Verdade recusa

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Camila:

A ouvi dizer que precisava ir e eu não devia me preocupar. Acreditei que Lauren voltaria depois de uns minutos, mas ela decidiu apenas não voltar. Naquela noite eu fui para casa sozinha, com o estomago embrulhado, soprando preocupação. Lauren não atendia ao celular, a voz gravada do outro lado da linha dizia que estava fora de área. Dinah tentou me tranquilizar, falava que talvez fosse um problema a resolver no hospital ou qualquer coisa assim, porém não há motivos de Lauren não me dizer que era só isso se realmente fosse. Perdi a conta de quantas ligações fiz. Na madrugada quando, em vão, eu tentava dormir, esperei ouvir o toque no meu celular. Passei a sentir medo, aflição. Fiquei angustiada, muito além de preocupada.

Soube de Lauren pela última vez quando passava das dez da noite, lá na lanchonete da Dinah. Após isso, só fiquei sabendo depois das três, quando ela teve, enfim, a consideração de retornar uma chamada. Quando seu nome brilhou na tela, eu senti um mero alívio, mas a apreensão ainda era maior. Implorei para que ela só estivesse bem naquele meio segundo até atender ao telefone. Não sei se disse alto, mas minha voz era mais trêmula do que pensei que poderia ser:

- Lauren! Meu Deus, Lauren! O que... onde você...

- Calma, Camila. - Sua voz era baixa e tranquila, diferente da minha.

- Para onde você foi?! Eu estava quase pensando em chamar a polícia!

- Calma, amor. - Outra vez. Notei seu tom meio distante, mas eu estava bem presente de raiva. - Eu estou bem, não se preocu...

- Como que você me pede para ficar calma quando decide sumir do nada?! - Vociferei com controle, pois era noite e meus pais dormiam em casa, mas não escondi que estava mesmo irritada. - Eu pensei que você fosse voltar logo, não que iria embora e me deixar lá sozinha! O que você tem na cabeça? Eu poderia ter sido avisada, não?

- Camila, para! Não tem nada de errado, eu estou bem.

- Ah, não é nada de errado eu ser largada sozinha de repente, não é? - Ironizei. - Eu tinha de saber disso antes, que você estava bem!

E houve um silêncio. Ela respirou fundo, pude ouvir.

- ...Desculpe.

Estalei a língua e esfreguei o rosto. Pus controle no turbilhão de xingamentos que pretendi cuspir, fiquei furiosa por ter estado tão preocupada e aflita assim, quando ela poderia ter dito o que iria fazer.

- Eu quero que você me explique tudo amanhã quando eu chegar no hospital. - Disse à ela.

- Hm... Não dá, eu... eu não estou em casa e nem no hospital.

- O que?!

- Não precisa gritar, se controla. Eu estou te ouvindo e já percebi que está com raiva.

Bufei com impaciência. Ao mesmo tempo que queria desligar o celular depois de xingá-la, eu precisava de ouvir o que Lauren tinha a dizer. Aquela preocupação havia retornado, afinal, onde é que ela estava e o que é que tinha acontecido? Juro que tive vontade de chorar.

- Não é nada demais, Camz... pela milésima vez, estou bem. - Voz calma, a dela, como se quisesse passar que não havia nada de errado. - Eu tive que fazer uma viagem... é de última hora, eu sei. Nem te disse nada e... - Mais silêncio. Consegui materializar um rosto cansado, culpado dela. Outra vez, soltou todo o ar e concluiu: - Não estou em Miami hoje e... amanhã também não. Volto só na...

- E onde você está, Lauren? Diz logo o que aconteceu! Estou... muito... não sei, quero você aqui.

- Volto na terça-feira.

Live And Let DieOnde histórias criam vida. Descubra agora