Meus pulsos estavam sendo apertados pelas algemas. Um homem vestido a paisana me direcionava entre as tantas selas da Penitenciária.
Já havia pegado o meu tempo de cadeia, seria de seis anos, mas reduziram para quatro, por pedido de Camila.
Assim que o homem, que me acompanhava, soltou as algemas e, praticamente, me jogou na sela, pude notar uma risada abafada.
- Quer uma ajuda aí, jovem? - uma voz grossa me Interrogou ao me ver no chão.
- Não precisa... - respondi tentando ser gente boa.
Assim que me ajeitei e já estava de pé, notei o homem que acabara de falar comigo. É alto e musculoso, pele branca quase completamente coberta de tatuagens, olhos negros, típica roupa alaranjada da penitenciária, com uma barba curta e cabelos ambém brancos. Aparentava ter em torno de 30 a 35 anos, talvez fosse "calouro" aqui.
- A partir de hoje, esse "jovem" aí - O policial dizia fechando a grade, se apoiando na mesma, e fazendo aspas com os dedos - Vai ser seu companhia de sela. Espero não ter que resolver problemas entre os senhores, não quero sangue nessa sela, okay? E, garoto, não se ache o fodão aqui dentro não tá? Me poupe trabalho! - completou saindo.
- Yidan - O homem se aconchega em sua "cama".
- Hum?
- Me chamo Yidan - retrucou colocando as mãos no pescoço. - E pode se sentar, não se preocupe, não curto brigar por território.
- Me chamo Adam... E obrigado. - Me sentei em uma cadeira de frente para uma mesa.
- Então, Adam, o que fez lá fora para estar aqui dentro agora? - me Interrogou colocando os brancos em suas pernas, olhando fundo em meus olhos.
- Eu matei um cara. - Disse me lembrando da Lyssa...
"Porra, Adam, não é hora de pensar nela, ela já deve ter te esquecido..."
- Estava devendo drogas a ele? - Interrogou sincero.
- Quem dera fosse. - Sorri coçando a nuca - Ele iria estuprar uma mulher, mas consegui mata-lo antes, consegui protege-la.
- Uma mulher? Certeza de que era só uma mulher? Ou... Era a sua mulher...?
- Era minha... Ou queria que fosse. - olhei para meus próprios pés - Mas por que a pergunta?
- É nítido seu olhar brilhoso ao falar que conseguiu proteger ela. Mas a pergunta é: Valeu a pena matar por ela?
- Valeu cada gota de sangue daquele desgraçado... - cerrei os punhos. - Mas e você? O que fez para estar aqui? - desviei o assunto para não passar a impressão de ser um chorão no meu primeiro dia de cadeia.
- Estrangulei uma criança. - Disse simplesmente, e eu o olhei assustado - Ou pelo menos é o que dizem que fiz...
- E não fez? - perguntei já com mais alívio do que ele poderia falar.
Ele apenas soltou uma risada abafada novamente e baixou a cabeça.
- Não, jovem, não fiz. Nunca mataria uma criança, mas estou disposto a matar a pessoa que fez essa afirmação. - Cerrou os punhos assim como eu tinha feito, mas pude ver sua indignação alterada.
- E por que acha que iria te incriminar?
- Eu devia a máfia italiana, e como não consegui pagar o empréstimo, Ameaçaram de matar e estrangular a pessoa que eu mais amava, e foi aí que eu matei várias pessoas, todas elas tinham o intuito de matar o amor da minha vida. Quando iria matar o líder, fizeram uma emboscada. Pegaram o corpo de uma criança desmaiada e fizeram com que a polícia chegasse na hora que eu estava tentando reanima-la. E aqui estou eu.
Fiquei em silêncio, pude sentir a sua dor. Ele só queria proteger a pessoa que ama e acabou sendo preso.
- "Um homem forte se defende sozinho, um homem mais forte defende os outros" - Ele dizia com um leve sorriso em sua boca.
- Isso é uma frase de um filme de bichos. - Sorri.
- Era o filme que minha filha mais gostava...
- Gostava...? - suspirei pesadamente ao ligar os pontos.
- O amor da minha vida era minha filha, e pegaram o corpo dela para me fazer cair em uma emboscada. Eu jurei que ela estava só desmaiada... Até perceber as marcas no pescoço dela, e assim que fui toca-la, ouvi as sirenes da polícia...
- Eu... Sinto muito. - Notei seus olhos marejados.
Continuamos conversando. Descobri que a ex-mulher dele era uma prostituta que se vendeu pra um cara rico e saiu do país deixando a garota com ele. Descobri também que ele está com 15 anos de prisão, não só pelo "estrangulamento", mas também por assassinar várias pessoas. Já estava cumprindo 13, faltava apenas 2 anos para ele sair.
- Mas assim que sair daqui, vou atrás da Lyssa, e vou fazer de tudo pra que ela confie em mim. O mais difícil vai ser despistar Camila.
- Essa Camila... Ela é alta, branca, de cabelo preto na altura dos ombros? - Me Interrogou assim que terminei de contar minha história.
- É... - tombei um pouco a cabeça para o lago, em forma de desentendimento.
- O "marido" dela se chama Ruan, não é? - Fez aspas com o dedo.
- Não vai me dizer que...
- Sim...
- Desgraçada! - falamos juntos.
[...]
1 semana depois
- VAMOS SAIR AGORA, LYSSA. DAQUI A POUCO CHEGA UMA VISITA E QUERO QUE A RECEBA ATÉ A GENTE CHEGAR, OUVIU?!?!!? - Gritou.
- QUANTAS VEZES EU VOU TER QUE DIZER QUE ESTOU DO OUTRO LADO A PORTA E NÃO DO MUNDO??? - Gritei logo me sufocando com o travesseiro.
- Receba a visita, tá bom?
- Tá tá!! - resmunguei ao perceber que ela já foi.
Poucos minutos depois ouvi alguém tocar a campainha.
- Argh, ninguém merece! - desço as escadas e vou até a porta. - O que foi que esqueceu dessa vez, Camila?!?!? - Coloquei a mão na cintura e resmungava enquanto abria a porta.
- Desculpa, meu amor, mas acho que não esqueci nada, e nem sou a Camila. - Sorriu a pessoa que estava a minha frente.
- O que está fazendo aqui? - Meu sangue ferveu ao ver aquele rosto.
- Não precisa falar assim comigo, princesa, a sua mãe me convidou!
- E ainda ousa me chamar de princesa! Vai se fuder, Abel! - Quando ia fechar com tudo a porta, ele coloca o pé, para que não possa fechar.
- Anos sem se ver e você me trata assim? Eu não te dei amor e carinho? E você me dá só ódio?
- Se amor e carinho for fuder comigo e depois ir em bora como se eu nunca existisse, é! Você me deu amor e carinho! E se ódio for querer te matar agora, é! Eu vou te dar ódio! - Cerrei os punhos.
- Prefiro que me dê outra coisa... - Sorriu com malícia se aproximando e agarrando minha cintura.
- Vou te dar é um tiro, desgraçado! Me larga! - Me debatia contra seus braços.
- Vindo de você, eu aceito... - Se aproximou de meus lábios. Selando os meus com os deles, em um selinho casto.
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Starboy - Perdição
NezařaditelnéAcho que não tenho sorte. Já fui maltratada por minha mãe, nunca tive muita intimidade com meu pai, ambos me abandonaram, morei com meu tio, que por coincidência me estuprou... Talvez a única coisa "boa" que me aconteceu foi ganhar uma bolsa na UCLA...