Porto seguro

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Camila:

Saí atrasada de casa. Precisei correr e não tive tempo nem de tomar meu café da manhã ou me maquiar. Peguei minha bolsa, uma blusa e o celular, logo saí correndo para não perder tempo e chegar o mais depressa possível na Design FLO, a loja de móveis dos meus tios que é onde eu trabalho.

Lá estava Tyler já uniformizado. Ele apontou para o relógio no alto da parede quando me viu, indicando o que eu já sabia. Meus pais me ensinaram a ver as horas, soube que estava atrasada assim que acordei, ele não precisava reforçar o fato. Pedi desculpas bem baixinho, ele leu meus lábios. Poderia dizer que Ty era um chato, mas é que ele precisava muito dá minha ajuda (isso notei logo que entrei aqui). Hoje tinha um número considerável de clientes, tanto que não fiquei parada por mais de cinco minutos. Foram espalhados cartazes lá fora de uma promoção da loja, era por causa disso que tínhamos mais pessoas querendo fazer compras aqui. Era gente querendo saber de preço; de modelos de móveis; formas de pagamento e tudo que nesse assunto se encaixa.

Pensei na hipótese de falar com meus tios e propor que contratassem mais alguém para nos ajudar. Logo descartei essa ideia... está lotado assim por causa da promoção. Num dia normal, a Design FLO fica de pé tranquilamente com o número de pessoas que são empregadas aqui. Contando Tyler e eu, são seis, ao todo.

Não passou mais de uma hora desde que tinha começado o expediente e meu corpo pedia arrego. Talvez por eu ter dormido alguns minutos a mais, agora estou um tanto cansada e sonolenta. Tento entender a lógica em acrescentar alguns minutos ao seu sono e ficar com ainda mais sono quando acorda. Juro que tento entender... estou achando que, na verdade, nem lógica há nisso. Eu me perco em devaneios.

Uma vez que a loja se esvaziou um pouco, Tyler, que portava um grande sorriso no rosto, chegou ao meu lado e começou dizendo:

- Hoje é dia de ganhar um pouco mais.

- Quer fazer uma aposta? – Sugeri. Falávamos do bônus em dinheiro que ganhamos a cada pessoa que atendemos. Quando mais clientes, mais ganho.

- Que tipo de aposta?

- Aquele que ganhar mais hoje, ganha a aposta. O que atender mais pessoas...

- Tentador... – Ty tinha a mão no queixo, pensativo. O que tenho para apostar é meio arriscado.

- Quem terminar o dia com mais, ganha o que o outro recebeu. – Falei por fim.

- Você tá louca, Karla Camila?!

- E você, com medo.

- Não é medo...

- Então aceita e para de ser um frango.

Sorri e estendi a mão para ele. A aposta estaria fechada quando ele a apertasse.

- Fechado!

E por horas viramos rivais um do outro. Ele estava trapaceando! Entrou uma mulher aqui e quem a atendeu fui eu, mas Tyler a roubou de mim, dizendo "a senhora precisa ver esse sofá!", e ela caiu rapidinho na lábia dele. Pena que o que a mulher procurava eram prateleiras. Depois dessa eu não quis nem saber, cada pessoa que entrava na Design FLO era obrigada a ser atendida comigo. Antes da hora do almoço, confessei para o meu primo que algumas pessoas estavam saindo de lá meio assustadas.

- Acho melhor a gente desfazer essa aposta. – Disse Tyler.

- Isso só por que você sabe que eu estou ganhando, seu frango.

- Eu não quero perder meu dinheiro pra você, Karla, pode tirar seu cavalinho da chuva. Fora os clientes que estão ficando com medo de você.

Olhei para ele. Se cinismo fosse uma pessoa, seria o Tyler. Por fim, desfizemos a aposta e eu fiz a promessa de nunca mais apostar nada com ele. Após isso, fui almoçar.

Live And Let DieOnde histórias criam vida. Descubra agora