Capítulo 30 - Let's Bora

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"E o meu amor é puro

Pode crer, meu bem, eu juro

É tão grande que eu duvido que outro igual possa haver." – Roberto Carlos

Subi as escadas com pressa, mas com cuidado apesar de já estar completamente curada da cesariana, eu ainda não me sentia como eu mesma depois do parto. O primeiro mês foi o mais difícil, sentia um incomodo ao sentir os órgãos se movendo dentro de mim. Os sentimentos conflitantes por causa do hormônio do puerpério era uma loucura, eu chorava por qualquer coisa.

Depois que o primeiro mês passou, a estranha sensação dos órgãos voltando para o lugar já não era tão frequente, mas eu ainda evitava correr ou fazer qualquer tipo de esforço. A parte boa era que minha barriga tinha voltado para o lugar, ela não era a mesma de antes da gravidez, mas como eu havia engordado só cinco quilos eu conseguia entrar nas minhas roupas antigas.

Eu voltei a trabalhar depois de exatos 45 dias que a Malu nasceu, recebia muitas oportunidades para fazer publicidade com meu novo pacotinho, mas eu não aceitava. Não queria ganhar dinheiro dessa forma, aliás, a minha perspectiva sobre a forma que eu vinha conduzindo a minha carreira havia mudado. A sensibilidade que eu sentia durante aquele período me fez enxergar a fama de uma forma completamente diferente.

Eu sentia que a fama era só uma forma de colocar as coisas em evidência, a pessoa poderia utilizar aquilo só em prol do próprio trabalho e ganhar bastante dinheiro, mas poderia utilizar de forma mais consciente e em prol de causas sociais importantes. Eu recebia muitos presentes desnecessários, porque eu podia comprar tudo que eu quisesse, aquilo me fazia sentir especial, mas recebia inúmeros pedidos de ajuda de tantas pessoas que eu achava que aquele dinheiro gasto comigo poderia ser melhor aproveitado, por isso inventei o sextou do bem. O sextou do bem foi a forma que eu encontrei de colocar em evidência causas sociais que mereciam o destaque e o dinheiro que só a fama pode proporcionar.

Rodolffo parecia sentir de forma parecida, mas ele já fazia as coisas de forma diferente. Ele ajudava as pessoas da forma mais discreta possível e aquilo me deixava tão encantada com ele. Eu só descobri isso porque Malu nos forçou a ficar em casa e compartilhar os dias de trabalho; era engraçado descobrir coisas novas da pessoa que eu tinha mais intimidade na vida, de alguma forma era como expandir a nossa intimidade e companheirismo para além do óbvio.

Malu dormia em meus braços, o sono pesado que me fazia ter certeza que ela dormiria por pelo menos quatro horas seguidas. Cecília não parecia diferente, estava quieta coçando os olhos e bocejando, pensei em levá-las para meu quarto, mas a vontade que eu estava de me espalhar na minha cama sem me preocupar em esmagar nenhuma criança me fez seguir para o quarto da Malu. Depositei ela no berço, enquanto fechava as cortinas e ligava o ar-condicionado, Cecília deitou na cama e dormiu imediatamente, pensei em acordar ela e dar um banho, mas apenas tirei suas roupas sujas e passei um toalha úmida em seu corpo suado de tanto brincar, depois a cobri com um cobertor grosso de Malu e dei um beijinho em meu pacotinho, cobri Malu antes de sair do quarto.

Segui pelo corredor cansada, pensado no banho quente e na minha cama. O dia havia sido puxado, entre levar as meninas no pediatra, depois seguir para a ginecologista e finalmente ser liberada, depois de dois meses, para seguir minha vida normalmente. Ainda tive uma reunião sobre fazer alguma coisa que colocasse em evidência minha vida musical que estava parada, mas era algo que eu gostava de fazer. Depois ainda teve a festa de aniversário de Dona Vera, ela estava feliz com a presença da neta, mas chateada que Rodolffo ainda não havia aparecido para lhe abraçar.

Rodolffo e Israel tinham viajado para uma reunião com os seus produtores e investidores em São Paulo. Rodolffo queria diminuir o ritmo de shows por pelo menos um ano, mas Israel discordava. Essa divergência vinha causando diversos discussões entre eles, mas eu sabia que no final eles chegariam a um acordo. Fiquei preocupada porque ele já deveria ter chegado, puxei o celular do bolso enquanto abria a porta do quarto.

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