Quantas vezes você quiser

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Soraya ficou fitando a morena a frente, pensando em algo suficientemente para dizer depois de uma das revelações mais bonitas que já pode ouvir, lembrou-se de Carlos César e de seus votos de casamento, tais palavras escritas não puderam ter o efeito das espontâneas que saíram da boca de Tebet, e se quer causaram aquele alvoroço de sentimentos que estava o corpo de Thronicke.

Apenas se levantou e caminhou até o banheiro do gabinete, apoiou-se na pia, tentando controlar sua respiração, queria vomitar de felicidade, seus lábios tremiam, as mãos suavam e o coração batia em descompasso. Um pequeno sorriso se formou em sua boca e ela fez questão de vê-lo através do reflexo do espelho, era um sorriso bonito e verdadeiro, capaz de fazer com que seus olhos se inundassem de lágrimas, mas de felicidade.

Ficou aproximadamente dez minutos no banheiro, jogou uma água no rosto, no pescoço e em seu colo, criou coragem para voltar a Simone e deixar que sua mente fizesse como ela havia feito, se declarasse da forma mais real possível.

Aos poucos foi se aproximando da futura ministra e gradualmente a respiração pesada da mulher ia aumentando.

Simone já dormia.

Soraya agachou-se ao lado da ex-professora, retirando alguns fios da frente do rosto. O semblante cansado não tirava um por cento da beleza da peemedebista, a Senadora ficou durante vários minutos acariciando o rosto exposto da conterrânea, a exaustão fez com que Tebet não acordasse com o toque.

Com um beijo na testa, Thronicke foi até sua mesa terminar os relatórios.

Hoje ela não dormiria, nem se quisesse conseguiria. Estava tão contente que dedicaria as próximas horas no trabalho que deveria ser feito e relembrando as palavras ditas pela tão desejada mulher.

Quando o relógio marcou as seis da manhã, Soraya estava terminando de fechar os últimos detalhes do projeto que queria que fosse aprovado, abruptamente a porta de seu gabinete foi aberta e Amanda — assistente de Soraya — entrou.

— Amanda! — sussurrou. — Silêncio, Simone está dormindo. — apontou para o sofá.

— O que ela está fazendo aqui? — franzindo o cenho se aproximou da chefe.

— Passamos a madrugada fechando relatórios e ela pegou no sono. — mentiu. — A propósito, estão prontos e o projeto também. — entregou a pasta do projeto nas mãos de Amanda.

— Ok, vou levar a copiadora e distribuir, vou voltar com um café da manhã para vocês e já busco os relatórios, pode ser?

— Você é um espetáculo, mulher!

— Eu sei.

Soraya se levantou e ficou apreciando o nascer do sol diante da enorme janela do seu gabinete, quando as luzes começaram a invadir a sala, fechou as persianas para que não acordassem, Simone.

Amanda voltou quinze minutos depois, com alguns mini pães de queijo, fatias devidamente cortadas de um misto de bolo de chocolate e de laranja, salada de frutas, fatias de peito de peru e algum tipo de queijo, suco de melancia e café amargo. Depositou a bandeja em cima do balcão ao lado da máquina de expresso e sob os agradecimentos de Thronicke se retirou com os relatórios.

O cheiro do café feito a pouco invadiu as narinas de Simone que despertou. Piscou inúmeras vezes se adequando a claridade e ao mesmo tempo se familiarizando com o ambiente, tudo veio à tona.

Sentou-se no sofá passando bruscamente as mãos no rosto, apoiou uma delas sob sua testa se arrependendo amargamente sobre os feitos da madrugada.

— Bom dia, Simone. — saudou se aproximando, era inevitável o riso em seus lábios. — Vem, vamos tomar café. — Simone apenas ergueu seus olhos e encarou Soraya, a loira percebeu que ela não parecia muito feliz. Logo se encolheu. — O que foi? — com medo da resposta, Soraya indagou. Tinha medo de Simone ter se arrependido, jogar a culpa sobre as suas costas ou até mesmo se afastar.

— Eu não estou aguentando de dor de cabeça. — parecia que um elefante tinha saído das costas de Thronicke, apenas sorriu com a informação. — Isso é engraçado por acaso, Soraya?

— Não, claro que não. — fechou o rosto. — Eu tenho remédio aqui. — disse já caminhando para buscar. — Quando estou de ressaca, geralmente só esse aqui funciona. — entregou a cartela de paracetamol para Simone.

— Juro por tudo que for mais sagrado, que nunca mais saio para beber com você.

Soraya estendeu a mão para que ajudasse Simone a se levantar e a morena aceitou de bom grado, tocando no ombro da ex-aluna, caminharam para perto da mesa para se servirem do café da manhã. Tebet preferiu o suco de melancia e dois pedaços de bolo de laranja, já Thronicke, uma das saladas de frutas e o café amargo que tanto gostava. Desjejuaram sem trocar uma palavra, apenas através de sorrisos e alguns olhares sugestivos.

Até um certo momento em que a loira se recordou das horas anteriores e resolveu responder.

— Eu não respondi ao que me disse ontem antes de dormir. — passou os olhos pelo gabinete tentando encontrar as palavras certas. — Na verdade eu não sei nem o que responder. — riu. — Foi uma das coisas mais bonitas que alguém já disse pra mim. Daquelas poucas que você identifica a verdade e o sentimento, sabe? — Simone a olhava profundamente, como se pudesse ver sua alma. — Estou com medo de você dizer que tudo o que falou foi por causa da bebida. — engoliu seco.

— Normalmente dizem que a bebida traz a verdade a tona, mas não preciso de um gole de coragem pra dizer meu sentimentos. — balançou a cabeça negativamente se repreendendo. — Quero dizer, precisei. — a ex-aluna riu. — Mas tudo o que disse continuam aqui. — apontou para o seu coração. — E aqui. — em seguida sua cabeça. — Não quero que tenha medo, Soraya. Quero que aproveitemos os melhores momentos juntas e que possamos despertar os melhores sentimentos uma da outra. — esticou seu braço sobre a mesa, puxando para si a mão exposta de Thronicke beijando-a ternamente logo após. Seu celular começou a tocar, pensou ser o despertador, mas já era tarde e o som era diferente. Levantou-se em busca do aparelho e se deparou com uma chamada da assessoria do presidente eleito. — Eu me esqueci, tinha marcado uma reunião com o Lula hoje cedo. — suspirou. — Você me perdoa? Será que podemos continuar depois?

— Claro, Simone. — a loira levantou-se rapidamente. — Sem problemas, ministra?

Simone recolheu sua bolsa e blusa e pôs-se a pensar se revelaria qual ministério a aguardava.

— Do planejamento.

Soraya arregalou os olhos, colocando as duas mãos em frente ao rosto em seguida as unindo como se fosse fazer uma oração.

— Estou tão feliz por você, Simone! — sentiu os olhos marejaram. — Você merece tudo que esse mundo tem a oferecer e o Brasil só irá ganhar tendo você como ministra. — Tebet apenas sorriu e abaixou o olhar envergonhada, a filiada do União Brasil caminhou até a porta e a morena fez o mesmo.

— Conversamos mais tarde?

— Quantas vezes você quiser.

— Eu posso te beijar? — receosa a emedebista indagou.

— Quantas vezes você quiser.

Simone a olhou por eternos segundos, uma Soraya desesperada aguardava o unir dos lábios, mas Tebet queria apreciá-la, como sempre fizera. Seus dedos da mão esquerda se embrenharam nos grossos fios loiros, puxando o rosto da ex-aluna para mais perto, roçou levemente os lábios e em uma última olhada, envolveu a companheira de Senado em um beijo molhado.

Soraya se manteve inerte, deixou que a morena guiasse o beijo, queria sentir Simone. Logo os lábios foram separados.

— Tem algum compromisso no sábado à noite? — Simone olhou-a esperançosa.

— Na véspera do natal?

Tebet olhou para o lado levantando a lateral de seu lábio um tanto entristecida.

— Podemos marcar algum dia depois dessas festas de fim de ano?

— Eu adoraria. — sorriu.

Simone retribuiu o gesto abrindo a porta, deu uma olhada em Soraya e se retirou. A cada três passos olhava para trás e lá estava sua ex-aluna esperando a docente sumir de seu campo de visão.

Escolhas e Ideais - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora