Não diga a ela!

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Narradora

As mãos da mafiosa tocaram o rosto angelical da esposa que dormia em fraqueza sobre a maca hospitalar. E enquanto tocava-a com sede de vida, tudo que sua mente perguntava era: "O que fazer?" Mas sua única resposta era: "Sou tão impotente"

-Eu sinto muito... - sussurrou com a voz arrastada e os olhos marejados. - Meu amor... eu sou tão impotente.

As lágrimas queimavam sua pele, ao mesmo tempo em que segurava a mão feminina. A aliança de casamento ainda estava lá, e agora parecia brilhar como nunca. Entretanto, os lumes castanhos não a buscavam com desejo e afeto, estavam fechados... em um sono profundo, com baixa imunidade, em reação a sua péssima condição. Em coma induzido, para uma melhor recuperação.

- Tudo que eu prometi foi proteger você. - sussurrava entre suspiros dolorosos. - Tudo que prometi foi proteger vocês... - tocou o abdômen aonde habitava sua criança. - Perdão.

A egocêntrica Simone baixava a cabeça, seu complexo de Deus já não parecia tão alimentado. Era apenas uma mera humana esperando com toda sede existente em si, pela recuperação do seu verdadeiro amor. Sua alma profana nunca gritou tanto por alguém, como gritava agora.

Ela já não parecia ter o mundo nas mãos...

Seu olhar singelo pairou sobre a pele bronzeada, enquanto seus dedos entrelaçavam-se aos dela com ainda mais vontade. Um beijo foi selado em demora, na testa. Com carinho exacerbado. E então seus dedos sutis da mão livre, acariciaram a face já sem expressão vivida.

- Não me deixa sozinha... por favor. - pediu baixinho. - Demoramos tanto pra nos encontrarmos, eu quero mais tempo com você. Você não pode ir assim, não é? Me prometeu!

Ela sorriu em meio as lágrimas e por alguns segundos se viu silenciosa, enquanto tentava segurar o choro quase incontrolável.

-Seja minha garota teimosa mais uma vez, e recuse ir... - pediu. - Eu imploro.

Simone engoliu em seco, e fechou os olhos por alguns segundos, recusando-se a encarar a mulher que tanto amava, naquelas exatas condições. Seu interior tremia em remorço, culpa, ódio. Questionava-se onde havia errado? Talvez se tivesse acordado um pouco mais cedo? Mas estava tão cansada...

- Vamos perder a criança? - questionou tristonha assim que Liz entrou no quarto juntamente da obstetra, segurando algumas medicações.

-Eu não sei... - a garota disse baixinho, ao aproximar-se mais.

Simone assentiu silenciosa e enxugou as lágrimas, entretanto permaneceu ali. Enquanto a ruiva separava os equipamentos que usaria para fazer a ultrassonografia morfológica. Qual revelaria a formação do bebê, e se ele ainda sobreviveria. Se era mesmo uma pré-eclâmpsia, já que o exame de urina não havia apontado excreção de proteínas.

-Quer que eu explique o procedimento? - questionou paciente após alguns minutos distante, recuando para que Simone tivesse seu tempo.

-Faça. - ordenou sem muita paciência.

-Analisaremos a criança... e se for mesmo uma pré-eclâmpsia... - mal começou e Simone a interrompeu.

-Fará um parto prematuro. - sorriu frustrada em meio as lágrimas.

-A pré-eclâmpsia pode ser leve ou grave. Quando se torna grave, pode afetar vários sistemas do corpo. A pré-eclâmpsia se não tratada precocemente pode complicar a gravidez, trazendo risco de morte para mãe e bebê. Na mãe causa edema cerebral, hemorragia cerebral, insuficiência renal, insuficiência cardíaca e desprendimento prematuro da placenta da parede uterina. Esse desprendimento ocasiona hemorragia vaginal e afeta o fornecimento de oxigênio e de nutrientes que o feto precisa, e este pode morrer. Mesmo que a placenta não se desprenda, a hipertensão pode reduzir o fornecimento de sangue que a placenta recebe e retardar o crescimento fetal. Ou seja, como ela reduz o fluxo de sangue para a placenta, é perigosa para o bebê, restringindo o crescimento dele. Além disso, se a pré-eclâmpsia evoluir para a eclâmpsia, a pressão arterial sobe demais, colocando mãe e o bebê em grande risco. A eclâmpsia pode causar convulsões, que podem levar ao coma sem indução e até ser fatais.

A morena levou as mãos ao rosto, escondendo-o e respirando fundo por alguns segundos. Assentiu milimetricamente a aproximação da obstetra e então a residente ergueu vagarosamente e educadamente o moletom que Soraya vestia. O gel necessário para o exame, foi colocado e espalhado com facilidade.

-O certo é intervir a gravidez e salvar a vida da mulher, não é? - questionou baixinho e a residente assentiu, juntamente da obstetra. - Se for necessário, nem me questionem, salvem ela.

- Torceremos pelo melhor... - disse a médica. - Houveram alterações nos exames dela nas últimas horas, não existem proteínas o suficiente na urina para que determinemos como pré-eclampsia. Possa ser que Soraya venha a não ter essas condições, e por fim consiga manter essa gestação. - ela mencionou enquanto analisava os órgãos da criança. - No tempo calculado, caso tenha... o líquido amniótico já deva ter reduzido. Saberemos por isso.

-Não diga a ela. - pediu paciente. - Se esse parto prematuro for necessário, por Deus! Não diga a ela, que foi ela quem não conseguiu.

Soraya não aguentaria, se culparia por algo que não tinha culpa. E Simone a conhecia bem para saber disso.

-Não vamos precisar dizer a ela... - sorriu fraco, e encarou Simone de canto de olho. - Olha só... temos batimentos, seu menino é perfeito, Larissa.

-Seu garotinho é forte... - ela sorriu gentil, encarando a morena. - Forte como as mães.

O sorriso bobo foi visto rapidamente, e os olhos que antes marejavam em tristeza agora revelavam um brilho incondicional.

-O líquido amniótico se encontra estável, não precisamos de um parto induzido. - a residente avisou paciente e Simone pode voltar a respirar mais tranquila. - Mas precisamos continuar monitorando o bebê.

-Exato. - a obstetra concordou com um sorriso magnífico nos lábios. Estava feliz pela criança, e por ter salvo a própria vida. - Não é uma pré-eclâmpsia.

Liz ficaria responsável pelo monitoramento do bebê aquela noite, realizaria exames necessários a cada 3 horas. E após sair da sala...

-Quanto a minha esposa, o que acontecerá?

-Vamos deixá-la descansar, nutrir bem o corpo dela com vitaminas e minerais nessas próximas horas. Induzi-la a acordar novamente quando julgarmos necessário, e proceder com hidratação venosa calculada. - explicou. - Precisarão ficar alguns dias aqui, para mais alguns exames. Temos que descobrir o que ocasionou essa baixa imunidade tão repentina, aumento da pressão e edema.

-Seja lá o ser divino que for... - disse paciente. - Zela por sua vida, porque eu a tiraria sem pensar duas vezes caso acontecesse algo com ela. - Seu olhar foi direcionado a Soraya. - Eu faço coisas bem ruins, e você sabe disso.

Simone a assombraria até o último suspiro, e quando finalmente morresse... arrancaria seu coração devagar, e repetidamente igual premeditou que a médica fizesse com o seu. Afinal, o bebê não teria chances, e Soraya estaria à beira da ruína se o diagnóstico fosse dado. Precisaria ir às pressas pro centro cirúrgico. Não havia reversão, e a morena entendia isso.

-É... - sorriu com os olhos marejados antes de apertar a mão da morena. - Eu costumo receber esses tipos de ameaças, mas nas suas acreditei. Você é como uma lenda.

-Eu ainda tenho sede de sangue, Kat... - a chamou pelo apelido sorrindo e a médica sorriu.

Aqueles olhos buscavam-a com fogo, como chamas no inferno. Seu sorriso agora mais tranquilo, trazia paz para Kathy, porque ela verdadeiramente sabia do que Anitta era capaz. Aqueles cabelos longos e ondulados, lindos como nunca realçavam sua beleza física. Vestida em peças escuras e bem colocadas, deixavam notória as curvas corporais que tinha. Simone era mesmo uma mulher de extrema imponência e potencial influenciador social.

-Parabéns! Vocês terão um menino. - mencionou antes de elevar as mãos em rendição e sair da sala, com um sorriso excepcional.

Soraya era a rainha de todo seu reino, dona de todo seu império. E nada a tornaria menos que isso.
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Quem está vivo sempre aparece ,não é mesmo? Então pessoal, desculpe o sumiço, fiquei com preguiça. Ksksksk

Irei adiantar a fanfic, pois ela está muito longa! Então nós próximos capítulos vai ser considerado os últimos.

Lá Márfia | SIMORAYA Onde histórias criam vida. Descubra agora