Volverlo a Intentar

14

Eu sei que o último capítulo foi difícil e até mesmo um pouco decepcionante. Muitos se chatearam com as palavras da Mia... Não me odeiem e não odeiem à personagem, please! 

Não foi fácil escrever o 13 e eu cheguei até a pensar em deletá-lo e reescrever a história, mas acredito que apesar de tantos obstáculos e mágoas do passado, há ainda esperança, e é isso que o capítulo de hoje pretende demonstrar. Não é fácil perdoar, aceitar e ter que ainda reconstruir uma relação, mas não quer dizer que não seja impossível.

Desfrutem!

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Mia segurava o volante do carro como se a sua vida dependesse daquilo. Os nós de seus dedos estavam brancos com a força que fazia, mas por algum motivo não conseguia dar partida. Ela estava a poucos metros da casa de Miguel, ainda dentro do condomínio, seu carro havia morrido por falta de combustível. Na pressa de chegar ontem ela não havia sequer lembrado de passar em um posto.

Ela ficou parada ali um bom tempo, o peito ainda acelerado e as bochechas quentes. Ela respirava com dificuldade, parecia que não conseguia encher os pulmões... Um medo de morrer assolou sua mente. As lágrimas que ela tanto evitara derramar na frente de Miguel agora rolavam por suas bochechas. Ela não sabia quanto tempo havia ficado ali parada, em frente a uma enorme casa amarela.

Ela mirava o volante, sua visão ficando turva pelas lágrimas e pelo desespero de não conseguir respirar. De repente, ela ouviu leves toques contra o vidro do seu carro e se assustou. Pensou por um milésimo de segundo que poderia ser ele. Ela tinha medo que fosse ele. Medo de ele ver que aquelas palavras que ela dissera no quarto eram a mais pura mentira ou medo de que ele lhe dissesse palavras ainda piores e a odiasse para sempre.

O fato é que ela acordara aquela manhã com a plena certeza de que ainda era perdidamente apaixonada por Miguel Arango—que morreria por ele, que jamais se entregaria a nenhum outro homem como ela se entregava a ele. A noite que passaram juntos foi linda, intensa, passional e louca numa perfeita proporção que não fazia o menor sentido.

O terror que aqueles sentimentos despertaram nela foram tão grandes que um inexplicável instinto de autodefesa entrara em ação. Enquanto ela se banhava vendo ali os shampoos, o sabonete com o cheiro característico dele, sua loção de barbear e seu perfume sobre a bancada da pia ela conseguia imaginar as coisas dela ali também, ocupando aqueles espaços. Sua escova de dente ao lado da dele; seus perfumes caros e suas maquiagens espalhadas sobre a pia; Ela pôde imaginar os dois ali lado a lado todas as manhãs escovando os dentes na correria de chegar ao trabalho e deixar os filhos na escola.

Mas nessa visão ela estava diferente. Ela não era a Mia de hoje com os cabelos mais escuros, com a expressão mais séria, olhar mais duro. Ela era aquela menina que foi—a menina que sonhou se casar com aquele menino de véu e grinalda numa esplêndida igreja. Uma menina que queria ter quatro filhos: duas meninas e dois meninos, quatro cópias perfeitas deles dois. Uma menina alegre, cheia de entusiasmo, que tinha os ombros leves porque era amada, porque havia conquistado tudo o que sempre quis. E ele também era leve, sorridente e bonito—Miguel sempre fora bonito para ela—e ele a olhava com total entrega e amor. Ela o imaginou carinhoso com aquela Mia que ela foi ali no espelho. O jeito singelo que ele dava um beijinho em seu ombro, deslizava a mão por suas costas... A maneira terna com que ele demonstrava que a queria...

Os sonhos do passado bateram à sua porta e com eles veio a terrível constatação de que aquilo tudo era exatamente isso. Sonho, não realidade. Ele não era mais aquele menino e Mia com toda certeza não era mais aquela menina pura e ingênua.

Toc, toc, toc.

As batidas na janela do carro de novo. Mais fortes e rápidas desta vez. Uma senhora a olhava com uma expressão preocupada.