Tudo para ela

314 18 3
                                    

Lauren:

Três semanas, quatro dias e sabe-se lá quantas horas se passaram desde o dia em que perdi um alguém. Até que fiquei surpresa com minha recuperação (não total, mas considerável). Disse que iria tentar ficar bem e assim fiz, tanto que retornei ao hospital um dia antes do combinado. Minha rotina havia voltado ao normal, dias corridos outra vez. Eu até que estou legal, apesar de já ter perdido a conta de quantas vezes me peguei olhando a poltrona branca onde Aiden costumava ficar nos dias de quimioterapia. Sei que é normal, qualquer dia eu me recupero de verdade. Faz parte de um processo, é fato. Quando precisa-se de recuperação, cada dia conta como uma nova chance de acordar bem. Tem horas que bate uma saudade absurda, crucial, mas tem outras que estou sorrindo. Essas mesmas horas que estou sorrindo são as que tenho Camila comigo. Nossa, como me ajudou o meu amor. Ela voltou para mim todos os dias daquela segunda semana de julho. Dormiu comigo e me abraçou quando precisei... quando eu não precisei também.

Arrisco dizer que Camz apareceu na minha vida no exato momento que precisava aparecer. Vai saber, é o destino. Aposto que eu estaria na pior se não tivesse a conhecido. Com o tempo, notei que é um tipo de complemento. Ela, eu digo. Nós duas, enfim. Ah, eu a amo e, falando nela, logo mais chega no hospital para ver Sofia. Iria até onde ela fica quando chegasse. Tento estar por perto quando posso e hoje, por sorte, vou poder ficar, já que terminei os exames de rotina e alguns de medula.

Se posso fazer um resumo do que aconteceu nos últimos dias, a estória não é tão grande assim. Primeiramente, o que Camila e eu temos já não é bem um segredinho, pelo menos não para todos. Para começar, antes mesmo que eu pudesse pensar em contar a alguém, Camz já havia revelado tudo à Sofia. É engraçada a relação das duas, uma confiança bonita de irmã para irmã. Ok, uma das minhas pacientes saber o que se passa na minha vida amorosa é bastante estranho, porém aceitável por ser a paciente que é. O problema nisso tudo está nas outras pessoas na qual Camila resolveu confiar e desmascarar tudo de uma vez: os pais dela. Belo dia estávamos na sacada do meu apartamento, não faz mais que uma semana, ela começou com um joguinho de "Se eu te contar uma coisa, você vai ficar chateada?", e foi bem aí que levei o banho de água fria. Fiquei tão tensa e com medo, sabe-se lá o porque. Quase que não acreditei. Camila, na hora, notou meu estado de verdadeiro choque e tentou explicar direito, alegando que desde sempre contou o que se passava em sua vida para os pais e que sabia que poderia confiar. Disse também que sua mãe ficou surpresa e até chorou um pouco, mas logo entendeu... acho bastante comum dela ter aceitado algo consideravelmente banal quando sua outra filha precisa de total preocupação. Seu pai quem não engoliu bem a ideia de início, parece que esse é um ato contra a sua vontade, mas está tudo bem agora. Me restou confiar no que Camz disse.

De qualquer forma, acredito que cedo ou tarde alguém iria precisar abrir o jogo. Ela deu o primeiro passo, mesmo que sem dizer nada para mim. Camila tem esse jeito só dela e eu amo isso. É imprevisível, nunca vou saber o que vaga em sua mente. Sabe que é isso o que me atrai? Mal percebi, mas um sorriso se fez no meu rosto. Era outra vez aquela perda de espaço e tempo, quando qualquer coisa em qualquer lugar prende seu olhar por um instante e até parece que nada flutua na mente, mas é mentira, há um pensamento. Esse meu é Camila. É tão única, tão minha, tão...

- Terra chamando! - Rasgando meu devaneio, disse a voz de Troy. - Pensando na guerra de tomates da Espanha?

- Guerra do que?!

- Esqueça. Eu vim te avisar que Ally está te esperando na sala dela.

- Agora? - Perguntei. Na verdade eu exclamei.

- É. Ela falou que é importante e que você deve ir logo.

- Hm... ok, já estou indo.

Troy estalou a língua e piscou, virando-se e indo embora. Eu não queria ir agora, pois Camila estava prestes a chegar, porém era importante, certo? Então fui até sua sala no mesmo andar onde eu estava. O porta estava aberta e Ally parecia me esperar.

Live And Let DieOnde histórias criam vida. Descubra agora