Prólogo

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Camila:

Eu costumava levar uma ótima vida há uns dois anos atrás. Morava em Albany, Geórgia, com meus pais e minha irmã mais nova. Cursava publicidade em uma das melhores faculdades do estado e trabalhava na loja de móveis da minha mãe quando tinha algum tempo livre. Éramos uma família unida e feliz que estava sempre bem, a família Cabello.

Pois bem: éramos.

Hoje eu estou com vinte e três anos e tenho a faculdade trancada. Sinu, minha mãe, tem depressão e meu pai, Alejandro, está a um passo de chegar a este mesmo estado, o que o salva é o trabalho diário para que consiga nos manter. Tudo isso tem um motivo: minha irmãzinha Sofia, ela foi diagnosticada com câncer no sangue, ou leucemia, se preferir, há pouco mais de dois anos. Nossas vidas foram de cosmo a caos. Foi a pior das piores notícias que qualquer um ser da terra poderia receber; imagine uma irmã com oito anos de idade doente a esse ponto, é até mais que uma tortura!

No começo foi como ver todas as coisas indo por água abaixo. Minha família e eu fomos dilaceradas e esta tristeza que, de vez em quando, vira raiva, habita nossa vida desde então, as cores foram todas embora de uma vez. Praticamente, dedicamos todo nosso tempo para Sofia, tudo gira em torno dela. Meu pai trabalha todos os dias para poder bancar a estadia de minha irmã no hospital, o que não é tão fácil, mas temos pessoas ocultas que ajudam em casos do tipo, e minha mãe não é capaz de passar nem um dia inteiro sem chorar ou ser sufocada pela doença da alma, parou de trabalhar e vendeu a loja de móveis, hoje ela tira dinheiro de um serviço não muito pesado que faz dentro de casa. E eu... nada na minha vida importa mais do que a minha Sofia, eu vivo pela pequena. Tranquei a faculdade para poder passar mais tempo com ela no hospital, que é sua casa agora.

E é isso que resume a minha vida em Geórgia. Eu tenho visto de perto a luta da minha irmãzinha. Ela é a única que sorri feliz, mostrando sinceridade, mesmo com o câncer que a destrói um pouco mais por longo dos dias. Sofia é bem mais que uma guerreira em miniatura e também meu maior orgulho, é como um exemplo. Mas, como tudo tem seu mas, confesso que sinto medo do amanhã, do que pode vir a acontecer. O futuro nada mais é do que o maior dos mistérios, tudo que há de acontecer está escondido nele e apenas nele. São mais de dois anos sustentando a mesma esperança e isso não é fácil de jeito nenhum. São todos os dias vividos com a mesma aflição, com o medo da perda... e eu jamais, em qualquer hipótese, nunca suportaria. Nunca.

Ter de escutar os gritos fortes e sufocados dela de dor as vezes, ter que ver seus cabelos caindo, seus olhos fundos e seu corpo magro e frágil. Todos os possíveis efeitos de uma quimioterapia, um bem que a faz tão mal... isso é rotina. E é tudo tão injusto, é a forma mais terrível da dor.

Live And Let DieOnde histórias criam vida. Descubra agora