Tuak
Meu pai não voltou para casa pelo resto da noite, fiquei esperando ele voltar para conversarmos de uma forma mais tranquila e sem gritos, eu esperava, mas isso não aconteceu.
Amanheceu e ele não resolveu aparecer, meu pai Neteyam não comeu ou conversou comigo e meus irmãos desde que brigou com nosso pai Aonung, era estranho essa sensação.
Sensação pesada, um pouco fria e sem luz, sempre achava que os Na'vi viviam de boas coisas depois dos ataques do povo do céu, mas obviamente eu estava enganada mais uma vez.
Saber que meu pai fazia com outros o que fazem comigo me deu um sentimento estranho de desconforto, eu não estava com raiva ou algo parecido sobre ele, não, eu estava...
Estranha.
Era um sentimento estranho que eu não sabia decifrar no momento.
Meus irmãos foram resolver os problemas do clã enquanto nosso pai ainda não voltava.
Estava ajeitando a corda do meu arco quando lembrei de um lugar onde meu pai sempre me levava quando mais nova.
- Onde estamos indo, papai?
Estávamos nadando pelo mar Metkayina.
- Você vai ver, pequena. Estamos quase chegando.
Estava um pouco frio, mas o mar estava calmo quando passamos por uma rocha enorme em direção ao sol escurecendo. Acabamos parando perto de um conjunto de pedras coladas uma na outra, a água dava a volta por elas com uma levesa delicada.
- É aqui?
- Sim.
Descemos do animal marinho e nadamos até o alto da pedra, ficando sentados enquanto o sol saía de cena para dar entrada a lua. Começou a ficar um pouco mais frio quando a noite começou a aparecer.
- Por que me trouxe aqui, papai?
- Não é lindo, filha?
- O que, exatamente?
- O sol batendo na água clara.
Assenti.
- É incrível - respondi - Por que estamos aqui?
Ele olhou para mim e sorriu.
- Seu avô me trazia para cá toda vez que ele se sentia sozinho e cansado.
Pisquei.
- O senhor está se sentindo sozinho e cansado?
- Como posso me sentir sozinho se tenho você, seus irmãos e o seu pai?
- Então por que estamos aqui?
Ele suspirou.
- Quando nado até aqui, passo horas olhando o horizonte e me sinto mais forte ao invés de cansado - seus olhos se voltaram para o mar a nossa frente - Quero que seja o mesmo para você e seus irmãos.
A água estava gelada sobre os meus pés.
- Eu não estou cansada, papai.
- Mas um dia vai ficar - disse ele - Um dia a vida vai te bater com tanta força que você não vai ter opção a não ser procurar um lugar distante de todos e pensar sobre tudo - sua voz estava baixa - O problema é que nunca conseguimos fugir dos nossos problemas, tentamos, mas no fundo sempre sabemos que é inútil.
Na época eu tinha 10 anos, achava aquilo totalmente idiota e besta, mas eu comecei a entender o meu pai quando todos começaram a zoar de mim e tive que procurar o meu lugar, que obviamente era o mesmo que o dele.
Corri até a água e fiz o som chamando o meu animal marinho, Sintrun logo apareceu e nos levou até as altas rochas do oceano.
Depois de alguns minutos navegando e brincando com alguns bixinhos do mar, acabei encontrando o meu pai sentado em uma das enormes pedras que tinha por aqui.
Não sabia se ele havia me escutado, provavelmente sim, subi na pedra onde ele estava e me sentei ao seu lado, estava um pouco ofegante por causa do esforço enquanto encarava o mar gigante a nossa frente.
- Não tinha certeza se você viria - disse ele.
- Não vou mentir que demorou um pouco para eu conseguir lembrar desse lugar.
Escutei sua risada, mas logo tudo ficou em silêncio novamente, só se escutava as pequenas ondas batendo nas rochas.
- Não sabia que você estava passando por tudo isso.
- Eu não quero que o senhor me defenda.
- Eu sei que não quer - concordou meu pai - Eu deveria pegar todos que falaram de você - ele suspirou - Mas não vou fazer isso, mesmo querendo muito.
- Eu não quero ser uma Na'vi que não pode se defender sozinha.
- Desculpe.
Olhei para ele, seus olhos se recairam sobre mim.
- Pelo o que? - perguntei.
- Não está presente quando você mais precisou.
- Eu sou forte, pai. Estou lidando com isso, na verdade, eu sei lidar com isso.
Seus olhos azuis estavam como o mar naquele momento, agitados, mas ao mesmo tempo tristes.
- Não quero que você lide sozinha.
- Os Na'vi mais fortes lidam com seus próprios problemas sozinhos.
Seus olhos se voltaram para o mar.
- Vá para casa, preciso ficar um pouco sozinho.
- O senhor não vai voltar agora?
- Não.
- Pai Neteyam esperou pelo senhor a noite toda.
- Eu sei.
- E não liga?
Ele suspirou.
- Só preciso de mais um pouco de tempo sozinho, por favor. Querida.
- Ele não teve culpa de nada.
- Tua'k.
- Eu só quero que o senhor saiba que ele só fez isso para nos proteger.
- Não me orgulho do que fiz, de como eu era.
- Eu sei que não - e era verdade - Mas se você não ligar para eles, um momento eles cansam - pulei novamente para a água, estava mais gelada - Vejo o senhor em casa.
Voltei rápido para casa e passei pela floresta ao longe, estava a alguns minutos de casa quando escutei um barulho de passos vindo do outro lado da árvore.
Me abaixei e peguei meu arco das costas, andei cuidadosamente pelas plantas e folhas barulhentas, se fosse um invasor, eu precisava tomar muito cuidado com ele.
Continuei andando quando parei no tronco da árvore e olhei de relance, estiquei o arco pronta para atirar em qualquer coisa que estivesse perto da minha casa. Quando a flecha ia voar, parei.
Era um humano.
VOCÊ ESTÁ LENDO
AVATAR 3 - DEPOIS DA QUEDA
FanficUma fanfic voltada em Neteyam, onde ele está vivo. Não aceitei que ele morreu, então fiz essa fanfic. Espero que gostem<3 Curtam muito :) AVISOS: Cenas +18 Gatilhos Palavrões 🔞