a barriga da fome
é um corpo sem nome
que caminha há tanto tempo
vem de tão longe
a cidade carrossel
é de um céu de papel
que nos rasga com seu fel
nos cobra impostos até para respirar
onde aprendemos desde
os primeiros dentes de leite
qual o gosto de cair e aprender com linha de nylon costurar
os pedaços cortados de fios de gato e trabalhos forçados
remendar nossos fiapos
com as condições escassas oferecidas pelo Estado
e como vão se amontoando os sonhos
e os tijolos laranjas sem reboco e sem terra
porque quem sabe lá no alto
conseguimos conquistar uma fatia fina de espaço
nossos corpos sofrem
com a falta
com as perdas, com as injustiças, com o descaso
mão de obra barata
proletariado
escravizados por um golpe estruturado
de uma educação de plástico
que desvia o conhecimento
e o que chega nas escolas públicas é um ensino defasado
que enfraquece o intelecto e o transforma em fermento biológico
para inflar cada vez mais a massa
e quem sai lucrando são as fábricas,
bancos e consórcios
que massacram a vida por um bom negócio
sem ócio
sem ópio
sem pódio
permanecemos sob as margens
de um sistema de morte.
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diário poesia
Poetrynotas poéticas diárias narradas como um diário escrito ao final de mais um longo dia onde nem sempre há espaço ou tempo que caiba poesia, mas que ao tirar seus pés de dentro do sapato apertado, soltar seus cabelos e descalço repousar serena sob as v...