Capítulo 29

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Eu solto a caneta, ainda tentando entender se escutei bem o que ele disse. Se eu ouvi mesmo o que eu ouvi. Então John desvia o olhar de volta para o filme.

- É loucura, eu sei. - Ele esfrega os olhos. - Deixa pra lá.

- Não, John. - Levanto do sofá e sento sobre a mesa de centro, mais perto dele. Coloco minhas mãos sobre seu braço. - Isso não é loucura. Eu sei melhor que ninguém. Nós sabemos.

- Como assim? - Ele olha pra mim de testa franzida.

- Eu posso te falar. Mas tem que prometer que não vai me achar maluca. - Ele assente. - Acho que suas memórias estão voltando ao poucos, então, mesmo se achar que estou delirando, em breve você vai saber que é verdade.

- Assim você tá me assustando. - Sua mão vai até a minha. - Sobre o que é essa coisa que tem que me contar?

- Sobre a primeira vez que nos vimos de verdade. Não nesse tempo, mas em outro.

- Em outro tempo? - Uma ruguinha aparece no espaço entre suas sobrancelhas.

- Deixa eu te contar primeiro, então você decide se faz sentido ou não.

Ele concorda, ainda com a testa franzida, então eu começo a falar sobre nossa vida antes. Como nos conhecemos numa sacada em uma noite de baile. Como demoramos a ficar juntos, graças a minha estupidez e as fortes emoções que passamos até finalmente nos casarmos. Falo sobre nossos amigos e nossos filhos.

- Nós tivemos três. Dois meninos e uma menina.

- Tivemos. - John abaixa a cabeça, olhando para o chão. - William, Isabelle e Matthew. - Sorri. - Foi ele quem eu vi naquela lembrança. Mas... - Balança a cabeça de um lado para o outro. Seu olhar parando em mim. - Como isso é possível?

- Nós nunca descobrimos. Mas você sempre falou que foi o destino que nos uniu. - Sorrio. - Nós dois gostamos dessa explicação, então não pensamos muito sobre o assunto. O importante era estarmos juntos.

- É mesmo uma boa explicação. - Ele sorri, me olhando bem nos olhos. - Eu espero que possa me lembrar de tudo o mais rápido possível. É agonizante não saber de praticamente nada do que passamos. - Balança a cabeça. - E, sim, parece loucura. Mas muitas das coisas que você disse estão gravadas na minha memória. Eu me lembro delas. E não acho que seja possível duas pessoas terem as mesmas alucinações.

O comentário acaba me fazendo rir.

- Acho que não. - Olho pra nossas mãos próximas e levo a minha até a dele, entrelaçando nossos dedos. Percebo seu olhar nelas também. - E, eu sei que você pode não se afetar com o que vou dizer, mas prometi te dizer quando você acordasse. 

- O que? - Ele entrelaça nossos dedos com mais firmeza. 

- Eu queria te dizer o motivo pra ter me apaixonado por você. - Sorrio.

- Não foi por causa da minha beleza? - Ele sorri também. Aquele sorriso que faz meu coração pular várias batidas. 

- Também, claro. Como eu poderia não me apaixonar por esse rostinho lindo? - Toco a bochecha dele e parece que seus olhos estão prestes a se fechar. A esperança em mim cresce um pouco mais, então continuo. -  Mas o que me fez ter certeza de que em breve perderia meu coração pra você foi o seu cuidado. O seu sorriso. - Toco os lábios dele com a ponta dos dedos e vejo o movimento em sua garganta quando ele engole em seco. Seu olhar nunca me deixando. - E depois, vendo você com sua família. O seu amor pelo seu primo. A forma como nunca desistiu de nós dois mesmo quando eu não queria aceitar. Tudo isso me fez te amar ainda mais. - Pressiono meus lábios um no outro. - Você não desistiu da gente antes, então sou eu quem vai lutar por nós agora. 

Era Uma Vez... Os StirlingOnde histórias criam vida. Descubra agora