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Franco Colucci estava tomando mais uma colherada da canja de galinha insossa que o hospital lhe trouxera para o jantar quando a porta de seu quarto se abriu e a menina de seus olhos entrou.

"Minha filha!" O rosto de Franco se iluminou, seus olhos brilharam e ele esticou o braço para que ela segurasse sua mão.

"Ai, Daddy!" Ela exclamou, a voz embargada. Mia entrelaçou seus dedos com o de seu pai e beijou a mão dele. "Eu tava morrendo de preocupação, como você tá? Tão cuidando bem do senhor aqui?"

"Estou ótimo minha filhinha, foi só um susto. A Josy está me fazendo companhia, mas ela saiu rapidinho pra atender uma ligação. Você está tão linda minha princesa—Eu estava com saudade."

"Ah pai, eu também, muita saudade. Vocês nem foram me visitar nas férias..."

"Completamos 20 anos de casados, Mia. A gente quis fazer um programa mais de casal—e Alma sempre teve o desejo de ir às ilhas gregas."

"Tá certo, eu entendo. Fico feliz de te ver tão bem disposto."

Mia observou o rosto de seu pai. Ele estava bem mais velho do que ela se lembrara. Os cabelos agora estavam ficando mais brancos do que cinza. Ela reconheceu nos olhos de Franco um toque de preocupação e imediatamente fez bico como se ainda fosse uma adolescente.

"Por que não me conta o que está afligindo essa cabeça dura, aí?"

Franco suspirou, sabendo que não adiantaria desviar do assunto.

"Filha, não tenho mais condições de tocar a Colucci—não aguento mais o pique das viagens, do processo criativo que já nem me interessa mais e eu também não quero passar meus últimos dias preso àquelas reuniões intermináveis e resolvendo problemas. A médica também disse que eu preciso parar, se não o próximo infarto poderá ser fatal."

"O senhor reconhece então que já está na hora de se aposentar? Porque Alma e eu estamos martelando isso na sua cabecinha Colucci há muitooo tempo, Daddy."

"Eu sei filha, eu sei. Acho que eu não me sentia pronto antes—não trabalhar seria como desistir da vida e virar mais um aposentado desocupado, aquilo me enlouquecia... Mas aí pensei na viagem tão boa que Alma e eu fizemos juntos e as viagens para visitar você, visitar Roberta... Se eu me aposentar vou poder curtir minha família mais e poder viajar não a trabalho mas por prazer."

"O senhor vai chamar o tio Marcello pra assumir?"

"Não filha. Marcello não é de confiança, nem ele e nem Carlo aquele outro sem-vergonha. Eu confio apenas em você... E no Miguel."

Aquele nome fez com que soassem os alarmes e sirenes na mente de Mia. Seus olhos azuis que já eram grandes se arregalaram.

"O Miguel, Papai?"

"Ele é extremamente competente, filha, e é alguém em quem posso confiar. Roberta não tem menor interesse nos negócios e Josy está tão realizada com sua carreira nos esportes... Eu andei sondando Miguel nos últimos tempos, mas não cheguei a propor nada a ele."

Mia não sabia como responder àquilo. Ter seu ex-noivo como CEO do braço mexicano de sua empresa significaria ter que conviver com ele mesmo que em nível profissional frequentemente. É lógico que Miguel era capacitado, mas ela não sabia se conseguiria aceitá-lo de volta em sua vida.

Mia amara muito Miguel, mais do que a qualquer outro homem. Quase quinze anos se passaram, mas as marcas daquele amor ainda não haviam se cicatrizado em seu coração—sua terapeuta que o diga.

"Papai, e se eu assumir? Tio Marcello já é VP na Europa."

"E arruinaria todo o seu trabalho de anos, Mia! Você fez a Colucci crescer de uma maneira que eu jamais pensei possível. Você tirou nossa empresa do fundo do poço e nos alavancou ao patamar das maiores do mundo. Quando penso que competimos com Zara, e H&M..."

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