Nota 9 - morfina

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por que buscas tanto romance? o que te fez beber dessa água, que agora já não sabes mais beber sem ficar com sede mesmo que bebas um rio inteiro. mesmo que se afogues. mesmo que engasgue. mesmo que doa beber. mesmo que incomode e rasgue-te de dentro para fora. qual seria a razão primordial dessa abstinência. carência. solidão. ou algum escapismo? barato e ordinário. talvez seja o medo disfarçado e mascarado se escondendo por de trás das aparências. que sempre se auto-enganam. por de trás dos olhos que finge não ver, e que prefere não ver. que prefere se esconder. e a moral. essa vidraça feita com acrílico. e que finge ser vidro. transparente. límpido. cristalino. engana-te. engana-te tão bem e tão mal. que daí se tornas o teu bem e o teu mal. teus males romancistas que te mastiga até desnutrir-te da vida. és esse o teu sonho romântico. tão miserável. tão vazio. tão carente. que se vende por qualquer migalha. qualquer sobra. qualquer resto. penetrável. ilusionado. embriagado. tragável. do mínimo. infímo. diminuto. afeto. qualquer coisa que se pinte de amor e te faça acreditar que sim. ali está o amor. bem diante de ti. dos teus olhos. aos teus pés. e você entorpecido por todas as substâncias ilícitas do devaneio. do desejo que sempre te abocanha pela boca e você é o último a saber do bote. da carência afetiva que te sufoca. te esmaga. e te tritura os ossos e a alma. dessa forma fraco. fragilizada. qualquer micro espaço que te caiba e que consiga ficar. mesmo que apertada. desconfortável. e machucada. é o suficiente para te fazer ficar e querer permanecer com essa falha cognitiva em romantizar qualquer coisa pouca que te faça sentir viva. mesmo que isso te consoma toda a vida.

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