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Milão, Itália

28 de Dezembro de 2022


Mia Colucci acordou num sobressalto, o toque alto do seu telefone a fazendo despertar e perceber que havia adormecido no sofá. Seu pescoço doía e ela sentia o corpo pesado devido ao cansaço e algumas tacinhas de vinho a mais.

Tateou no escuro entre as várias almofadas, procurando pelo aparelho maldito e escandaloso, quando enfim encontrou-o no bolso de seu casaco, jogado no tapete.

"Alô?" Respondeu, com a voz mais rouca do que o costume por ter sido acordada.

"Mia, querida... O seu pai..." Mia só teve tempo de registrar a voz chorosa de sua madrasta, Alma Rey. Sentiu um frio invadir seu estômago, uma sensação de horror irradiando dentro de si. O coração foi a mil.

Mia correu do sofá, o frio fazendo os pelinhos dos braços se arrepiarem enquanto procurava o interruptor. O horário no celular dizia que eram três da manhã, o sol estava longe de raiar, ainda mais sendo inverno.

"O que houve, Alma, pelo amor de Deus?" Sua vez era de medo e desespero.

"E-estamos no hospital, Franco teve um ataque cardíaco. Ele foi à cozinha preparar um chá e quando demorou muito, fui procurar... Ele estava caído no chão, Mia!" Alma soluçava agora e Mia pôde ouvir a voz tranquilizadora de Josy ao fundo, tentando fazer com que Alma se acalmasse.

"Mas ele–ele vai ficar bem né?" Mia nunca sentira tanto medo de receber uma resposta.

Escutou ruídos ao fundo, que a deixaram ainda mais nervosa, até que a voz de Josy Luján soou ao telefone.

"Ele já está em situação estável, Mia, graças a Deus. Os médicos estão fazendo exames pra descobrir a origem do infarto já que ele tomava os remédios direitinho. Pode ser que seja necessário um cateterismo. De qualquer forma Franco ficará internado na UTI por alguns dias. Só poderemos visitá-lo amanhã de manhã."

"Josy, por favor, me mantenha informada. Eu–olha, eu juro que vou pegar o primeiro vôo que encontrar para o México. Por favor me mantenham informada!"

"Claro que sim, Mia, não se preocupe... A gente vai se falando. Acho que vou pedir pra aplicarem um calmante na Alma, não é possível. Vou ligar pra Roberta agora, não sei se ela está na cidade..."

"Ok. Por favor, fala pra Alma que eu mandei um beijo pra ela, que estarei rezando daqui."

"Ela tá te ouvindo. Tchau, Mia!"

Josy encerrou a chamada e imediatamente Mia abriu o skyscanner para pesquisar passagens aéreas. Ao encontrar uma passagem que saía às 11h, comprou imediatamente, sem agendar o retorno, e em seguida enviou um email à sua secretária e ao seu tio Marcello, que era VP da Colucci Europa.


Cidade do México, CDMX

Horas depois

Alma Rey entrou na UTI vestida com um blusão hospitalar descartável. Passou álcool em gel nas mãos e respirou fundo, seguindo a enfermeira plantonista até seu marido, onde a médica avaliava seus vitais. Franco havia passado por uma cirurgia de cateterismo e finalmente estava se despertando da anestesia. Logo que o viu, ligado ao soro e à máquina que registrava sua pulsação, Alma foi tomada por uma vontade de chorar.

"Sra. Colucci, não se preocupe, seu marido já est'a se recuperando. Estamos otimistas de que amanhã mesmo ele saia da UTI e vá para um quarto privativo, assim a senhora e sua família poderão acompanhá-lo melhor," disse a médica responsável.

"Olha, muito obrigada, Doutora. Só Deus sabe o pavor e o desespero que senti ao encontrá-lo agonizando no chão lá de casa... Por favor me diga que ele está fora de perigo, por favor!"

"Olha, senhora, isto é uma coisa que não pode ser totalmente garantida. O seu marido tem pressão alta e foi fumante por muitos anos, além disso tem a questão da idade... Mas, não há dúvidas que com uma mudança em sua rotina e estilo de vida isto possa ser revertido."

"Meu marido é um workaholic, sempre foi. Muitas reuniões, viagens, inúmeros estresses para resolver..."

"Senhora, o seu marido já tem uma certa idade, não é? Não seria a hora dele se aposentar e viver uma vida mais sossegada?"

Alma suspira e acente com a cabeça.

"Eu venho tentando convencê-lo há anos, Doutora, há anos! Mas o meu culote é um cabeça dura... E olha pra ele agora. Escapou da morte. Eu quase perdi meu grande amor!" Alma acaricia os cabelos grisalhos do marido que ainda estava sedado ao dizer isso. "Mas olha, pra mim foi a gota d'água. Estamos esperando minha enteada chegar da Europa e teremos uma reunião de família, as coisas terão que mudar daqui para a frente, ou eu não me chamo Alma Rey!"

As notícias sobre o estado de saúde de Franco Colucci se espalharam rapidamente entre amigos, funcionários da Colucci e foi até divulgado nos jornais do país. O celular de Alma bem como o telefone residencial que ainda possuíam não paravam de receber chamadas.

Na mansão em que Alma e Franco viviam, Josy e Roberta tentavam administrar tudo aquilo com a ajuda de Mayra, que após a morte de Peter anos atrás assumira o posto de governanta dos Colucci.

Roberta desligou a mais recente ligação de se afundou no sofá bufando.

"Josy, que horas a Mia falou que ia chegar?"

"Ela chega no início da noite. A essa hora deve estar sobrevoando o atlântico... Vai ter conexão em Miami ainda."

"Vou pedir pro Diego buscá-la, aproveitando que o Léo tá com a vó Mabel hoje. Nossa, minhas costas estão quebradas de passar a noite naquele hospital com mamãe."

Roberta mal terminou de falar e o telefone da casa tocou novamente. Ela revirou os olhos e atendeu.

"Residência dos Colucci Rey, quem deseja?"

"Roberta? Sou eu, Miguel. Eu soube do Franco—como ele está?"

"Miguelito, quanto tempo! Olha, o Franco tá estável, teve que fazer um cateterismo mas amanhã já passa para o quarto. A mamãe tá com ele no hospital agora e depois do almoço a Josy vai pra revezar."

"Olha, podem contar comigo para o que precisarem, você sabe Roberta, o Franco é como um pai pra mim, mesmo depois de tudo que rolou entre a Mia e eu, a gente nunca parou de se falar."

"Eu sei Miguel, meu padrasto te adora—olha, não sei bem como vão ficar as visitas para os próximos dias, a Mia chega hoje a noite e com certeza vai querer ir direto pro hospital."

"Ah, ela tá vindo então?"

"Pois é! Só uma situação de vida ou morte pra fazer a Barbie dar o ar da graça por aqui novamente. Mas olha, você tem meu número, certo? Vou te colocar no grupo do whatsapp e assim te mantenho informado."

"Tá bem, Roberta, muito obrigada minha amiga. E você? Tá bem?"

"To bem sim, estamos de recesso por conta das festas e do ano novo. Em Fevereiro voltamos pra Madrid para retomar os trabalhos. Estamos com novos talentos na gravadora e olha, o futuro tá bem promissor, Miguelito. E você, amigo? Faz tempo que não nos vemos! Que tal a Lila?"

"To bem, Roberta, na mesma pra ser sincero. Qualquer dia sai a sentença do juiz sobre a adoção, tô que não durmo de tanta ansiedade. Fora isso, trabalhando muito—a vida sem graça de sempre."

"Eu te amo, amigo, e eu sei que você é um ótimo pai—com certeza essa adoção vai sair e todo esse sofrimento vai ser só uma lembrança distante. Para de sumir, Arango!"

"E você pare de ser doida, Roberta!"

Os dois se despedem e Roberta encerra a chamada com um sorriso no rosto. Josy a encara com o olhar de desconfiada de sempre.

"Será que teremos um reencontro Mia e Miguel em breve?"

"Só espero que não dê início à terceira guerra mundial!"

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Bjs, Beatriz

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