Capítulo Sessenta e Seis

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Anastásia

-- Você acha que algum dia a Emma vai falar? - Questiono meu irmão assim que descemos do táxi em frente a nossa casa.

-- Provavelmente não - ele para de frente a porta e suspira. -- Ao menos não conosco. - Balanço a cabeça concordando, definitivamente ela não vai falar.

Já dentro de casa meu corpo pesa de cansaço. O dia foi longo e foi como se eu estivesse vivido um ano ou mais em apenas vinte e quatro horas.

-- Vou tomar... - Fred avisa já subindo as escadas. Pesco meu celular na bolsa e estranho não ter nenhuma chamada ou mensagem do Christian.

É ele, coloco a mão no meu coração, pois finalmente senti a emoção genuína. Ela não veio como se fosse me esmagar, ela veio calma e serena. A emoção que me fez se dar conta do quanto o Christian é importante veio de uma tela de celular em branco, veio de passar o dia todo praticamente sem notícias, veio de uma saudade imensurável de respirar seu perfume e sentir o beijo na minha testa.

-- Você ainda está aí? - Ouço a voz do Fred de longe... -- Vai querer comer o quê?

-- Fred, eu preciso visitar a vovó!

Christian

Observo atentamente Dona Grace andando pela cozinha enquanto estou sentado no balcão. Mamãe sempre foi uma mamãe, ela era uma mulher, trabalhava fora, era independente. Porém quando estava conosco, ela era uma mamãe.

Talvez eu não tenha percebido isso na época, mas eu sentia. -- Prontinho, seu café do jeito que gosta. - Ela me sorri enquanto coloca a xícara ao meu lado no balcão e se senta na banqueta de frente á mim. -- Tenho lembranças enormes de vocês três sentados nesse balcão. - Me informa enquanto beberica seu próprio café.

-- Me desculpe, mãe.

-- Pelo o quê? - Ela está serena e me olha sobre a xícara.

-- Acho que nunca fui um bom filho.

-- Você foi o melhor filho que poderia ser Christian. - faço menção de falar, mas ela não deixa. Mamãe deixa sua xícara de lado, levanta da baquete e se senta ao meu lado no balcão. Sem dificuldades, dou um sorriso. -- Ainda estou em forma bobinho! - me sorri.

-- Não falei nada! - dou uma risadinha sem graça.

-- Mas pensou! Christian, você é meu filho de todas as formas possíveis, é o meu amor. Meu amor desde o primeiro dia que te vi, desde o dia que soube da sua história. Você é filho do papai desde o seu primeiro dia, você é o irmão do Elliot desde o primeiro dia, e se tornou irmão da Mia no primeiro instante que a viu. E eu nunca na vida quero ouvir você dizer que não foi um bom filho!

-- Demorei anos para dizer mamãe, demorei anos para demonstrar qualquer coisa.

-- Você me chamou de mamãe a vida toda. A cada ralado que você corria para mim, cada hora do dia que eu chegava do trabalho e você queria ficar comigo na biblioteca, cada flor que você me dava arrancada do jardim durante a manhã e colocava na minha bolsa. - Olho espantado, ela sempre soube? E como se lesse meus pensamentos. -- Eu sempre soube! Eu fui chamada de mamãe todos esses anos, você me deixou te amar e isso é tudo que uma mãe de coração quer.

-- Eu te amo muito, mamãe e tudo que sou é graças a você! - Falo tão disparado como se precisasse colocar para fora de uma vez. Seu braço passa pelo meu, ela recosta sobre meu ombro. É uma sensação de alivio, receber seu toque pela primeira vez não tem nada além de alivio e aconchego, eu sinto que mereço esse amor!

-- Você é meu amor e sempre será meu amor. Obrigada por ter aceitado o meu amor! - Sinto minha camisa molhar, ela está chorando.

-- Não chore! - Aperto sua mão.

-- É choro de amor, é choro de liberdade, é choro de ver que meu filho aceitou o que sempre mereceu...

-- Mamãe... é... eu... - Minha voz não saí!

-- Eu sei, você encontrou o amor que merece e isso te fez enxergar tudo a sua volta. É isso que amor faz, Christian... - Mamãe tira a cabeça do meu ombro e me faz olhar para ela. -- É agora que me pede o anel? - Ela sabe, ela sempre sabe!

Elliot

-- Você me amou? - Ouço Kathe perguntar. Não tem nada na voz que detecte algo ruim, foi feito como uma pergunta simples. Entretanto me fez divagar sobre minhas emoções e ela percebe. -- Sabe não me entenda de maneira rude, mas pensei muito sobre isso nos últimos dias, entende? E eu acho que no fundo a gente não se amou, talvez a gente se curou ou tentou se curar.

-- Você não está brava comigo? - estou um pouco chocado.

-- Não, talvez magoada. Só que se alguém deveria estar bravo com alguém seria você, né? Eu meio que sumi!

-- Sua irmã precisava de você, não tinha o direito de ficar bravo, Kathe. - Tomo meu café já frio. -- Como ela está?

-- Bem, não ótima, não excelente, porém bem e isso já é um grande avanço. - Dou um sorriso largo e aperto sua mão sobre a mesa. -- Fico feliz e aliviado.

-- Sei que sim, eu sinto! Agora responde minha pergunta. - Kathe sendo Kathe e de quebra ganho um tapinha na mão.

-- A gente se ama Kathe, não um amor romântico, mas é um amor. A gente se cuidou, se entendeu e tentou realmente se curar, todavia esquecemos que não da para curar algo que não tem cura.

-- Eu concordo. - Coloca a mecha do cabelo atrás da orelha. -- Talvez se as figuras de nossos ex's não tivessem aparecido, a gente ia continuar indo.

-- Nunca quis te magoar e espero que isso tenha ficado sempre muito claro! - Falo firme.

-- Sim, mas não querer não faz com que não aconteça. E está tudo bem Elliot, magoar alguém que gostamos também faz parte.

-- Você é incrível e merece alguém que te faça se sentir ainda mais incrível! - Ela balança a cabeça concordando.

-- Hoje eu sei disso, e se sei disso é exclusivamente por sua causa. Então, obrigada, Elliot! - Katherine Kavanagh se levanta de seu lugar e segue seu caminho, talvez, não com certeza muito mais corajosa do que eu.

Continua...

O AcordoOnde histórias criam vida. Descubra agora