Volverlo a Intentar

21

"Que tal um vinho?" Miguel sugeriu, após se despedirem de Roberta e Diego. Os dois haviam insistido para que fossem jantar em algum lugar, mas Mia preferiu deixar para outro dia. Elena Arango fora a primeira a se despedir após a cerimônia, ela já estava atrasada para seu vôo de volta a Monterrey e Dr. Treviño de oferecera de levá-la.

Haviam alguns assuntos pendentes entre Mia e Miguel—ela sentia isso fortemente após a montanha-russa de emoções que fora esse dia, e de alguma forma captava o mesmo sentimento vindo dele. Uma tensão havia se instalado nos ombros dele, que estava quieto e pensativo, com as mãos enterradas dentro dos bolsos da calça Armani.

Miguel estava simplesmente lindo e sexy naquele terno azul-escuro, mais do que o normal. Mia precisava urgentemente que ele tirasse aquele terno e colocasse um moletom sujo e muito surrado e uma camisa quase-puída pra ver se passava um pouco essa vontade de percorrer aquele corpo másculo e forte dele com seus dedos, unhas, língua e lábios.

"Aceito o vinho se não for chileno." Ela falou finalmente, sorrindo de canto para ele.

Já havia anoitecido e o céu estava com um profundo tom de índigo. O vento frio a fazia se descabelar e os pelinhos dos braços se arrepiarem.

"Ciumenta," ele brincou, rindo um pouco enquanto apertava o alarme do carro para que as portas se abrissem.

"Tô com fome, você não tá com fome?" Ela perguntou ao deslizar para dentro do carro, acomodando-se no macio banco de couro.

"Olha, eu tô com uma fome do cão. No caminho de casa tem um restaurante japonês novo—anima?"

"Eu tava querendo uma coisa mais... Não sei, temperada? Forte?"

"Tacos então? Taquitos de trailer?" Ele sugeriu com uma risada. Mia assentiu com um sorriso. Tacos definitivamente não eram sofisticados ou possíveis de serem comidos sem a pessoa se lambuzar todo de óleo vermelho de temperos. Mesmo assim, era o que ela desejava desesperadamente naquele momento. Uma coisa simples, sem cerimônias e de preferência com uma pimenta bem ardida. "Sério, Mia? Tacos? Nesse vestido aí?"

"Sim, Caipira, tacos de trailer! Sou uma mulher moderna, despojada..."

"Bom saber que não vou ter que aturar mais a culinária francesa." Ele disse a cutucando, fazendo cócegas na cintura dela enquanto dirigia. Mia se contorceu e esquivou das cócegas em seu assento.

"Saiba que tem algumas coisas francesas que são gostosas e enchem a barriga também, viu. Um dia vou fazer ratatouille pra você e pra Lila. E quiche. Sou ótima nos quiches."

"E quando foi que a senhorita aprendeu a cozinhar?"

"Morando sozinha. E também o Cesare me ensinou muita coisa. Ele vem de uma linhagem de chefs. A mãe dele é siciliana e a Nonna é literalmente bolonhesa... Quando se aprende o básico é fácil começar a experimentar novas receitas."

"Você—" Ele carraspeou, "você ainda tem contato com ele?" Miguel perguntou, os olhos atentos às sinalizações de tráfego para não ter que olhá-la. Ele tinha um pouco de medo da resposta—o relacionamento de Mia com Cesare fora de vários anos e foram até noivos antes de cancelarem o casamento misteriosamente.

"Não nos falamos há dois anos. Tivemos uma recaída, por assim dizer, antes da pandemia, mas não deu certo. Depois as coisas ficaram mais sérias com o Antoine e, bom, Cesare até onde sei vive em Nova York agora. Antoine e eu nos separamos ano passado... E agora estou aqui com você, não estou?"

Miguel engoliu em seco. Mia não era do tipo que levava seus relacionamentos assim com tanta naturalidade quanto aparentava, o que o fazia pensar que o buraco era mais em baixo com relação ao italiano.