Dia, local e hora exata

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A luz da lanterna circulava pelo teto do Senado procurando pelas pessoas que estavam sentadas — na voz do policial, à beira do precipício — no parapeito do terraço. Simone e Soraya já estavam no elevador descendo para o estacionamento na vã tentativa de não serem pegas pela polícia.

— Senadoras. — o vigia muito conhecido pelas mulheres as saudou.

— Olá, Alberto. — Tebet cumprimentou vendo o homem contorcer o nariz pelo cheiro do álcool.

— Espero que vocês não saiam por aí de carro. — comentou olhando para Soraya que mal conseguia se manter em pé.

— Não, claro que não. — a ex-prefeita segurou a ex-aluna pelo braço. — Vamos ficar no gabinete. Boa noite, Alberto.

Simone guiou Soraya até o gabinete da loira, a bebida subiu naquele momento e a tontura veio forte, mas mesmo assim a ex-aluna ainda mantinha a consciência. Procurou pela chave do gabinete na bolsa e logo abriu a porta, o cheiro da filiada ao União Brasil estava presente em todo o ambiente e o mesmo preencheu as narinas da morena. Thronicke disse para que a ex-professora ficasse à vontade enquanto jogaria uma água no rosto a fim de passar um pouco da bebedeira. Assim que retornou, Simone mantinha-se no mesmo lugar, imóvel, se fosse em outros tempos já estaria sentada ou até mesmo se servindo de alguma bebida da ex-aluna, mas não, estava parada quase que encostada na porta recém fechada, com as mãos unidas frente ao corpo.

— Estou bem melhor. — sorriu. — Quer beber alguma coisa, chá, café, cappuccino ou água? — ofereceu se aproximando da máquina.

Simone aos poucos caminhou para perto da loira e depositou sua mão direita sobre a cintura da mais nova, causando-lhe arrepios.

— Do que é o chá? — manteve a mão e se aproximou do ouvido da loira para perguntar.

Soraya fechou os olhos para responder.

— Camomila com cidreira e maracujá.

— Eu aceito.

Soraya pôs-se a preparar a bebida que somente era colocar a cápsula de chá na máquina de expresso.

Simone encostou na mesa de madeira de Soraya e observou a loira se virar para ela enquanto esperava o chá ficar pronto. A ex-aluna acabou por ficar sem graça devido ao olhar fixo de sua ex-professora que percorria todo o seu rosto como se quisesse decorar, como se não fosse vê-la nunca mais.

— Você sabe que eu sempre te achei linda? — Thronicke disparou e logo Tebet desviou o olhar envergonhada. — Talvez não tenha dito o suficiente, mas eu quero que você saiba que eu te achei linda.

— Eu tenho uma certa timidez com elogios, então, uma vez dito é suficiente.

— Mas direi sempre que eu achar necessário.

Os olhares fixos se dispersaram ao som da máquina enchendo a xícara com o chá, Soraya se virou ao constatar que as últimas gotas do líquido estavam caindo, desligou a máquina e entregou a bebida quente a mulher a frente.

Simone bebericou o chá algumas vezes antes de fazer uma pergunta à ex-aluna.

— Se importa se eu perguntar quando foi o momento ou se houve um que fez você me ver com outros olhos? — Soraya engoliu seco e rapidamente desviou o olhar pensando se responderia ou não. — Não precisa responder se não quiser.

— Está tudo bem, Simone. Não é como se eu fosse confessar um assassinato. — riu. — Não me recordo o dia, local ou hora exata. Nem se estava chovendo, sol ou como estava a posição das estrelas naquela noite. Só sei que aconteceu e sem querer te assustar, foi uma das melhores coisas que pode acontecer na minha vida, mesmo que não fosse recíproco ou que você nunca fosse saber, por que essa era minha intenção, que você nunca soubesse.

Escolhas e Ideais - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora