Identidade Revelada

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72 horas antes...

Soraya Thronick

A cada beijo deixado em meu corpo podia me deixar também a sensação de estar levando um pedaço de mim. Simone me tocava com pureza, carinho,despedida.

As peças intimidas de renda, vestidas por mim foram retiradas com tamanha maestria. Seu corpo semi nu subiu sobre o meu e os beijos lentos recomeçaram. Suas mãos passeavam por mim com cautela, parecia querer guardar em memória cada parte de mim. Simone me teve por horas, com carinho, lentidão e atenção. Havíamos feito de uma forma nunca feita antes, e aquilo de algum jeito me trazia expectativa de dor.

-Por que eu sinto que está se despedindo? - questionei entre o beijo.

Ela paralisou, me olhando com carinho. Minhas mãos sobre seus ombros desceram mais um pouco acariciando suas costas definidas. Em silêncio ela retirou alguns fios de cabelo que insistiam em cair sobre meu rosto, um beijo molhado foi deixado em meus lábios.

-Não estou me despedindo, meu bem. - aquilo soou tão doce, mas tão mentiroso.

Seu olhar quebrado, e parcialmente vazio me
mostrava seu verdadeiro estado. Ela mentia pra mim, e eu aceitava. Ela escondia de si, ocultando o medo, e eu permitia. Seus olhos marejaram enquanto olhava para os meus, um sorriso doloroso escapou dos seus lábios rosados e a expressão chorosa foi proibida assim que ela conseguiu controlar.

Ela tinha uma constelação no olhar, e eu sempre fui apaixonada por estrelas.

-Não vai, por favor. - pedi em um sussurro. - Sinto que não posso te deixar ir...

- Ei... está tudo bem, prometo. - ela pareceu um pouco mais sincera.

Seu corpo se aninhou ao meu em um abraço apertado. Eu podia sentir sua respiração compassada próximo ao meu pescoço. Meus dedos deslizavam por quase toda extensão de suas costas, percorrendo a área e arranhando lentamente com a ponta das unhas.

No início ela retirou minhas dores e me mostrou a importância de confiar e se permitir amar novamente. Mas eu podia sentir que ela faria pior do que todas as outras pessoas no meu passado.

(...)

48 horas antes...

Simone Tebet

Ligação:

-estamos tentando fazer uma negociação com a CIA. Sua identidade foi descoberta e de acordo com nossos informantes, tem bunkers já sobre policiamento em busca de você.

Respirei fundo por alguns segundos e Soraya me olhou confusa. Mudei a expressão facial tentando demostrar a ela que estava tudo bem, mas era impossível. Tínhamos nossas mãos entrelaçadas enquanto caminhávamos em silêncio para o jatinho.

-Quem é o líder da operação? - questionei com um fio de esperança.

-Na Colômbia, Juan Pablo.

- Então é em todos os países latinos? - questionei confusa e ele confirmou. - Droga!

-Sinto muito, senhora. - aquilo soou tão doloroso por parte dele.

Estávamos em queda livre, prestes a atingir o solo. Haviam obstáculos, mas não soluções.

-Não sinta. - pedi baixo. - Peça ao Joe que evacue o bunker. Chego em algumas horas.

- Não pode fazer isso, senhora. É loucura... - o interrompi.

-Apenas faça o que pedi. E... se cuida.

(...)

Soraya dormiu o voo inteiro até o Brasil e eu agradeci por isso. Tommy estava ao meu lado esquerdo enquanto mexia apressadamente no notebook, apagando evidências dos integrantes da Máfia. Corríamos risco assim que entrássemos em solo americano, e o dever dele era amenizar nossas provas.

-Podemos tentar um suborno. Ou um sequestro e ofertarmos uma troca.

-Não sei quem está por trás disso para orquestrar um sequestro de um familiar próximo. Não daria tempo de descobrir, minhas filhas estão em risco, Tommy.

-A tentativa de sequestro deles falharam. - ele disse sério. - Não vou deixá-los te tirar de mim e nem tocar nas gêmeas.

- Vai deixá-los me tirarem de você, porque não temos outra solução, Tommy. - eu o encarei seriamente e ele engoliu em seco. - Todos tem um fim e esse é o meu.

Seus olhos escureceram por sua pupila dilatar, os azuis belos agora estavam tão escuros como a profundeza do oceano.

- Pode ser um governador, um presidente, qualquer um de gravata e terno. - eu disse sugerindo.

-Dou um jeito de descobrir. Ainda temos algumas horas, isso me parece suficiente.

-Não posso fugir e me colocar como procurada no mundo inteiro. Além de ser presa, minhas posses e aquisições ficariam sobre comando do FBI, INTERPOL e milhares de outras organizações policiais. Minhas filhas teriam a reputação arruinada, perderiam a guarda delas e além disso elas viveram uma vida miserável.

- Podemos tentar outra forma, Simone...

Eu sorri com seu extinto protetor tentando de todas as formas me manter bem. Tommy sempre me representou uma figura paterna exemplar, um belo homem de caráter impecável. Ações calculadas e extremamente gentis. Cuidadoso e bondoso com nossa família.

- Em algumas horas verá meu rosto estampado em sites de fofocas, programações de TV. - ele me olhou com os olhos marejados e Soraya se mexeu um pouco, me abraçando mais forte em meio ao sono pesado. - "Simone tem identidade revelada"... Ou, não saberá. O Juan sempre teve o sonho de me encontrar, eu o manipulei o quanto pude e isso acabou. Ele me tem nas mãos e agora pode fazer o que bem quiser.

Ele respirou fundo, Tommy tinha medo da morte.

-Eu nunca pensei muito sobre a morte, ou o sentimento de estar morrendo. Mas morrer pelas pessoas que amo, me parece uma boa forma de partir.

(...)

Me expressei bem o bastante para deixar a loira tranquila quando a ajudei levar as malas até o terminal. Aeroporto internacional do Mato grosso do sul, onde seus pais chegariam em alguns minutos para buscá-la. E como não era de vontade minha, nem dela, nos despedidos com beijos um tanto rápidos e abraços quase inseparáveis antes que seus pais chegassem.

- Nunca retire isso, é minha forma de estar com você. - pedi baixinho enquanto a mostrava de forma indireta o bracelete vivara ainda em seu punho.

- Não vou tirar, prometo.

A beijei uma última vez, e ela sussurrou uma última vez pedindo que eu ficasse. Que eu desistisse dessa viagem pois algo a fazia se sentir mal...

-Voltarei em breve... - finalizei em um sussurro antes de me afastar.

Virei de costas, saindo em impulso quando não consegui mais conter as lágrimas. Coloquei óculos escuros por mais que o sol ainda não tivesse nascido e caminhei rapidamente para o jatinho. Minhas roupas escuras e a pouca quantidade de pessoas no aeroporto tornava tudo mais fácil.

Lá Márfia | SIMORAYA Onde histórias criam vida. Descubra agora