Todos os dias

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Camila:

Por oito minutos contados no relógio, esperei até estar na porta do apartamento de Lauren pela segunda vez. Oito minutos desde que cheguei na portaria do prédio. Sei lá... acho que o síndico não foi com a minha cara, demorou tanto para interfonar. De qualquer forma, eu já estava lá para ver minha namorada.

Antes de tocar a campainha do apartamento, chequei as horas no celular para ver se era um horário aceitável. Quase nove da noite. Demorei para chegar porque fui visitar a Sofia e acabei passando um tempinho a mais com ela já, que pediu. Minha irmã sente-se um pouco sozinha agora, notei que estava meio abatida, para baixo. Sei o motivo e compreendo. Não pensei duas vezes antes de decidir que deveria estar com ela. Saí do hospital com o objetivo quase impossível de encontrar um tal livro sobre os castelos em Romênia... mais especificamente: o castelo do Drácula. Depois voltei para casa, tomei um banho e arrumei poucas coisas numa mochila. Desta vez eu fui para casa de Lauren preparada.

Toquei a campainha discreta e quase silenciosa e esperei a porta abrir. Reparei no enfeite de natal que tinha pendurado ali. Está bem, faz uns sete meses desde que o natal passou. Distraída com meu devaneio, o som da porta me assustou ao escancarar. Um sorriso modesto e prudente, mas ainda caloroso, me recebeu. Sem maquiagem, mas ainda bela. Olhos cansados, mas ainda brilhantes e únicos. Não quis abraçar ou beijar Lauren naquela hora só por pensar na ideia de que Ally estaria ali por perto, entretanto, a mulher de cabelos soltos e jogados me puxou pelo pulso e encaixou-me nos seus braços num aperto forte e quente. Eu sorri quando percebi que não importa qual ou como seja o abraço, sempre fecharei os olhos para sentir e aproveitar aquele instante com ela.

Ganhei um beijo seu na testa. É bastante provável que esteja sozinha em casa, o que é ótimo.

- Oi. - Quebrei o silêncio entre nós.

- Oi. - Respondeu-me. Sua não tão grande vantagem de altura sobre mim fez com que eu ficasse num encaixe perfeito e aconchegante com ela. Lauren apertou meu nariz com a leveza de seus dedos e me deu um selinho.

- Está bem? Melhor que ontem?

- Estou sim, Camz... Só estava sentindo sua falta.

- Também senti saudades. - Declarei. Ela fechou e trancou a porta atrás de nós. - Está bem de verdade ou de mentirinha? - e, ainda abraçada a mim, caminhou de costas até o sofá onde nos sentamos.

- De verdade, amor.

Lauren me contou como passou o dia. Disse que foi ao velório de Aiden e o que fez antes de ir... mostrou para mim algumas cartinhas e desenhos feitos por ele para ela e mostrou-se bastante forte; melhor, eu diria. Explicou que iria se esforçar para estar bem e eu achei ótimo, a quero assim. Depois foi minha vez de narrar meu dia; nada a mais que o comum. Conversamos sobre Sofia e sua saúde efeito sanfona que vai e vem, mas que o lado bom predomina. Me perguntei quantas vezes perdi o foco de outras conversas em todos os momentos em que me prendi nos seus verdes inauditos. Logo após uns minutos, dormimos abraçada no sofá de couro branco que antes era frio. Eu estava na sua frente, tendo seus braços em torno da minha cintura e seu calor nas minhas costas. Nossas mãos entrelaçadas em cima da minha barriga e sua respiração batendo com toda sua leveza em minha nuca. É tão bem mais que bom estar com Lauren. Ela pegou no sono antes de mim, fechei os olhos também e contemplei o silêncio de sua tão satisfatória companhia.

Despertei sem sentir a quentura de Lauren em mim. Me pus de pé e saí à sua procura pelo apartamento. Logo ouvi o barulho do chuveiro elétrico vindo do banheiro e concluí que era ela ali dentro... Ou torci para que fosse, se pelo contrário, Ally estaria lá. Rapidamente, descartei este pensamento já que Ally está trabalhando à noite agora. Não acho que Lauren iria demorar, esperar não seria ruim. Fui até a cozinha e peguei uma maçã, das mesmas que peguei pela manhã. Em seguida, entrei em seu quarto e me sentei na cama. Havia um livro de capa laranja em cima da cabeceira, peguei este mesmo e o folheei, li algumas partes sem tirar da página que estava marcada. Com a sinopse, logo soube do que se tratava.

Live And Let DieOnde histórias criam vida. Descubra agora