" Me deixe entrar..."

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Tommy

Depois do choro Simone ficou em silêncio novamente, mas agora seus pensamentos tinham um trabalho incomum pra tratar. A indecisão em como reagir, como lidar com os sentimentos e o que fazer...    

Ela suspirou pesado e entre abriu os lábios, parecia procurar o que dizer.   

-- Peça a Ronaldo que cuide de tudo, passe as informações e os trabalhos pra ele. Vamos voltar ainda hoje pra casa. - ela soou convicta, com um olhar distante.    

Assenti e fui fazer como ordenado. Ainda que tivéssemos intimidade e eu fosse uma das pessoas que Simone mais confiasse,ela era minha patroa, eu ainda lhe devia respeito e lealdade acima de tudo.    

Confesso que era bom vê-la se por em primeiro plano. Isso não acontecia a anos, sempre era as filhas, assuntos de família, ou negócios importantes e inacabados na máfia.    

Era bom participar e ver que agora ela poderia estar no mínimo pensando em dar uma chance a si mesma.    

Simone tebet 

Dois dias na Colômbia, foi tudo que passamos. Resolvi tudo pendente ainda aquela tarde, negociei o que era negociável e adiei o que era possível e não cabia ao meu irmão realizar.    

Um carro nos levou até o aeroporto ás 20:00 e embarcamos em meu jatinho particular com destino a Minnesota. O silêncio na cabine era intenso, Tommy me analisava enquanto eu me mantinha quieta.    

Meus pensamentos estavam me aniquilando, cada voz soando em alto e bom tom me pedindo para deixá-la entrar, fazê-la ficar, me fazia querer desaparecer.    

"Deixe-a entrar; Deixe-a ficar"   

Era assustador tentar abrir o coração e deixar que alguém tome espaço, ocupe o vazio e torne dele um lugar melhor.    

E por mais que eu soubesse e todos não poupassem palavras em relembrar de que eu nunca teria paz pelas atrocidades cometidas, eu sentia,sentia muita paz somente ao lembrar do seu sorriso bobo.    

Os lábios atrativos e rosados, rostinho corado e sorriso apaixonante me tiravam da linha, me tiravam o controle e isso me deixava irritada. Aqueles malditos cabelos loiros  me deixavam desejar puxa-los a trazendo para mim, seu corpo torneado me fazia querer tê-la em meus braços.   

E seu jeito doce e gentil me chamava para ficar em seus braços, pedindo que eu me permitisse sentir e deixar-me ser humanamente amada outra vez se assim fosse recíproca a vontade da jovem loira.    

--Sem você ela tem andado desanimada, desconcentrada e inquieta. - ele disse como se pudesse ler meus pensamentos.    

-- Anda pedindo informações... - sorri de canto.    

--São meus homens, e no fundo você quer saber.    

Eu só queria mesmo era mantê-la segura como nunca mantive outro alguém. Queria seu patamar de segurança avaliado e balanceado como os das minhas filhas,queria-a viva.    

Mas talvez eu não fosse o exemplo de pessoa que ela merecesse ter.    

--Apenas limpe ela do mapa, em alguns meses ela estará bem, e quando for embora,encontrará alguém bom o suficiente e talvez com alguns dias nem recorde meu nome. - soei enganando a mim mesma.    

-- Sisa... - ele tentou relutar.   

--Eu prefiro que ela esteja longe de mim, nos braços de outro alguém a vê-la morta como Isabelly.    

Pessoas ao meu lado tendiam a morrer, isso era inevitável. Minha família estava em perigo quase sempre, minha vida era um fio de pólvora próximo a bombas esperando para ascender e por fim explodir...    

Eu não queria que Soraya queimasse e explodisse comigo.    

-- E quando ela for - minha voz falhou, minha garganta travou e meus olhos marejaram. As vozes gritaram me pedindo pra parar,as ignorei. - Manterá homens a distância protegendo-a e quem quer que seja que ela ame.    

Tommy assentiu em silêncio.    

Não demorou muito e chegamos a Minnesota. Eram cerca de 02:34 quando chegamos em casa. Estava escuro, tarde e ninguém sabia que voltaríamos...    

Mas lá estava Janja e a mulher que me tirava do inferno e me levava aos céus em questão de segundos.    

Ambas estavam na cozinha enquanto faziam algo pra comer, quando passei pela sala notei que tinha algo pausado na TV. Elas pareciam estar se dando bem nesse curto período de tempo...    

--Reconheço seu perfume de longe, idiota... - ela soou tediosa com um sorriso lindo no rosto e correu em passos rápidos pra me abraçar.    

Beijei sua bochecha e ela pareceu mais aliviada por saber que eu havia voltado.   

Soraya se manteve estática e me deixou um sorriso de canto quando me viu. Seus olhos brilhavam e eu pude sentir calmaria outra vez.   

Aquele sorriso quebrou todos os meus planos...    

Janja voltou pra sala e eu fiquei a sós na cozinha com a loira. Ela me olhou esperando uma atitude e então eu fiz. Caminhei até ela em passos lentos e ela me abraçou pela cintura deitando a cabeça em meu peito.    

Eu estava falhando...    

--Senti sua falta... - ela soou rouca e baixo, tímida.    

Suspirei aliviada involuntariamente.    

Mas não deveria Soraya... não deveria sentir.    

Poderia me odiar ao menos um pouco por ter tornado sua vida uma imensa bagunça e deixar um pouco mais fácil meus planos de te manter longe?    

-- Senti medo.    

--Acompanhei cada passo seu. - confessei em bom tom. - Não precisa sentir medo, estou aqui...   

Eu estaria sempre aqui.    

--me deixe entrar... - sua voz doce
soou próximo aos meus lábios e eu me senti flutuar, me senti ter o universo em mãos.   

Soraya me beijou com lentidão e involuntariamente, contra minha racionalidade, permiti que Soraya que consumisse, me deixei levar e naquele estande soube...    

Soraya nunca foi meu inferno, era minha representação de paraíso.    

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