Nota 1 - matrix

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me sinto às  vezes. na maioria das vezes. enviesada. como uma máquina machine quadrada na frente dessas telas azuis que embaralham as minhas vistas, me acelera e me deixa repetitiva. presa a rotina. que é sempre a mesma todos os dias. e os dias são todos iguais. todos os dias. a noite que se esvai diante as horas que sempre são poucas. e nunca são suficientes para reparar. para desacelerar. para descansar. cansada. como me sinto as noites e os dias. cansada. a mesma rua. o mesmo trajeto. a mesma calçada esburacada. os mesmos lixos na encosta das avenidas. os mesmos barulhos. o mesmo motorista. o mesmo cobrador. a mesma catraca. o mesmo assento. o mesmo sinal vermelho e verde. para. avança. vira. contorna. freia. espera. acelera. freia. espera. e assim se vão os dias. e assim vêm os dias. novamente. novamente. novamente. me perco por entre as falhas dos meus dentes ao tentar silabar as extensões ostensivas da minha mente tão difusa e um tanto medusa. e muitas das vezes falha. o click. click. click. do mouse e o deslizar da seta para lá e para cá. o que almeja ela, me hipnotizar? para lá e para cá. para lá e para cá. para lá e para cá. para lá e para cá. para lá e para cá. logo os meus olhos
desejam cair. pesados. cansados. exaustos. pelas nuvens cibernéticas. as chuvas numéricas e as avalanches de informações que nunca param de chegar. que nunca se cessam. que nunca se cansam. e que me engole como poeira. fragmentada. instável e polarizada. poluente e devassada.

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