerência, como preferirem chamar, era que a senadora sul-mato-grossense parecia aderir essas características somente em sua vida profissional, em sua vida pessoal se sentia frustrada, insegura e a autossabotagem se fazia presente constantemente.

Seu interior estava completamente quebrado, todos os tijolinhos que compunham a verdadeira fortaleza que era Simone Nassar Tebet haviam sido derrubados, de maneira lenta e gradual pelas intercorrências da vida. Os poucos que restavam no lugar, foram assolados por uma bola de demolição chamada Alessandro Molon, bastaram dois dias e a fortaleza estava, de vez, posta ao chão.

Sem defesa, sem rumo e com suas fragilidades, que nem ela mesma sabia que existiam, expostas. O que restava para ela agora era somente limpar bagunça. E, para o sucesso dessa faxina, muitas coisas deveriam ser jogadas fora, a principal delas era a paixão pelo surfistinha do PSB.

Ao findar a sessão, todos os parlamentares estavam visivelmente exaustos, Kátia e Simone se despedem de alguns colegas, de outros não fazem nem questão de ao menos trocar olhares cordiais. Na verdade, Kátia era quem não fazia, ela pouco se importava com as cordialidades exigidas no ambiente político, se pudesse mandaria todo mundo para aquele lugar. Simone ainda se esforçava para manter o mínimo de decoro e era sempre muito polida com todos, até com os mais intragáveis. Seguiram juntas rumo ao carro, conversando amenidades sobre as sessões.

-Que dia exaustivo, minha amiga! As vezes eu gostaria de tacar fogo nesse senado! Kátia se expressava com as mãos em exagero e ria, antes de destrancar o carro

-Ai Katinha, nem me fala, haja a santa paciência. Simone falava enquanto já colocava o cinto de segurança -Ainda bem que pelo menos os projetos passaram, agora nas mãos da Câmara e sabe lá Deus o que o canalha do Lira vai aprontar né? Ele é o verdadeiro inimigo da responsabilidade fiscal

-Nem me fale, Sisa, só de lembrar que ainda passará pelas mãos dele eu já sinto calafrios. Kátia revira os olhos e dá partida com o carro -Mas me diz, Si... Como você está?

-Ah, Katinha...Eu estou bem, acho. Simone suspira pesadamente -Eu só queria que as coisas voltem ao normal, sabe?

-Eu já disse que estarei aqui para te apoiar em sua decisão, Si...Mas nem sempre o normal é bom, pensa nisso, tá?

-Eu já aceitei que pra mim o normal será o melhor, Katinha... E eu, sei lá, até gosto. Simone deu os ombros como se realmente não fizesse mais questão daquilo, como se não fizesse mais questão da sua... felicidade?

-Você é uma mulher tão corajosa, Sisa! Incentiva que devemos mudar, que devemos nos reinventar, sair do normal! É a primeira a querer transformar tudo a sua volta! Katia falava empolgada das boas características da amiga, e em seguida suspira pesadamente, com um olhar carinhoso -Ô minha amiga, pega um pouquinho só da coragem da senadora Simone Tebet e leva pra Simone que você é em casa, sim? É um pedido de amiga

-Eu vou tentar, Katinha... Eu vou tentar. Simone aperta a mão da amiga em forma de agradecimento e oferece um meio sorriso

Em poucos minutos elas já estavam no prédio onde moravam, Kátia estacionou o carro em sua vaga e ambas desceram rumo ao elevador.

Como 2 e 2Onde histórias criam vida. Descubra agora