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Sábado de manhã

Cidade do México, CDMX


Miguel acordou com o primeiro raio quente de sol penetrando o fino algodão da sua camiseta de dormir e praticamente queimando a pele de suas costas. Era o único—e pequeníssimo—incômodo que sentia, já que a simples presença dela ali em seus braços, tão macia e relaxada, com aquele cheiro de shampoo e perfume, dominavam todos seus outros sentidos. Ele puxou Mia ainda mais para perto com cuidado para que ela não despertasse.

Mas então ele sentiu ela se mexer, primeiro de leve, emergindo gradualmente de um sono profundo. E então, ele sentiu o delicado toque dos dedos dela acariciarem o seu antebraço e depois entrelaçar seus dedos com os dele.

"Bom dia, meu amor." Miguel sussurrou no ouvido dela, plantando um beijo delicado no ombro dela.

"É aqui o tal do paraíso?" Ela perguntou, a voz mais rouca do que o normal.

"É sim," Ele a beijou no ombro novamente e sentiu Mia se soltar de seu braço e se virar de frente pra ele. Miguel riu e passou a mão nos cabelos dela, os afastando do rosto.

Como que aqueles olhos podiam ficar ainda mais azuis? Ele não fazia ideia, só sabia que estavam ainda mais celeste, límpidos e enormes, e o fitavam com uma ternura que o fizeram sentir-se totalmente vulnerável. O coração dele deu um pequeno salto no peito, tal qual a sensação que se sente logo antes da descida quase-mortal de um kamikaze.

"Que foi que você me olha tanto?" Mia perguntou, franzindo o cenho.

"É só que você é ainda mais linda quando acorda..."

Mia jurou que o viu corar. Ela sorriu de canto e se aconchegou no peito dele como um gatinho manhoso.

"Você tá todo meloso hoje..."

"É que eu tô feliz—e apaixonado. Muito apaixonado."

Mia se afastou um pouco e o encarou de novo, sua expressão mais séria e introspectiva agora. "Eu juro que nunca vou entender porque você quis terminar. Era pra tudo ter sido diferente. Era pra gente ter sido uma família muito antes."

"Eu sei, Mia." A voz dele estava tão baixa que às vezes sumia e Mia viu lágrimas encherem seus olhos. "Você é a única mulher que eu amei na minha vida. Só você me faz sentir assim..." Miguel tomou a mão dela, beijou a palma e colocou sobre seu coração acelerado. "Eu nunca mais vou te deixar, nunca mais vou te afastar de mim, eu nunca mais vou te magoar como eu magoei."

Foi a vez dos olhos dela se encherem d'água. "Sabe, Miguel, ninguém nunca me fez sofrer como você, mas também nunca ninguém me fez tão feliz também. E eu me sinto, embora esteja morrendo de medo, feliz. Feliz de verdade."

"Te amo," ele sussurrou pra ela, beijando a pontinha do seu nariz. "Te amo, te amo, te amo." Ele encostou os lábios nos dela, arrancando um beijo delicado, suave, meio molhado.

Momentos depois ela o afastou, as bochechas quentes, rindo que nem criança travessa.

"Ah, não! Tá ridículo isso—meloso demais até pra mim. Hora de levantar e cuidar da vida." Ela deu um pulo da cama e puxou os lençóis de cima dele, o deixando com frio.

Miguel franziu o nariz e riu de leve ao vê-la desaparecer para dentro do banheiro. Ele olhou a hora no celular, eram sete e meia. O corpo dele ainda estava cansado pela semana longa e atribulada e apesar da claridade que irradiava pelo quarto, ele se permitiu adormecer novamente.


"Lila?" Mia falou baixinho ao espiar para dentro do quartinho da menina que estava na penumbra devido às cortinas cerradas.

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