Amar de longe

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Uma semana depois do último contato com Simone, estava sendo refém de seus pensamentos, passava metade de seus dias pensando na ex-professora e a outra metade enfurnada no trabalho para não pensar na morena de olhos marcantes. Na quarta-feira de manhã, Soraya acordou com uma leve dor de cabeça, sentou-se na cama sem procurar por Carlos, a primeira coisa que se lembrou da noite anterior, foi ele saindo pela porta de madeira branca, mais uma vez após outra briga.

Em seguida, Simone.

Jogou uma água no rosto, escovou os dentes, vestiu-se, se dirigiu até a cozinha e encontrou o marido sentado sobre a banqueta digitando algo no notebook enquanto levava de quinze em quinze segundos a xícara de café a boca. Soraya se aproximou enchendo o outro recipiente que o homem havia deixado ali para quando a mulher acordasse.

— Bom dia, Carlos César.

— Bom dia. — retirou o óculos e a encarou por vários segundos. — Vai para o Senado?

— Já estou atrasada. — bebericou. — Hoje vou entrar de manhã para enviar os relatórios assinados, ainda não tive tempo de terminar.

— Por que será? — sussurrou alto suficiente para a loira escutar.

— Por que eu também mereço me divertir, Carlos César. — sentou-se frente ao marido. — Não me basto em trabalhar dia e noite, preciso de um descanso.

— Por que não saímos juntos, então? — a olhou.

— Esse é o problema, eu ter ido sem você? — ele revirou os olhos e voltou sua atenção ao notebook. — Sinto muito não ter te levado a uma despedida do meu trabalho, onde você mal conhece as pessoas que estavam lá. — disse se levantando. — Esquece isso, já tem uma semana! Vou chegar tarde, não me espere. — avisou.

— Já aprendi a não te esperar, Soraya.

A mulher nem deu ouvidos, recolheu sua bolsa e foi para o carro em seguida até o Senado. Passou a manhã revisando os relatórios e suas assinaturas, pediu que sua assistente levasse as resmas coloridas pelos post-it e passou quase duas horas alterando algumas coisas em seu novo projeto que seria apresentado brevemente.

Mais para tarde, saiu para almoçar no restaurante do próprio Senado, sozinha, sentada distante de toda a barulheira de conversas fúteis e talheres nos pratos, dedicou-se a observar os colegas e pensar.

Pensar era o que mais fazia ultimamente, desde o fim das eleições até o presente momento. Pensava desde o arrependimento do ingresso na vida pública até a abstenção de opinião em um momento tão importante para o cenário brasileiro.

Fugiu desses pensamentos quando Simone e Leila adentraram o mesmo ambiente, não perceberam a presença da loira e assim era preferível, Thronicke estava decidida em evitar ao máximo Tebet até que aquele sentimento ruinoso desaparece, nem que levasse anos, estaria disposta a fugir de Simone durante eles.

Ficou ali observando a interação das duas mulheres, percebeu os risos exagerados de Leila, os toques desnecessários na mão de Simone, o inclinar do tronco da pedetista. Soraya pensava que não era possível que Tebet fosse tão ignorante a ponto de não ter percebido, ou até mesmo tenha e preferiu fingir que não para não magoar a mulher ou gostava de ser almejada. De tantos elogios proferidos pela candidata do União Brasil, da reciprocidade, talvez ela também tenha percebido as investidas por parte de Thronicke, foi então que a loira se desesperou.

Gostava de amar Simone, principalmente ao longe, por achar que a morena fosse a negar e talvez passar a tratá-la diferente, por isso preferiu guardar para si, mas também gostava de amá-la distante.

Como um fuzil, os olhos de Leila foram de encontro aos de Soraya, percebendo as encaradas da loira, engoliu seco e desviou rapidamente. Tebet estava de costas, não havia visto a ex-aluna. Voltando sua atenção às mulheres, logo se arrependeu, a colega de Simone ainda a olhava, do mesmo jeito, senão mais enfurecidamente.

Escolhas e Ideais - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora