Apaixonada

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Soraya thronick

Passei por Simone assim que entramos na mesma sala que Mafê me levou mais cedo, e ela ficou um pouco mais atrás enquanto fechava a porta. 

A olhei vasculhar uma bolsa Chanel, onde de dentro ela retirou um aparelho telefônico e uma pequena pasta. Se aproximou de mim em passos curtos e notei que seu olhar se tornou severo, mas no fundo havia um pouco de desconforto.   

--Confesso que demorei um pouco pra fazer isso... - ela disse paciente.    

Me mantive em silêncio e estática, ela colocou os objetos sobre a mesa e evitou me olhar nos olhos.    

--O que foi? - questionei baixo me aproximando dela outra vez.    

-- Tommy fez o que pedi a um mês atrás. Você esta livre. - ela disse atenciosa, ainda evitando me olhar. - O aparelho telefônico é descartável então eu recomendo que o use apenas uma vez. Tem o contato da sua mãe... na pasta estão seus documentos necessários e uma quantia em dinheiro, pra caso queira ir embora.    

Ela me analisou enquanto eu observava tudo sobre a mesa.    

--Caso eu "queira" ir embora?    

Ela suspirou pesado, assentindo. A observei engolir em seco, seu maxilar travar e ela ficar aparentemente impaciente.    

--E se eu quiser ir agora? - questionei e a vi fechar os olhos por alguns segundos. Parecia buscar palavras.    

-- Então... - ela me olhou de relance. - Liga pra sua mãe, e avisa que vai voltar pra casa. Meus homens levarão você ao aeroporto mais próximos e de forma indireta garantirão que esteja bem durante todo o percurso. Você não pode voltar a Colômbia, ao menos não agora.    

Assenti em silêncio, ela queria se aproximar mais relutava em fazer. Me aproximei dos objetos enquanto sentia seu olhar incendiar minha pele com tamanha intensidade.    

Busquei a lista de contatos no aparelho telefônico e lá estava apenas um número. "Giselle thronick." Simone engoliu em seco outra vez e vi ela desviar o olhar, escutei sua respiração um pouco mais pesada. Coloquei em chamada e elevei o aparelho até o ouvido, escutei chamar e aguardei...    

Ligação on:   

--Alô.. - seu timbre doce soou paciente e singelo. - Quem é? - ela questionou ao receber meu silêncio.    

--Mãe... - eu disse falho.    

Simone se afastou um pouco, sentindo os olhos marejarem involuntariamente.    

Busquei Simone com o olhar e a vi virada de costas para mim, ela caminhou em direção a porta, dando indícios de que sairia e me deixaria a sós.    

--Onde você esteve? Esta tudo bem? Liguei pro seu consultório na Colômbia depois de não ter notícias e me disseram que você havia faltado muitos dias, depois avisado por meio de um e-mail que fechassem o local. - ela questionava preocupada.    

--Eu viajei... e... - eu disse falha, deixei o orgulho de lado e impedi Simone. - Decidi tirar um tempo pra mim.    

Com a mão livre segurei sua cintura a trazendo pra mim. Ela me olhou nos olhos e seus lábios rosados se entre abriram enquanto eu notava sua respiração pouco descompassada.    

--Senti saudades... - assumi depois do seu silêncio continuo.    

-- Podia passar um período no Brasil com nossa família. - ela disse paciente. - Você sempre soube que te queremos aqui. Existem oportunidades ótimas, esquece isso de trabalhar fora do país.   

simone me encarava com atenção enquanto seu rosto estava a poucos centímetros do meu. Eu podia observar cada detalhe da insegurança estampada em seu rosto.    

--Não posso mamãe. - eu disse paciente. - Fiz descobertas inigualáveis durante esse período... descobri coisas que eu nunca imaginei sobre mim.    

--Como assim, filha? - ela questionou confusa.    

--Me apaixonei.. - saiu em um fio de voz e os olhos de Simone brilharam. Era a primeira vez que eu confessava isso em voz alta, na sua frente. - Me apaixonei por uma mulher...    

Minha mãe ficou em silêncio por alguns minutos.    

-- Uma... mulher? - questionou desacreditada.    

--Uma mulher incrível, mãe. - eu respirei aliviada em poder dizer. - Foi inevitável. Eu não queria dizer assim, mas preciso.    

--Como ela é? - minha mãe questionou curiosa e Simone se mantinha estática, me analisando.    

--Soraya...    

--Mamãe ela é linda. - a interrompi. - E acho que já não me importo com o quanto vá dizer que isso aparenta ser perigoso estar em um lugar desconhecido por você, com uma pessoa nunca vista por você.    

--Você é adulta e tenho certeza de que fará boas escolhas. Mas e quanto a voltar pra casa? Pode trazer essa moça pra nos conhecer,estamos com saudades, pequena.    

--Não vou voltar pra casa, não agora. - eu disse convicta e minha mãe compreendeu. - ainda tenho algumas coisas pra resolver e são minhas prioridades agora. Mas prometo que volto assim que der, desculpa.    

--Está tudo bem, eu entendo. - ela disse paciente e compreensiva.    

Minha mãe ficou em silêncio por um tempo.   

--Ao menos mantenha contato. - ela mais mandou do que pediu, e eu concordei. - Você sabe sempre estou ocupada e bem, esse momento é um deles.    

(...)   

Depois de mais alguns assuntos nos despedimos e ela desligou. A notifiquei de que estava bem e ficaria bem. Simone ainda me olhava atenciosa.    

Um sorriso lindo surgiu em seus lábios e logo eles se colaram aos meus em um beijo calmo, terno e carinhoso.    

Simone era minha morte ou meu paraíso?    

Nos separamos e ela sorriu outra vez. Notei em seu sorriso o quando doeria se um dia eu a perdesse.    

--Nem se eu quisesse, conseguiria ir embora. - afundei o rosto na curva do seu pescoço e ela me abraçou, envolvendo-me em seus braços.   

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