O hospital

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Camila:

Os primeiros dias em nosso novo lar passaram-se de pressa, hoje minha família e eu iremos ao hospital de Miami. E isso é absolutamente péssimo já que vamos ter que nos despedir de Sofia mais uma vez. Hoje vamos voltar para casa sem nossa pequena. Eu deveria estar acostumada com essas despedidas, mas confesso que é um ato impossível para quem ama.

Foi bom dividir o quarto com a minha pequena durante esses dois dias, mas agora ela vai precisar ir embora e é tão ruim saber que não vou encontrá-la deitada de bruços na cama lendo um livro ou colocando cores em figuras preto e branco quando eu abrir a porta... mas é assim mesmo a vida. Antes ela no hospital em segurança e com médicos ali por ela durante as vinte e quatro horas do dia do que aqui em casa correndo algum risco, já que recaídas acontecem nas horas mais inesperadas.

E bem na minha frente estava a pequena garota de lenço na cabeça e a mochila colorida nas costas, provavelmente lotada de revistas de colorir, livros e brinquedos. Sofia, apenas ela, estava pronta para a nova rotina hospitalar; Com médicos andando por todos os lados, enfermeiros apressados, pacientes com doenças terminais... ou não. É só a mesma rotina de sempre, cansativa e extremamente angustiante. Minha irmã tinha o seu melhor sorriso no rosto, estava tão ansiosa para conhecer a nova "moradia", e eu estava como sempre; fingindo um sorriso para deixá-la feliz.

Uma manhã quente de segunda-feira em Miami. É hora de ir para o hospital. Tudo está pronto, estão à nossa espera. O caminho de carro vai nos tomar no máximo dez minutos.

O prédio branco e largo de três andares era enorme. No letreiro estava escrito em azul marinho "HCCAM", abreviação para Hospital de Câncer para Crianças e Adolescentes de Miami. A arquitetura do lugar era sofisticada, tinha um ar moderno. Apenas meus pais tinham vindo aqui antes para conhecer e preencher a papelada de transferência, já Sofi e eu não conhecemos nada. Fomos até a recepção e um homem alto e loiro que usava jaleco se aproximou sorrindo e com a mão estendida para nos cumprimentar, notei bem seus olhos azuis.

- Bom dia. - Disse ele. - Será que posso ajudá-los?

- Bom dia. - Mamãe respondeu. - Precisamos preencher algumas fichas para a nossa filha aqui. - Sofi sorriu e o rapaz correspondeu e se abaixou.

- E como é o seu nome, florzinha? - Ele perguntou.

- Meu nome é Sofia.

- E eu sou o Troy, Sofia. Seja bem-vinda ao nosso hospital! - Troy se levantou e disse que era um dos médicos, anestesista, mais precisamente, depois nos levou até um balcão e lá meu pai anunciou quem era.

Deu para ver que já estavam esperando por Sofi. Após assinar alguns documentos que eu não sei muito bem quais eram, a senhora que nos atendeu chamou uma moça para que nos levasse até a equipe médica infantil, que cuidaria do caso de Sofia. Uma mulher negra e bonita apareceu sorridente. Por enquanto eu não tinha visto nenhum rosto triste aqui, pelo menos não de quem trabalha ou de quem, aparentemente, é paciente. Ela cumprimentou meus pais e depois eu, e por fim Sofia. Seu nome é Normani, uma atendente estagiária do hospital.

- Primeiro vamos conhecer todo o térreo, depois as salas e...

- A brinquedoteca fica no térreo? - Perguntou a pequena. A mulher sorriu.

- Não, a brinquedoteca fica no andar de cima, mas vamos lá daqui há pouco, está bem? - Sofi assentiu.

Seguimos Normani por todos os cantos do hospital, ela nos mostrou todas as salas de baixo. Depois conhecemos o primeiro andar, sala por sala, respeitando pacientemente os limites de Sofia. Agora vamos até o segundo, onde fica a tão falada brinquedoteca e o quarto onde Sofi ficaria. Assim que o elevador chegou, demos de cara com o longo corredor e no final tinha uma porta larga e colorida, cheia de enfeites e adesivos. Minha irmã sabia muito bem o que encontraria lá dentro, então deu um pequeno surto de alegria.

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