Pai?

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Camila:

As vezes sinto que sou tão vulnerável perante à vida. Sempre achei que o bem-estar de um abraço pudesse suprir muitas de minhas dores, e eu nunca estive enganada... um abraço tem sim o poder de confortar quem precisa. No seu pior momento, aquele calor terno de estar nos braços de um alguém é como um remédio, pelo menos no meu caso é assim. Só que... eu preciso confessar, segurança e firmeza como aquela eu não me lembro muito bem de ter sentido antes, a não ser com os abraços de meu pai quando eu estava com medo do escuro, por exemplo.

Hoje, depois de um certo tempo em que Sofia não passava mal a esse ponto, eu abracei aquela mulher e não consegui segurar minhas lágrimas e, nem mesmo os olhos eu pude deixar abertos. Eu estava nos braços de Lauren sentindo-me tão frágil mas ao mesmo tempo tão bem. Seus dedos, que eu notei um pouco gélidos, acariciavam a pele do meu braço com leveza, chegava a fazer cócegas. Sua outra mão corria por todo o meu cabelo. Eu suspirei. O abraço de Lauren me trouxe confiança, quase curou-me da dor que eu sentia... aquela segurança era um aconchego. Eu a apertei um pouco mais nos meus braços e esta foi minha vez de ouvir seu suspiro, depois ela colocou uma das mãos no meu rosto e, com o dedão, deixou seu carinho na minha bochecha. Eu ainda chorava com os olhos fechados.

Eu gostaria que aquela nossa junção durasse mais alguns minutos... longos minutos. Mas o barulho alto da porte sendo aberta nos tirou daquela calmaria. Eram meus pais que tinham acabado de chegar, estavam acompanhados por um médico. Lauren me soltou bruscamente de seus braços, ela devia ter se assustado. Olhei para ela e enxuguei algumas lágrimas que insistiam em correr no meu rosto e logo em seguida, minha mãe me abraçou já chorando. Meu pai falava com Lauren, escutei sua voz tentado tranquilizá-lo. Ela dizia que Sofi já estava melhor.

Mamãe quis ficar com Sofia, ela desenhava nas linhas de seu rosto e ainda incapaz de cessar as lágrimas. Eu posso imaginar como é doloroso ver uma filha tão fraca e debilitada. Logo meu pai se juntou e a abraçou pelos ombros. Lauren estava bem ao meu lado e eu precisei resistir, pois o que eu mais queria era voltar àquele abraço de antes...

Passaram-se alguns minutos e estava na hora de ir. Aquela era uma sala de UTI, existem inúmeras regras para poder entrar lá. A sorte era que o estado de Sofi não era tão ruim... Lauren também havia feito a diferença. No final, minha irmã teria que ficar de observação, ainda na UTI. Provavelmente, a pequena voltaria para o quarto em breve, essas foram as palavras de Mariana, a médica que estava cuidando do caso de Sofi.

E então, Lauren nos levou até o hall do hospital, ainda não era noite. Eu pedi para que os meus pais esperassem por mim por um momento, pois queria falar com Lauren. Eu suspirei e encarei seus olhos verdes, aqueles mesmo que sugam minha alma para fora da órbita da terra.

- Obrigada por ter me avisado sobre a Sofia.

- Não precisa agradecer, Camila. Eu prometi que iria te ligar se algo acontecesse, eu só fiz o que deveria ser feito. - Respondeu-me. Eu sorri por gratidão.

- E... desculpa pela surpresa do abraço, - A fiz rir desta vez. - acho que foi...

- Está tudo bem. Eu não importo em te abraçar caso precise. - É claro que eu senti minhas bochechas ficando quentes. - E eu vou tentar te ligar sempre que algo aconteça, está bem? - Ela assegurou.

- Hoje mesmo, não importa o horário ou sei lá o que mais, pode me ligar.

- Eu não tenho plantão hoje, vou embora daqui quatro horas, mas posso falar com a Mariana e ela me deixará informada sobre tudo, ok?

- Ok. Muito obrigada, Lauren.

- Não precisa agradecer... e, eu tenho certeza de que Sofia ficará bem até amanhã. Eu nem vou precisar te ligar.

Suspirei. As palavras ditas por ela me passavam segurança e confiança mais uma vez, eu não ficava com dúvidas, simplesmente acreditava no que ela me dizia e pronto.

- Não tem como eu deixar de te agradecer. - Sorri sem tr que mostrar os dentes e passei a mão sobre o braço; É engraçado como Lauren consegue me deixar sem jeito tão facilmente... ainda mais quando ela fica me encarando em silêncio por um ou dois segundos. - Hm... então, obrigada. Acho que preciso ir agora.

- Está bem. Até mais, Camila.

Eu me aproximei afim de dar um abraço de despedida, só que Lauren deu um passo para trás. Eu não entendi o motivo disso mas, me fez arrepiar e não era de um jeito positivo. Mas ela logo me abraçou apertado, e então eu tive outro arrepio, só que desta vez fora de um jeito bom.

- Desculpa, eu não sou acostumada com abraços. - Disse ela com um riso leve na voz - ...Mas o seu me agrada.

E novamente eu havia ficado corada. Fechei os olhos, assim como fiz quando ela me abraçou na sala de UTI... acontece que é automático; os olhos se fecham com algo tão bom quanto um abraço, ainda mais quando o abraço vem da pessoa que, mascaradamente, tem seu coração.

- Tchau, Lauren. - deixei um beijo em sua bochecha e fui embora.

Meus pais me esperavam no carro. Ficamos em profundo silêncio o caminho inteiro. Meus pensamentos eram todos voltados à Sofia; Era difícil, mas também era costume. Me recordei do ano passado, que foi quando ela passou muito mal e ficou a um fiozinho de vida. Senti o meu peito arder. Eu me lembro daquele dia como se fosse ontem. Eu cheguei a me despedir da minha pequena. Não existe uma palavra que pudesse definir o que eu senti naquela época. Eu pedi para Deus jamais me deixar passar por aquilo outra vez, pois foi um caos terrível, um medo oprimente.

Sofia é um milagre desde então, pois disseram aos meus pais que não teria mais jeito... mas minha irmãzinha é mais forte do que todos eles pensavam, mais forte até mesmo do que eu pensava. E continua aí, lutando como a guerreira que é.

. . .

Hoje eu ficaria sozinha em casa, meus pais só vieram buscar algumas coisas e iriam passar a noite no hospital caso aconteça algo. Os médicos disseram que não era necessário, pois Sofi estava bem, mas isso não é algo que os pais de uma criança doente costumam ouvir, certo? Eu queria ir também, mas preciso ir trabalhar amanhã cedo, é minha responsabilidade e eu não posso deixar meus tios na mão e essa não seria a primeira vez.

Péssima noite, é claro. Eu ligava para os meus pais a cada trinta minutos querendo saber se está tudo bem e sempre estava, ótimo. Mas não era o suficiênte para que eu me sentisse bem e pegasse logo no sono. Eu precisava conversar com alguém... Pensei em ligar para Dinah, mas não era exatamente com ela que eu queria falar. O que eu tinha de fazer era desabafar. Pensei então nos meus amigos que deixei em Georgia para morar aqui em Miami, só que era a mesma coisa; não era com eles que eu queria falar.

A minha vontade era ligar para ela. A doutora deslumbre. A Lauren.

Encarava meu celular, torcendo para que ele não tocasse indicando o seu nome, pois eu sabia que seria uma péssima notícia se ela ligasse para mim... Só que ainda assim eu pensava: "E se ela se esqueceu de me avisar? ...Mas meus pais estão lá e iriam me avisar sobre qualquer coisa."

Suspirei e meu celular vibrou na minha mão, era o meu pai e eu atendi um pouco (demais) apavorada, o que seria se só eu liguei este tempo todo para ele?

- Pai?!

Live And Let DieOnde histórias criam vida. Descubra agora