Fairmont

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Despertei do meu transe ao ouvir os barulhos das buzinas, ensurdecedoras, por sinal. O trânsito havia andado e eu ainda estava no colo de Alessandro, uma perna de cada lado do seu corpo e devo confessar que eu estava surpresa com o espaço que aquele carro popular podia abrigar. Sob protesto dos barulhos insuportáveis eu prontamente me voltei ao banco do passageiro, com certa dificuldade e desespero, claro. Pude observar certa tensão nos olhos de Molon, ao passo que ele se recompunha, fechava a sua calça e voltava a dirigir, se eu não estivesse em um estado igual ou pior, fechando minha blusa e passando a mão nos cabelos para tentar disfarçar a bagunça, com certeza eu teria achado graça da situação.

- Nós não acabamos por aqui, Senadora. Óbvio que ele não poderia deixar de fazer alguma piadinha de mau gosto, com aquele maldito sorriso de canto

Aquela frase me apertou o peito, revivi em segundos aquilo que acabara de acontecer e o mantra volta à minha cabeça: "Você é uma mulher casada e senadora da república...", e se alguém tivesse visto? E se os passageiros dos outros carros tivessem percebido que se tratavam de dois parlamentares?

Respiro fundo e tento voltar ao meu estado racional, aquilo seria impossível, é claro, o vidro fume não permitiria que ninguém nos visse e o carro era o pessoal de Alessandro, ou seja, nenhuma sinalização de ser o carro parlamentar.

Naquele momento sentia ódio de mim, ódio porque me permiti aquilo, ódio porque me sentia culpada e mesmo com esse sentimento me rasgando por dentro eu queria continuar. E eu iria continuar, há muito tempo eu não me sentia desejada, não me permitia viver algo que não fosse o trabalho ou a preocupação em manter certas aparências.

Tentava dissipar a culpa repetindo para mim mesma que aquilo seria apagado e esquecido assim que eu fosse embora do Rio de Janeiro, assim que aterrissasse em Brasília voltaria a ser a mulher do meu mantra, casada, mãe de família e senadora da república que todos conheciam pela austeridade e seriedade.

Mas naquele dia não, ali eu me permitiria ser somente a Simone, pessoa física, mulher, com desejos, vontades e que tanto sente falta do seu lado feminino. Odiava ser tão cretina a esse ponto, mas eu engoliria essa culpa a seco somente para viver uma noite de perdição com Alessandro, e nessa noite não permitiria que a parlamentar certinha me atrapalhasse.

- Pois saiba que o que você acabou de fazer comigo não é nada apropriado para se fazer com uma senadora, Alessandro. Me permiti soltar um riso descontraído

- Eu achei bem apropriado, na verdade. Ele gargalha e não posso evitar sorrir ouvindo e quando volta a me olha por alguns segundos sinto cada parte do corpo se arrepiar. - Acho que convenci você a comprar um carro popular, não?

- Ha-Ha-Ha, nunca na vida! Pausadamente ironizei a minha risada - Garanto para você que na minha SUV teria sido mais confortável para dois jovens senhores como nós fazerem isso

- SUV, o hotel mais caro de Copacabana, o que mais, Senadora? Quais são os gostos caros de vossa excelência? Ele pergunta em meio a risos irônicos e leva uma das mãos a minha perna apertando de leve enquanto dirige.

- Todos os que eu mereço, Alessandro, ou você acha que eu ficaria naquela... Naquela coisa que vocês escolheram em Niterói?

- Se estivéssemos naquela "coisa" Ele tira a mão da minha perna e faz aspas no ar. - Nós já estaríamos fazendo outras coisas muito mais agradáveis, senadora, mas o seu gosto caro está me obrigando a atravessar a Rio-Niterói só para te fazer se sentir mulher na minha cama. Ao falar a segunda frase, seu tom ficou sério e sua voz levemente rouca, claro que aquilo me causou um incomodo no ventre no exato momento em que aquelas palavras me atingiram, me controlei para que o mesmo não transparecesse, não mostraria que ele estava no controle tão facilmente, por mais que fosse tudo que eu queria.

Como 2 e 2Onde histórias criam vida. Descubra agora