Por mais que eu tenha insistido, a médica que está cuidando de mim não me deixou sair do quarto para ver John. Ela disse que eu estou em observação e que no dia seguinte, se tudo der certo, eu vou ter alta, então me pediu para descansar. Fico chateada. Mas Nina teve a ideia de visitar ele e me fazer uma chamada de vídeo, então isso me deixa mais tranquila.
Com o coração saindo pela boca, fico só olhando para o celular nas minhas mãos, que tremem, imaginando como o homem que amo pode estar no momento. Isso acaba me atrapalhando quando vejo a ligação. Quase deixo o celular cair, mas consigo segurar e atender.
- Oi, Cat. - Minha amiga aparece na tela. - Os pais do John estão aqui. Eles querem falar com você.
- Tudo bem. - Assinto. - Oi, senhor e senhora Stirling.
- Oi, querida. - A mãe de John começa a chorar. - Ficamos muito felizes com a notícia de que você acordou. Desculpe por não termos ido até aí ainda. Estamos tentando tirar mais informações dos médicos sobre o Grayson.
- E o que disseram? Eu só quero que ele fique bem.
- Nós também, Cat. - O senhor parece cansado ao falar. - Eles fizeram alguns exames para saber melhor, então ainda não sabemos dizer objetivamente se ele está bem ou não. Mas pelo que parece está fora de perigo, graças a Deus.
- Que bom. - Sinto vontade de chorar de alívio. - Eu quero muito ver ele, mas ainda não posso sair do quarto.
- Tem razão. Vamos deixar você ter privacidade com ele enquanto vamos ver se os resultados dos exames estão prontos. Nós te avisamos no caso de estarem.
- Obrigada. Eu sei que ele vai ficar bem. Vamos nos manter positivos e fortes.
Nos despedimos e Nina pega o celular de volta. Ela vira a câmera e me dá uma visão de corpo inteiro do John. Quando o vejo, com o braço e a perna enfaixados e um curativo na testa, sinto meu coração murchar. Sei que o único culpado é o motorista do caminhão. Mas, será que, se a gente não estivesse discutindo, se ele não tivesse tão bravo, poderia ter evitado o acidente?
- Ele está tão machucado, amiga. - Pressiono meu lábios um no outro, tentando segurar as lágrimas. - O que eu vou fazer se o pior acontecer? Eu não quero viver num mundo sem ele. Não quando eu já me acostumei a ter o John na minha vida de novo.
- Não fala besteira, Catherine. - Escuto ela fugar e a imagem no celular treme um pouco. - Você não vai perder ele. Ninguém vai. O John está machucado, mas está vivo, e vai continuar assim por um bom tempo. Daqui a algum tempo, vamos nos lembrar disso e ver o quanto estamos mais fortes. Só temos que aguentar um pouco mais.
Um pouco mais? Quanto tempo é isso? Essa é minha única preocupação.
O meu "pouco mais" chega ao meio dia do dia seguinte. Eu tenho alta e me permitem visitar o John, finalmente. Ele ainda está dormindo porque os médicos acham melhor dar um tempo a mais para seu corpo descansar e se recuperar depois de tudo o que passou. Mas os resultados dos exames estão normais, então, aos poucos, vão diminuir a medicação.
Me sento na cadeira ao lado dele e digo a seus pais que vou ficar ali até eles voltarem de casa. Eles precisam descansar um pouco e tomar um banho. Pelo que me disseram eles não conseguem nem comer direito enquanto estão aqui, mas eu os convenço, falando que o filho deles não vai gostar de acordar e ver que eles estão deixando de lado a própria saúde para cuidar dele, sendo que não há nada mais a fazer além de esperar.
Minhas palavras parecem convencer os dois. Mas, quando eles saem e eu fico sozinha, é difícil me convencer também.
- Oi, John. - Toco a mão dele e entrelaço nossos dedos. - Quem você acha que é, hein? A bela adormecida? Você me deixou muito assustada, então não pense que vai ser fácil pra você quando acordar. - Suspiro. - Mas, se você acordar logo, eu prometo nunca mais discutir por coisas bobas, mesmo que esteja com muita raiva. Então, fica bem logo, tá? Eu preciso de você bem e saudável.
Apoio minha testa na mão dele e fecho os olhos. Acho que nunca pensamos que coisas assim podem acontecer, mas quando acontecem nos fazem pensar em muitas coisas, nos arrepender de muitas coisas. Quando ele acordar, eu não quero mais ter arrependimentos.
- Será que você está me escutando, mesmo dormindo? - Levanto da cadeira e sento sobre a cama. - Eu queria te falar algo que acho que nunca te disse antes. - Olho para nossas mãos juntas. - É sobre o nosso primeiro encontro. - Faço uma pausa. - Bom... A noite em que nos vimos pela primeira vez, na verdade. Você já me perguntou o motivo do meu interesse por você, lembra? - Olho para o rosto dele. - E eu disse que me apaixonei pelo seu sorriso bonito. - Sorrio, me lembrando e querendo ver o lindo sorriso dele mais que tudo. - Isso é verdade. Mas, o que realmente fez eu me apaixonar por você, foi seu cuidado comigo, mesmo não me conhecendo. - Desenho um coração imaginário na mão dele, com a ponta do indicador. - Eu já li muitos romances de época. Sei que lugares escuros podem ser perigosos para moças sozinhas, infelizmente, isso é algo que nunca mudou. Mas, eu não me senti ameaçada com a sua presença naquele dia, mesmo estando sozinhos. Você me fez sentir confortável apenas com algumas palavras trocadas. Então sorriu. E virou meu mundo de cabeça pra baixo. Será que você sabe disso? - Meus olhos queimam com as lágrimas não derramadas. - Se não sabe, eu vou fazer questão de falar e mostrar. Mas você tem que acordar primeiro. Por favor.
As lágrimas começam a escorrer pelas minhas bochechas e eu desabo. Aqui, apenas ele e eu, como deve ser. Então me inclino para apoiar minha cabeça sobre seu peito, onde as batidas do seu coração se tornam a minha música favorita.
*
Mais um capítulo pra vocês. Aproveitem. Até o próximo.
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Era Uma Vez... Os Stirling
FanfictionCat está na sua época agora, mas continua com o coração no passado. Numa visita a antiga casa onde morava com John, ela se surpreende ao encontrar um rapaz idêntico a ele. Mas como isso é possível? Seria essa uma pegadinha do destino ou uma outra c...