Capítulo 27

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                                     Tua'k

Eu, Tonowari e Jake estávamos voltando para casa quando a chuva havia parado por um tempo, estava um pouco frio e o ambiente estava muito gostoso de se sentir, o ar fresco, o cheiro de terra molhada, as plantas com pingos pequenos de águas sobre as flores, eu amava isso.

Metkayina era fresca por causa do oceano, sim, mas ele não poderia dar o frescor que era a sensação da chuva, de sua água gelada e pura.

- Então...? Não vamos falar sobre o que aconteceu a minutos atrás?

Para o meu azar, Tonowari havia escutado os gritos de Tsing e foi ver o que estava acontecendo, e também para a minha sorte eu já estava meio distante daquele babaca, e para ele não fazer tantas perguntas por causa do sangue que estava nas minhas mãos, e que eu havia limpado com a água da chuva, acabei confessando tudo.

- Não - parei de andar quando me virei para ele e pressionei meu indicador no seu peito - E nem nossos pais vão saber, entendeu?

Eu não precisava dizer isso a Jake, eu sabia o quanto ele era sensato.

- Qual é, por que não? Você finalmente deu a surra que aquele filho da puta merecia.

Ele estava certo, mas não queria ouvir o sermão dos nossos pais.

- Bico calado, Tonowari.

Ele levantou as mãos, rendido.

- Está bom, está bom - continuamos a andar - Você é tão tola.

- A tolice as vezes é uma virtude, pena que isso não se enquadra a você.

Quando chegamos em casa, nosso pai Neteyam foi preparar a comida enquanto nosso pai não voltava da reunião sobre o clã, estávamos precisando de mais caças e mais comida, queriam fazer caças a noite, mas meu pai dizia que era muito perigoso.

Que o povo do céu estava trabalhando para nos atacar, que só estavam esperando um deslize nosso, eu tinha certeza de que ele não estava errado.

As vezes eu sentia que muitos Na'vi não gostavam do meu pai como o líder do clã Metkayina pelo simples fato dele ter se casado com outro Na'vi, um Na'vi que não era um Omaticaya na visão deles, que não era do clã, que era um desconhecido, mesmo depois de anos morando aqui, aprendendo seus costumes, suas tradições, seus jeitos, suas canções, como falar com os animais, sentir o mar, a natureza daqui.

Mas nunca ousaram falar isso para o meu pai, sempre falavam pelo escuro, baixinho, sem o meu pai saber, como ele era muito ocupado nunca sabia de nada, ninguém ousava comentar.

Quando ele chegou de noite a comida já estava feita e nos sentamos para comer o que eu e meus irmãos havíamos conseguido pegar.

Depois de um longo silêncio...

- Então - começou nosso pai Aonung - Como foi a caça hoje?

Parei o peixe na metade do caminho a minha boca quando olhei para Tonowari, seu olhar foi de encontro ao meu por cima da comida, Jake continuou a comer como se não houvesse amanhã.

- An... - todos estavam esperando a minha resposta, merda - Foi... ótimo.

- Ah! - nosso pai Neteyam nos olhou - Sem brigas?

Tonowari riu, mas disfarçou tossindo forte.

Engoli seco o peixe.

- Sem brigas.

- Nem discussões?

- Nem discussões - sorri para meu pai Aonung.

- Estou surpreso - disse ele - Geralmente alguém aparece aqui para contar alguma coisa sobre vocês.

Tonowari sorriu.

- Não dessa vez, pai - ele olhou para mim e meu desejo era atirar uma flecha bem no seu olho.

Idiota.

Íamos terminar de jantar quando entraram na nossa tenda, era Torram, o amigo de meu pai e pai de Tsing. Olhei para meus irmãos.

Eu estava fodida, e não de um jeito bom.

O rosto do Na'vi estava sério, sua postura calma e elegante me dava nos nervos.

- Torram, o que faz aqui? - perguntou meu pai Aonung - Está meio tarde, não deveria estar com a sua família?

- Sim, eu deveria - seu olhar foi para mim - Mas tive que urgentemente chegar aqui.

- O que houve?

- Tsing chegou em casa com a perna sangrando e muito machucada.

Meu pai Neteyam se levantou abruptamente.

- Quem fez isso com ele?

- Tua'k.

Os olhos dos meus pais se fixaram em mim.

- Tua'k? Isso é verdade? - respirei fundo e continuei com a calma de sempre - Tua'k, estou esperando uma resposta, por que deu uma flechada em Tsing?

Olhei para o meu pai Neteyam enquanto ficava calma, não conseguia descobrir o que seus olhos diziam.

Pai Aonung olhou novamente para Torram e foram conversando até o lado de fora da tenda, ficaram por um bom tempo fora até que ele voltou, seu rosto estava com ódio estampado.

- Eu quero uma resposta agora - mas sua voz estava calma como o mar de noite - Agora, Tua'k.

- Aonung - pai Neteyam interviu - Não é culpa dela, é minha.

Antes que eles pudessem falar mais alguma coisa, Jake puxou eu e Tonowari para fora.

Ficamos sozinhos enquanto nossos pais conversavam na tenda.

- Eu disse que você deveria ter falado a verdade a eles - começou Tonowari - Evitaria muita coisa.

- Cala a porra da boca - rosnou Jake - Fica calado por alguns minutos da sua vida.

- O que?! - pai Aonung estava furioso - E você mente assim para mim?

- Eu não queria aborrecer você.

Pai Neteyam estava contando finalmente a verdade.

- Eu estou mais puto agora por que você escondeu isso de mim, merda!

- Aonung, você precisa me entender...

- A quanto tempo? - as vozes mesmo abafadas ainda davam para entender muito bem.

- Aonung...

- A quanto tempo a nossa filha sofre isso?

- Desde quando ela começou a caçar...

- Ah! - ele riu de forma incrédula - Eu não acredito que você fez isso comigo.

- Me escute, eu não queria que você sofresse com isso por que...

- Por que o que? An? Por que eu fui esse tipo de Na'vi com você e seus irmãos? - engasguei quando ouvi aquilo - Por que eu fui um cretino com vocês? Eu sei disso - sua voz ficou fraca - Eu sei o quanto vocês sofreram, que mesmo eu pedindo desculpas nunca vai ser o suficiente para as coisas que Kiri passou por minha causa - eu e meus irmãos estávamos chocados, não sabíamos disso - Dói saber que eu fui esse tipo de Na'vi e não estava lá para ajudar a minha menina quando ela passou pela mesma coisa que você - meu coração apertou - Mas você não tinha esse direito de esconder isso de mim, não isso, Neteyam. Não isso.

Pai Aonung saiu da tenda e parou quando me viu, seus olhos azuis estavam tristes e chorosos, eles pareciam dizer.

"Desculpe, eu queria ter feito mais."

Então ele saiu andando e não voltou pelo resto da madrugada.

AVATAR 3 - DEPOIS DA QUEDAOnde histórias criam vida. Descubra agora