Olhos mais abertos à realidade

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Camila:

Por mais estranho que isso pareça, assim que acordei naquele dia, soube que não seria bom. Algo não estava certo. Era um seis de julho.

Fui cedo ao trabalho, como eu sempre faço. Senti um incomodo, como se algo na minha cabeça dissesse que havia um pontinho errado. Imediatamente, liguei para minha mãe e perguntei sobre Sofia. Ela a visita todas as manhãs. Entretanto, soube que minha irmã estava muito bem. Saber disso deixou-me bastante aliviada. Acontece que aquela sensação não havia passado ainda e eu estava começando a me preocupar.

Sempre fui de acreditaria nessas coisas de pressentimento ou sensações ou intuição e derivados disso. As vezes querem falar com a gente. Me refiro a uma força superior. Porque eu sentiria qualquer coisa desse tipo sem ter um motivo? Não sei, apenas acredito.

Eu tinha duas opções: a) trabalhar direito, o que nada mais é do que a minha obrigação, eb) continuar preocupada, o que eu posso tentar evitar. Contando o fato de que meus tios vivem perdoando meus atrasos e faltas e sempre me liberando mais cedo quando Sofia precisa de mim, eu decidi trabalhar direito... tentar, ao menos. Passei aquelas, aparentemente mas não tão longas horas, meio aflita, tanto que meu primo Tyler notou. Ele perguntou se estava tudo bem e eu expliquei o que estava sentindo. Ty, como um bom amigo, disse que não teria problema se eu desse uma saída rápida para ligar para alguém, já que eu disse que precisava falar com uma pessoa, sendo essa, a Lauren. Por volta do meio-dia eu saí e tentei ligar para ela... uma, duas, três, oito vezes. Lauren não atendia nunca. E foi exatamente aí que eu fiquei preocupada de vez! Juro que senti minhas mãos tremerem e suarem um pouco, acontece sempre que estou nervosa. Ontem, quando precisamos nos despedir no banheiro, ela prometeu que iria me ligar para desejar uma boa noite, o porém é que lembrei-me de que não recebi ligação alguma até agora. O que houve, afinal?

Liguei novamente para minha mãe e tive certeza de que Sofia estava bem, depois disso, usando a minha até então não muito conhecida habilidade de disfarçar, perguntei se ela havia visto Lauren por lá, trabalhando. Era de se esperar que receberia um "Não, querida, eu não vi a doutora Lauren hoje."? Pois foi isso que ouvi de resposta à minha pergunta.

Voltei para a Designe FLO e, outra vez usando a minha habilidade, trabalhei até dar meu horário. Por fim, quando as horas que eu tanto esperava chegaram, eu pude ir ao hospital (horas essas que eu poderia comparar com séculos). Precisei ir de ônibus e, por completa ironia do destino, ele demorou mais do que o comum. Cheguei lá, enfim. Preenchi a ficha e pude ir ver minha pequena e também procurar por minha namorada.

Entrei na sala onde Sofia costuma estar mas não era lá que estava desta vez. Antes que eu tivesse um ataque cardíaco ali mesmo, a enfermeira falou que Sofi estava na brinquedoteca. Foi bem daqueles suspiros de alívio que parece limpar a alma que eu dei. Fui para a brinquedoteca e estranhei quando não ouvi as vozes altas das crianças que brincavam, elas estavam quietas demais e cabisbaixas demais. No fundo da sala, ao lado do pequeno e azul palco dos fantoches, avistei minha irmã. Ela estava sentada e brincava com um ursinho. Sofia estava sozinha, o que não era comum de se ver.

- Oi, Mila! - Ouvi a pequena Louise me cumprimentar. Apenas pisquei para a garotinha de sardas e voltei a caminhar até minha irmã.

Como pode ouvir meu nome, Sofia levantou a cabeça e olhou para mim. Sorri para ela da forma mais doce que eu podia, entretanto, Sofi não retribuiu como sempre faz. Ela tinha os olhos baixos e o rosto triste. Franzi as sobrancelhas e fui até lá, sentando-me no chão assim como fazia.

- Sofi? - Chamei, seus olhos infelizes caíram sobre os meus. - Ei, princesa, está tudo bem?

- Não, Kaki. - Falou. Sua voz era tão triste que pôde despertar uma dor no meu peito.

Live And Let DieOnde histórias criam vida. Descubra agora