Eu não a soltaria

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Lauren:

Acredito que minha cabeça estava prestes a despencar do meu pescoço de tanto que doía. Maldita bebida mais doce que mel que Camila me deu ontem!

Era apenas o começo do meu dia no hospital. Eu só tinha a opção de ignorar a forte dor que estava sentindo e fazer o meu trabalho. Fui atrás de algum remédio para que pudesse me ajudar ao menos um pouco. Eu precisava estar melhor, pois daqui algumas horas eu tenho uma cirurgia, estou bem acostumada com isso e além do mais, não é nenhuma cirurgia de alto risco; São apenas duas pequenas pintas que apareceram nas costas de um garoto de doze anos. Enquanto o horário marcado não chega, eu vou cuidar dos meus pequenos pacientes.

Primeiro eu fui até a brinquedoteca, onde tinha umas quinze crianças brincando. Depois eu fui para a sala de químioterapia e encontrei Aiden lá. Ele estava sentado na poltrona branca e usava o avental azul do hospital, seus olhos estavam fechados, eu sorri e, não era segredo para ninguém que este garoto tinha uma pontinha a mais do meu coração... mesmo que eu não queira me apegar, sinto que com ele é diferente. Eu logo fui recebida por uma das enfermeiras que estavam ali, Anna era o seu nome.

- Bom dia, doutora. - Disse ela.

- Bom dia. Como estão as crianças hoje?

- Por enquanto, todas estão bem. Nenhuma apresentou irritações ou nauseas... - Contou. Ela estreitou os olhos e logo prosseguiu: - Só uma garotinha chamada Hayley que é paciente nova, hoje deve ter sido a terceira sessão de químio dela e, como consequência, perdeu parte do cabelo e entrou em pânico.

- A Hayley... Eu falei com os pais dela na semana passada. Por sorte, eles não esperaram muito para vir ao hospital quando notaram suas primeiras suspeitas de câncer, acredito que o caso dela tenha jeito.

Anna até abriu a boca para responder, mas precisou sair de pressa para ajudar alguém. Quando eu vi, era Aiden que ela ajudava, fui até lá. Anna colocou um balde no colo do menino e ele logo vomitou. Sua tosse era forte e seca...

Lembro-me bem das primeiras sessões de Aiden. Ele chorava no inicio da químio e também sempre que tinha um enjoo ou sangramento. Me recordo do dia em que precisaram raspar o seu cabelo de cachos castanho claro... ele não deixou com que as lágrimas viessem, apenas encarava seu reflexo no espelho. Mas agora, mesmo com todos os enjoos e afins, ele já não chora mais, passar mal se tornou parte de sua rotina.

Aiden deixou um som alto de sua ânsia escapar, o que fez-me voltar ao presente. Coloquei a mão em suas costas, como se isso fosse ajudar em algo. Ele teve tempo de dizer que estava sentindo alguma dor, mas logo voltou a vomitar. Anna, com toda a paciência do mundo, limpou a boca do menino e também seus braços quando ele deu sinal de que já estava bem. Se queixou de dor novamente, mas disse que logo voltaria ao normal.

- Mesmo que sua dor seja pequena, Aidan, não deixe de nos falar. É importante para nós, está bem? - Perguntei.

- Está, doutora. Mas eu sei que vou ficar legal já já, é assim sempre.

. . .

Duas da tarde. Tinha acabado de terminar uma cirurgia... que foi um sucesso, por sinal.

Eu estava com fome, então desci até a cafeteria do hospital e me dei ao luxo de não ir com pressa. O problema é que por mais que eu tente ir com calma, é como se o hospital chamasse pelo o meu nome (ou berrasse feito um louco para que eu voltasse logo), faço as coisas mais rápidas por impulso... eu terminei a minha refeição em exatos dezoito minutos.

De volta ao meu local de trabalho, passei pela brinquedoteca e não pude deixar de sorrir quando escutei uma risada escandalosa e gostosa. O relógio eletrônico na parede marcava 14h27, e então eu pensei, mesmo que não quisesse pensar, em Camila... ela estaria aqui muito em breve para visitar sua irmã, como faz todos os dias.

Live And Let DieOnde histórias criam vida. Descubra agora