Lição de vida

211 14 3
                                    


Camila:

Cinco noites após uma ligação noturna de Lauren, onde, por puro acaso, marcamos de ir jantar na lanchonete onde trabalha a Dinah. Ela e eu estávamos prontas para ir. Já estava escuro o céu e Lauren acabara de sair do hospital. Uma sexta-feira meio gelada, sem muito movimento. Com ela estavam Ally e Troy, quem eu não via mais juntos há um tempo. Pelo o que sei, os dois brigaram e acabaram terminando o namoro, tudo isso, porém, é passado. Vejo que estão bem novamente, mas isso é melodia para outras rimas.

Deixei Dinah avisada de que iria na lanchonete hoje. Minha esperança era que ela desse um jeito, como sempre dá, de organizar seus horários e poder arranjar um tempo livre para nos fazer companhia, não sendo como garçonete. Ela conseguiu. Sempre consegue.

Mais cedo eu estive com Sofia. Nos últimos dias eu tenho a ajudado a colorir seu livro, isso faz com que o tempo voe... Durante esses cinco dias, pintamos sete ou oito desenhos, fora os que ela mesma pintou sozinha. Seu caderno de ilustração ainda não estava nem pela metade completo, era desenho que não acabava. Sofia, além do mais, é extremamente perfeccionista quando o assunto é pintura: ela se vê obrigada a preencher cada espaço em branco, não importa qual seja o tamanho. Gastaria as horas que fossem necessárias para pintar, de sua forma de perfeição, um único desenho. Enfim, é ótimo ajuda-la em algo que a faz tão feliz. É até terapêutico... Sofi tem respondido muito bem aos exames e está forte. A quimioterapia deixa ela para baixo ainda, o que é normal, mas fora isso... Minha irmã continua sendo a pequena menina cheia de forças. Eu não poderia estar mais contente!

Não que meu dia tenha sido corrido lá na loja dos meus tios, mas eu estava cansada agora à noite. Acordei cedo, fui trabalhar, depois caminhei até o hospital (costume novo esse de caminhar), daí fui para casa e agora estou na lanchonete com Lauren e amigos... Os quais esperei por quase meia hora mas isso não vem ao caso. Hoje aqui teria uma cantoria ao vivo e Dinah já havia brilhado com sua voz ao abrir a noite. É como se fosse uma tradição o pessoal ficar me enchendo para cantar no palquinho na frente de todo o mundo. Tradição também sou eu recusando tal convite. Cantei lá só uma vez e pensei que morreria de vergonha! Principalmente quando eu já estava num nível considerável de álcool no sangue e tive a brilhante ideia de cantar uma música diretamente para Lauren. Brilhante mesmo, não foi irônico. Capaz dela nem ter me notado se eu não tivesse jogado na cara dela aquela letra de música tão expressiva perante minha situação.

Momentaneamente, eu sorri para ela e ganhei um beijo rápido.

Eu gosto da forma como as coisas estão sendo. Lauren decidiu que não se importa mais se vão falar algo negativo sobre sua relação comigo; tampouco eu que logo no começo já contei tudo sobre nós duas à minha família. A gente tem uma cumplicidade acima do namoro. Sou amiga dela enquanto ela é minha... acho que foi essa relação de confiança que construímos em uns meses para cá que a fez tomar coragem de abrir esse baú que guardava nosso amor secreto. É liberdade. Eu espero o tempo dela, deixo que aja como vê que é certo. A família dela, por exemplo, ainda não sabe de nós duas, só os amigos mesmo. Lauren me disse outro dia que sente que sua irmã, a Taylor, anda meio desconfiada, mas, por outro lado, acredita piamente que seria muito bem aceita só pela forma como Taylor fala. Bom, eu torço para que assim seja.

Estava meio pensativa esta noite. Um breve filme de como foi meu dia passava em minha cabeça. Me perdi em devaneios. Um pouco distante da conversa do pessoal... eu mal ouvia as pessoas que estavam na mesma mesa que eu. Acho que era sono. Lauren notou. Ela descansou sua mão em minha coxa e juntou sua boca com minha bochecha, perguntou se estava tudo bem. Eu disse que sim (só não fui convincente). Lauren não acreditou e perguntou de novo.

Live And Let DieOnde histórias criam vida. Descubra agora