- Era uma vez Jeremy, um belo garoto de olhos verdes, cabelo loiros cacheados, um fácil sorriso, e blá, blá, blá, e muito chato ficar falando de coisas que eu já sei que sou, só que isso foi a muito tempo atrás, pois no exato momento que conheci Kya...
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" Anjo que cuida de mim, e nunca deixou de ser assim".
Jeremy
Consegui passar a noite de domingo para segunda no máximo entre cochilos rápidos, porque toda vez que pregava os olhos, minha mente me traía, e logo estava de volta onde beijei Melody, a segurei nos meus braços, mas a cena nunca era a mesma ao me afastar.
Uma hora estava Alice à minha frente, vomitando sangue, e se contorcendo de dor, como naquela noite quando a perdi.
E quando não era ela, Melody tomava as imagens gritando na minha frente.
— O que você fez ? O que você fez ? — e então caia morta no chão.
Em algum momento da noite, vi meu pai abrir a porta do quarto, e deixar minhas coisas, antes de novamente fechar.
Pensei em me levantar, pegar meu celular, e mandar uma mensagem para ela, afinal ela já deveria estar de volta, não era tão difícil assim sair da mata depois de estar acordado.
Mas por fim desisti, ela deve estar cansada, foi uma noite turbulenta, Melody deve estar dormindo.
Ao invés disso, pego meu celular com outro propósito, porque se fosse para passar a noite em claro, pelo menos que fosse ouvindo música.
De manhã me levantei inquieto, tinha uma sensação de urgência em minha mente que precisava ver Melody.
Sou o primeiro da casa a me levantar, me arrumar, e preparar algo para comer. Quando os outros enfim aparecem, já estou batendo a porta de casa, e seguindo rumo a escola.
Decido esperar ela na entrada, de modo que assim que Melody aparecer, posso arrastá-la para um lugar silencioso para conversarmos.
Mas não importa o quanto espere, Melody não vem, e a agonia desta espera me sobe a cabeça.
Só não vou direto na casa dela, porque nesse momento vejo minha mãe se aproximando.
— Está tudo bem ? — perguntou preocupada.
— Está, e só… — fiquei sem jeito de dizer.
— Está esperando a garota? — às vezes esqueço o quanto ela me conhece bem, então apenas confirmo.
— Sim.
— Talvez ela tenha decidido tirar o dia para descansar a cabeça, foi uma noite tumultuada para ela — minha mãe me estendeu a mão, e de imediato sei o que ela quer.
— Mas… — tento protestar.
— Vamos Jeremy, não coloque o meu lado diretora em maus lençóis, demorou demais a ir atrás dela, agora nem em sonho vou poder te encobrir, porque é meu trabalho garantir que este lugar funcione bem — ainda estava com receio de a seguir, mas ela completou com algo que me deixou mais animado — se colaborar, juro que te levo lá quando as aulas acabarem, está bem ? — ela sorriu tão gentil para mim, que acabei cedendo.
Mas para que ? Cada aula parecia ter demorado o dobro do tempo estimado, céus que tortura.
Quando o intervalo finalmente chegou, fui o primeiro a sair da sala, estava com uma ideia em mente, talvez Ned soubesse o que tinha acontecido, afinal eram melhores amigos, não tinha como estar enganado, se ele me dissesse algo, qualquer coisa por menor que fosse, talvez meu coração conseguisse se aquietar um pouco.
O encontro sentado em uma mesa distante, ele estava sozinho e ocupado escrevendo rápido em um caderno, podia apostar que não era seu dever de casa, Ned era perito em resolver os problemas de outros alunos, se conseguissem arcar com seus custos, por isso ele sempre tinha o celular cheio dos contatos.
— Olá Ned — falei quando estava próximo o suficiente, e vi ele se assustar e olhar em minha direção.
— Ah, oi Jeremy, tudo bem ?
— Sim, só queria saber se tem alguma notícia da Melody, por que ela não veio hoje ?
— Não entendo por qual razão quer saber notícias dela — de imediato sei que minha face amigável já deixou meu rosto.
— Que tal porque me importo com ela — Ned riu.
— Se importa e nem sabe que o avô dela faleceu, céus Jeremy, ela deve estar em um enterro.
Fico espantado com essa informação, mas como assim morto ? Ainda me lembrava tão vivamente quando o encontrei na rua, logo depois de Melody sair pela mata, ele parecia tão bem, então, o que tinha acontecido quando não estava por lá ?
Foram tantos questionamentos que apareceram em minha mente, que minha necessidade de conversar com Melody aumentou ainda mais, foi só então que lembrei que no meio da minha correria, eu tinha esquecido, que tinha o número dela salvo.
Mas de que me adiantava mensagens ou ligação, se era tão fácil mentir através delas, precisava encontrar Melody, e olhar nos olhos dela, antes de perguntar tudo que se passava em minha mente, só assim poderia ter certeza.
Mas antes mesmo que pudesse fazer qualquer coisa, ouço a voz indesejável.
— Esse é o nosso Jeremy, querendo não só decepcionar as pessoas na morte, mas na vida também.
Era Yan, eu estava cansado, mas tão cansado deste idiota, que sequer pensei, quando vi, já estava em cima dele, socando aquela cara irritante.
Bater no idiota do Yan se provou uma terapia bem relaxante, já estava querendo bater nesse idiota há muito tempo mesmo, embora soubesse que estava ferrado antes mesmo do primeiro soco.
Minha mãe podia ser alguém compreensiva e amorosa, mas quando se tratava de trabalho, ela sabia complicar a vida de todo mundo.
— O QUE VOCÊS PENSAM QUE ESTÃO FAZENDO ? — ainda a ouvi gritar antes de desferir o próximo soco.
