Nota 194 - linha de nylon

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a barriga da fome
é um corpo sem nome
que caminha há tanto tempo
vem de tão longe
a cidade carrossel
é de um céu de papel
que nos rasga com seu fel
nos cobra impostos até para respirar
onde aprendemos desde
os primeiros dentes de leite
qual o gosto de cair e aprender com linha de nylon costurar
os pedaços cortados de fios de gato e trabalhos forçados
remendar nossos fiapos
com as condições escassas oferecidas pelo Estado
e como vão se amontoando os sonhos
e os tijolos laranjas sem reboco e sem terra
porque quem sabe lá no alto
conseguimos conquistar uma fatia fina de espaço
nossos corpos sofrem
com a falta
com as perdas, com as injustiças, com o descaso
mão de obra barata
proletariado
escravizados por um golpe estruturado
de uma educação de plástico
que desvia o conhecimento
e o que chega nas escolas públicas é um ensino defasado
que enfraquece o intelecto e o transforma em fermento biológico
para inflar cada vez mais a massa
e quem sai lucrando são as fábricas,
bancos e consórcios
que massacram a vida por um bom negócio
sem ócio
sem ópio
sem pódio
permanecemos sob as margens
de um sistema de morte.

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