Capítulo 01

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Talibã

Clima do morro tá mec hoje, gosto assim. Fico só olhando daqui da laje da minha base, mó vista bonita, tá ligado? Toda vez que tô aqui olhando minha favela eu lembro das parada que já passei com minha família, sem neurose mermo, nós já passou perrengue! Tinha dia que nós num tinha nem o que comer, mas ainda bem que eu tive quem me fortalecesse.

Se hoje eu tô aqui no topo é pq eu ralei pra caramba pra conseguir tudo isso, peguei muito esculacho, mas esses bagulho só me fez crescer mais e mais. Minha mulher sempre foi firmeza e batalhou junto comigo. Nesse mundo do crime o bagulho é doido, mas tô aqui pra peitar com qualquer um vacilão que quiser bater de frente.

Desci da laje e quando cheguei na sala Renata tava sozinha, perguntei onde Igor tava e ela disse que ele só jantou e foi dormir. Deitei no sofá e puxei ela pra deitar no meu peito.

Conheço Renata desde quando ela era bem novinha, se pá que nós cresceu junto. Mãe dela era amiga da minha, eu sempre ia pra casa dela. Nós cresceu, começou sentir outras parada um pelo outro, pedi ela em namoro e depois de um tempo nós foi morar junto num barraco perto da casa da minha mãe.

Depois de dois meses morando junto ela engravidou e aí é que o bolso apertou pq ela teve que parar de trabalhar... A gravidez era de risco, tá ligado? O pouco dinheiro que eu ganhava dava até pra pagar as conta e manter a casa, aí foi passando e quando nós piscou já tinha um guri chorando sem parar e eu desempregado. Foi fácil não, pô, vida me deu uma rasteira e nem pediu desculpa.

As coroa sempre ajudava e pá, eu tentava arrumar emprego mas nunca conseguia, as coisa é mais complicada quando é pra um favelado e mermo eu dando meu melhor pra conseguir as parada o pai dela só sabia dizer que eu era vagabundo e que ela não ia ter futuro nenhum do meu lado. Nós foi empurrando com a barriga mas depois chegou um tempo que num deu mais. Fui na boca e perguntei se tinha um trampo pra mim lá, comecei como soldado.

Com meu primeiro malote paguei as conta, fiz a compra do mês, paguei o aluguel e comprei umas parada pro menó, depois pude comprar uns bagulho da hora pra minha mulher e manter a casa. Quando menos esperei eu já era gerente geral, podia ajudar minha mãe e minha sogra, e ainda sobrava dinheiro. Pai dela nunca ajudou em nada, só sabia encher a cara e arrumar confusão.

Guardei um bom dinheiro e comprei uma casa melhor, comprei um carro e pude até dá um rolê em Angra com minha família. Bagulho foi só fluindo, e hoje é nós que tá! Só lazer mermo e muita benção. Mando em tudo e mais um pouco.

Meu guri tá grande, cheio de saúde e minha mulher tá mais linda a cada dia que passa, eu fico mó feliz mermo vendo tudo o que conquistei e sei que sem eles eu não tinha conseguido nada disso.

"Ah, mas é pq quis conseguir da forma mais fácil", "tá no crime é pq quer e não pq não teve opção", "tinha emprego sim, era só procurar", já ouvi muito essas frase, pô. Sem neurose, se eu tivesse outra opção ou outro trampo pra mim eu num tinha feito nada disso, pq essas parada também não foi fácil, tá ligado? Me arrisquei, passei noites e noites acordado em plantão fazendo a segurança do morro, peguei esculacho de nêgo que pensava que só pq tava numa patente mais alta no tráfico ele era melhor que eu.

Quem tentou me derrubar hoje em dia trabalha pra mim, é, tá ligado. A vida é sinistra!

Wesley/ Talibã - 30 anos

Wesley/ Talibã - 30 anos

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Eu, o Morro e ElaOnde histórias criam vida. Descubra agora