Prólogo

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--- E como você se sentiu depois de ter feito isso? - o repórter perguntou.

--- Na moral, vou dá o papo mermo. Por mó cota fiquei com o peso da culpa pq pensei no meu filho, tá ligado? Mas depois eu senti um alívio imenso. - respondi normal, observando o olhar frio dele sobre mim.

Sei que tudo pode ser usado contra mim, mas o que tinha pra perder eu já perdi, que foi a infância do meu pivete.

--- Se pudesse voltar atrás faria diferente? - me inclinei na mesa e olhei no fundo dos olhos dele.

--- Sim, faria mil vezes pior. Infelizmente deixei a raiva tomar conta de mim e não fiz o que seria melhor.

--- E o quê, de fato, seria "melhor" pra você? - fez sinal de aspas com as mãos, esperando ansioso pela resposta.

--- Tortura. - quando falei senti o peso do olhar de desprezo dele. Parece que ele sentiu nojo, tá ligado? Ele não disse, mas sinto que pensou que gente como eu deveria apodrecer na cadeia. Eu sei que sim. Mas se tivesse de apodrecer, ficaria feliz. - pode tirar esse bagulho? Mó desconforto já, pô.

--- Por segurança minha os agentes penitenciários não podem tirar suas algemas.

--- Não perderia meu tempo matando um trabalhador. - debochei. - mas de boa, fico assim mermo.

Ele bebeu água e respirou fundo, me olhando. Continuei do jeito que tava, esperando a próxima pergunta.

--- E o seu filho? Onde está? - fiz uma cara de que já fosse óbvio que eu não sabia.

--- Não faço idéia.

(Amores, os erros de português fazem parte da fala dos personagens.)

Eu, o Morro e ElaOnde histórias criam vida. Descubra agora